Flávio Gomes de Barros
Já se defendeu a descriminalização das drogas como forma de reduzir o poder dos traficantes e a violência. Esse trem já saiu da estação. O tráfico hoje é apenas uma das inúmeras fontes de renda do crime. Está presente em atividades 'legais' pelo País todo; das favelas à Faria Lima, do botijão de gás aos combustíveis, tá tudo dominado.
Nas comunidades, os bandidos se apropriaram da prestação de serviços básicos, como energia, transporte ou telefonia. A violência armada obriga o fechamento de escolas e postos de saúde. Só no conjunto da Maré, no Rio de Janeiro, o número de dias sem aulas aumentou 48% este ano.
Mantida essa dinâmica, ao final de sua trajetória na Educação Básica, um aluno pode perder o equivalente a um ano letivo. As crianças ou ficam sozinhas ou os pais perdem dia de trabalho, ficam sem a merenda escolar e acumulam traumas com consequências sobre saúde mental e emocional.
E é pela cidade toda: as unidades de saúde do município fecharam 516 vezes este ano por problemas de segurança. Direitos básicos de cidadãos são ignorados. Até mesmo o de ir e vir: 40% da população vive atrás de barricadas impostas por facções. A caminho do trabalho, ônibus são queimados e tiroteios em via pública são frequentes.
Há muitos anos, um secretário de Segurança do Rio dizia conformado: 'Consigo, no máximo, deixar eles longe do asfalto”. Hoje não mais.
É no Rio e no País todo. Nos bairros nobres, quem pode se esconde atrás de grades e de vidros blindados. As cidades estão tomadas pelas luzes verdes das câmeras. Abrimos mão da privacidade em troca de uma falsa sensação de segurança. Em lugar de bom dia, seu vizinho alerta “guarda o telefone, acabaram de assaltar duas pessoas na esquina”.
Moradores de Uiraponga, no Ceará, foram expulsos de suas casas pelas facções. Virou uma cidade fantasma. Empresários correm risco de ir para prisão por conta de uma cadeia de fornecedores que lhes parecia legítima. Trabalhadores perdem seus celulares e bares estão vazios por medo do metanol que saiu da gasolina para os drinks.
Todos os dias criminosos com dezenas de anotações são devolvidos às ruas. Apenas um terço dos homicídios são esclarecidos. A normalização desta situação choca.
A violência é disparada a maior preocupação da população. E há anos. A reação tardia dos governantes, com PEC da Segurançae combate à lavagem de dinheiro, é recebida com justificado ceticismo. O fato é que o Estado falhou. Soberania?
Traficante, facção, milícia, crime organizado, não importa a nomenclatura, o brasileiro quer andar tranquilamente pelo país onde nasceu."
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