Flávio Gomes de Barros
Jornalista Felipe Moura Brasil:
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"Populistas buscam enobrecer seus interesses particulares, embalando-os retoricamente como causas de interesse público, a fim de arrebanhar o apoio dos crédulos.
Foi assim que a luta pela impunidade de Lula na Lava Jato se tornou uma 'defesa do Estado Democrático de Direito', nunca antes objeto de preocupação da esquerda lulista, conivente com ditaduras amigas e esquemas de suborno, como mensalão e petrolão, que fraudavam a democracia. É assim, também, que os esforços do lulismo para controlar as redes sociais se amparam no 'combate à pedofilia'.
Tem sido assim, ainda, que ministros do Supremo Tribunal Federal vêm posando de defensores do 'regime democrático', enquanto mantêm e comandam o funcionamento da República do Escambo, que solapa a independência entre os Poderes; invadem a competência do Legislativo, solapando também a separação entre eles; e censuram reportagens, redes sociais, indivíduos e empresas, como fazem regimes totalitários.
Foi assim que a família Bolsonaro fez da sabotagem da CPI da Lava Toga em 2019, em plena escalada autoritária do STF, uma busca pela 'harmonia' entre os Poderes; e não por decisões e votos favoráveis de Dias Toffoli e Gilmar Mendes a Flávio, então investigado por peculato. Da mesma forma, os esforços para evitar a prisão definitiva de Jair Bolsonaro no caso da trama golpista de 2022 agora se travestem, em 2025, de luta pelas 'liberdades'.
Qualquer observador capaz de olhar de fora as narrativas da bolha bolsonarista compreende que a concentração de poder e o autoritarismo nunca haviam sido objeto de preocupação de um ex-presidente apoiador da ditadura militar e disposto a melar o resultado da eleição perdida, com o apoio — buscado por ele, mas duplamente recusado — das três Forças Armadas.
A ideia de que possa haver diferentes graus de condutas repudiáveis — como informalidades, inadequações, descuidos, erros propriamente ditos, desvios éticos, violações, abusos e crimes — só é concebível quando se acumulam provas contra o próprio lado e se faz necessário relativizar e minimizar as condutas mais graves. Quando se tratam dos atos supostamente cometidos pelo outro lado, aí eles são gravíssimos, mesmo em casos não provados.
Foi assim que o conteúdo não autenticado de mensagens roubadas por hackers, em violação criminosa de celulares, virou não um material ilícito sobre comunicação informal, tamtas vezes praticada entre inistros do STF, mas prova inconteste de 'conluio' contra acusados de corrupção e lavagem de dinheiro, explorada em efeito dominó de impunidade geral, mesmo sem qualquer evidência de fabricação das provas lícitas que embasaram as denúncias.
Atualmente se tem, ao mesmo tempo, a classificação tortuosa feita por Alexandre de Moraes de 'descumprimento de medida cautelar' por Jair Bolsonaro, ao determinar a prisão domiciliar do ex-presidente após falas públicas antes autorizadas; e a crítica do pai da Lei Magnitsky, William Browder, à sua aplicação ao ministro do STF que, segundo o investidor britânico, 'não se enquadra em nenhuma dessas categorias' de 'violadores graves dos direitos humanos e cleptocratas'.
De outro lado, se ninguém tem força para neutralizar o Exército e se um golpe de Estado consumado elimina a chance de punição judicial, qualquer presidente estaria mesmo livre para consultar os chefes militares a respeito, já que, se eles não aderirem, poderá alegar inocência em razão da não consumação do golpe e, se eles aderirem, a Justiça já não o alcançará?
É preciso, portanto, fugir aos maniqueísmos impostos pela propaganda lulista, alexandrista e bolsonarista, a fim de compreender a realidade em todas as suas nuances e a defesa permanente de princípios enterrados, sem se deixar enganar por aqueles que, diariamente, buscam se limpar na sujeira dos outros, e cuja única coerência é priorizar, a cada situação, suas necessidades escancaradamente pessoais."
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