Texto de Helena Landau:
"Pesquisa recente da Genial-Quaest revelou o que a gente já suspeitava: o descrédito dos brasileiros nas instituições. Só saíram bem na foto a Igreja Católica, a polícia e as forças armadas, seguidas pelos prefeitos e os bancos!
Sim, a Faria Lima pontua melhor que o presidente da República.
Isso se reflete nas redes, nas conversas de zap, nas reuniões familiares onde domina o desânimo. A impotência frente à polarização, alimentada como estratégia de permanência no poder, vai gerando apatia.
Nos extremos de hoje estão os soberanos e os patriotas. São mais parecidos do que querem fazer crer: a mesma agressividade no debate e até mesmo no slogan. O 'Brasil dos brasileiros' e 'O Brasil acima de tudo' ecoam o 'Ame-o ou Deixei-o' dos tempos da ditadura.
De um lado bandeira americana, do outro a cooperação militar com a China. Mas, a população quer saber se vai voltar para casa viva e, de preferência, com celular no bolso, se os sindicatos vão ser punidos e sua aposentadoria devolvida ou o tamanho da fila do SUS.
A pesquisa revela o crescente descrédito no Judiciário. A diferença entre os que confiam e não confiam no STF caiu de 16 pontos em agosto de 2022 para apenas 3. Só a própria Corte pode reverter essa tendência, ouvindo mais e reagindo menos.
Nem sempre a democracia morre por um ataque frontal. Ela pode ir sendo comida pelas beiradas. O fato de os entrevistados confiarem mais nas Forças Armadas do que no Executivo e no Congresso é preocupante. Desde o Mensalão, que a relação entre Executivo e Legislativo vem se deteriorando. A crise das emendas não deveria surpreender.
Do Congresso não vem notícia boa. A pauta é de ataque às agências reguladoras e à lei da Ficha Limpa. Para nossos parlamentares, as instituições devem estar submetidas ao interesse particular, seja para garantir — mais — impunidade ou ajudar o amigo do momento. Não à toa, os partidos políticos são os mais mal avaliados da pesquisa.
Perdem até para juízes de futebol. Não se sabe o que define cada um deles, oposição e situação mudam de ideia conforme a conveniência do momento.
Ora são contra a autonomia do Banco Central, ora a favor, e vice-versa, mas sempre unidos na farra fiscal.
Como dizia o mestre Veríssimo: O futuro era melhor antigamente."