Pesquisa brasileira faz descoberta sobre líquidos de vapes

Publicado em 22/12/2025, às 13h02
- Reprodução / Profissão Repórter

Luana Lisboa / Folhapress

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Estudo feito por pesquisadores da PUC-Rio em parceria com a Furg (Universidade Federal do Rio Grande) concluiu que os líquidos dos cigarros eletrônicos disponíveis no mercado ilegal brasileiro apresentam toxicidade antes mesmo de serem aquecidos, etapa para gerar o aerossol inalado por usuários.

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Publicada na revista Toxicology, a pesquisa é a primeira análise abrangente no país sobre a toxicidade desses líquidos, segundo os autores. As amostras foram obtidas através de doações diretas de usuários e foram categorizadas por informações de rótulo e por sua origem após a coleta: Brasil, China, Europa, Paraguai e Estados Unidos.

O conjunto de substâncias representa materiais disponíveis no Brasil, seja por contrabando, produção ilegal ou após passagem pela alfândega como material para consumo individual.

No país, a comercialização, importação e propaganda de DEFs (dispositivos eletrônicos para fumar) são proibidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2009.

Apesar da proibição, o consumo atingiu seu ponto mais alto desde 2019, quando foi iniciado o monitoramento, segundo dados do Ministério da Saúde.

Os pesquisadores usaram dois tipos de células para testar a toxicidade dos líquidos, expondo-as a diferentes dosagens crescentes: leveduras (Saccharomyces cerevisiae) e células de ratos. Foram avaliados fatores como crescimento, metabolismo e integridade celular, e se o dano é causado por estresse oxidativo.

Os achados demonstraram que a toxicidade dos líquidos é determinada pela concentração e composição química específica do produto, e aumenta conforme o crescimento da concentração em todos os grupos.

Os líquidos de vapes são compostos pelos solventes glicerina vegetal e propilenoglicol, mas também por aditivos como aromatizantes alimentícios, aditivos de sabores, nicotina, agentes que promovem a sensação de resfriamento, dentre outras substâncias. Os pesquisadores encontraram que a toxicidade é inerente aos solventes, e é aumentada pela presença de aditivos.

A exposição das células aos líquidos levou a uma redução na viabilidade celular e na atividade mitocondrial, e a toxicidade foi observada tanto em produtos de países onde a venda é proibida quanto de países onde é regulamentada.

A pesquisa vai de acordo com outros achados, especialmente no que se refere aos mecanismos de toxicidade celular e à composição química dos chamados "e-líquidos".
Como fatores limitantes, os autores apontam a quantidade limitada de amostras (15) e o fato de não ser um estudo clínico, ou seja, não avaliar os impactos especificamente no corpo humano. Novos investimentos já estão sendo feitos para ampliar a pesquisa na área, afirma o autor principal, o químico Carlos Leonny Raimundo Fragoso.

"Estamos hoje estudando o papel dos metais presentes para os líquidos, porque a gente avaliou que os líquidos de material descartável têm uma quantidade altíssima de metal. Então, a gente vai avaliar agora a toxicidade especificamente dos metais, que encontramos e estamos caminhando para fazer um estudo de biomarcadores de cigarros eletrônicos", diz.

A orientadora Adriana Gioda, professora na PUC-Rio, afirma que a pesquisa teve de ser atrasada pela demora dos pesquisadores em conseguirem o aval da Anvisa para o estudo das amostras. "Esse primeiro estudo publicado são só com doações, poucas amostras, mas a gente já viu que pode ter efeito na saúde", afirma.

A baixa quantidade de amostras, acrescenta Fragoso, é devido à triagem severa que teve de ser feita. Os pesquisadores não aceitavam, por exemplo, doações de frascos abertos. No total, foram três amostras advindas de cinco países, o que permitiu com que os estudiosos notassem que a toxicidade não estava relacionada à qualidade dos produtos.

"O produto vendidos nos Estados Unidos tem altíssima qualidade porque tem controle de qualidade na produção, porém, alguns líquidos possuem toxicidade mais alta do que os produtos dentro do Brasil, então a toxicidade ultrapassa a barreira do controle de qualidade, o que mostra que a matéria-prima em si e o cigarro eletrônico tem a sua toxicidade", afirma.

Na avaliação da cardiologista Jaqueline Scholz, especialista no tratamento do tabagismo que não participou do estudo, a pesquisa consegue comprovar que, sendo o produto legal ou não, os DEFs não fazem bem à saúde. O mote de redução de danos em relação ao cigarro tradicional, portanto, seria falho.

"É um estudo nacional e é interessante do ponto de vista metodológico, embora tenha limitação de não ser para humano, mas consegue comprovar com a metodologia a toxicidade do produto, independentemente do produto ser de mercado legal ou ilegal", diz.

Em um estudo deste ano, uma equipe de cientistas analisou a fumaça de vaporizadores populares e encontrou níveis altos de metais pesados. Outros estudos sugeriram que o dispositivo pode afetar o coração, os pulmões e o cérebro.

Os dados sobre os efeitos de longo prazo na saúde são limitados, porque os dispositivos são relativamente novos e estão em constante evolução. Muitas pessoas que os usam estão na adolescência ou na casa dos 20 anos; pode levar algum tempo até que outros efeitos se tornem aparentes.

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