"Prisão parcelada" de Bolsonaro dá resposta a Trump e liberta Tarcísio

Publicado em 20/07/2025, às 15h00

Redação

Jornalista Ricardo Corrêa:

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"A decisão que determinou a colocação de uma tornezeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e que proibiram o político de utilizar as redes sociais e de se comunicar com o filho Eduardo Bolsonaro, também investigado por obstrução de Justiça, é uma resposta necessária às tentativas de melar o processo, inclusive por meio de ações estrangeiras. Além de tornar mais tortuoso o caminho para que Bolsonaro consiga manobrar para escapar das garras das Justiça, tem efeitos políticos profundos, quase equivalentes ao de um encarceramento.

Do ponto de vista jurídico, é bem claro que torna-se bem mais difícil para Bolsonaro manter sua estratégia de desqualificação e drible na Justiça. Além de perder o principal palanque próprio para enxovalhar o Judiciário brasileiro em postagens, uma eventual fuga se tornou bem mais difícil. A soma da tornozeleira com a proibição de se reunir com representantes estrangeiros torna possível a prisão de Bolsonaro por qualquer aproximação com uma embaixada, o que não era possível antes, apenas com a apreensão do passaporte.

Uma prisão preventiva de Bolsonaro, embora esteja sendo evitada a todo custo, seria muito mais facilmente justificada com o descumprimento explícito das novas determinações. Ainda assim, o fato de ter imposto tantas medidas alternativas mesmo com a flagrante tentativa de obstrução do processo mostra que, de fato, por decisão política, o STF vai esperar a condenação para prender o ex-presidente. É o que justifica o fato de o general Walter Braga Netto estar preso e Bolsonaro ser alvo apenas de uma espécie de ‘prisão parcelada’ em que seu direito à liberdade e movimentação vão sendo retirados aos poucos.

Os efeitos políticos das novas restrições, porém, antecipam em parte aqueles que serão vistos com a prisão. Sem as redes sociais e com sua mobilidade afetada, Bolsonaro terá menos subsídios para constranger seus aliados a manterem o apoio a uma falsa candidatura presidencial. E isso, claro, abre espaço para que os governadores da direita, em especial Tarcísio de Freitas, possam ampliar suas articulações e agendas públicas com vistas a 2026.

Sem poder gravar vídeos ou dar entrevistas para enviar recados, Bolsonaro teria mais dificuldades para travar as movimentações de Tarcísio como tem feito até aqui. O governador de São Paulo tem evitado viagens pelo país para não ser acusado pelo clã Bolsonaro de fazer campanha presidencial sem a autorização de Bolsonaro. Havia a expectativa de que isso mudasse apenas com a prisão do ex-presidente. Mas, na prática, a decisão desta sexta é quase uma prisão domiciliar do ponto de vista político, antecipando os efeitos do encarceramento.

De quebra, com Bolsonaro imobilizado e Eduardo Bolsonaro fora do País, os debates acerca das candidaturas nos Estados permitem avanços de alas menos ligadas à família, como políticos do centrão que se alinharam ao bolsonarismo nos últimos anos. No debate sobre os candidatos ao Senado, por exemplo, torna-se mais difícil a imposição de nomes da ala mais radical do bolsonarismo para garantir a bancada do impeachment de ministros do STF, como queria Bolsonaro.

As duras imposições a Bolsonaro também devem ter efeito no cenário externo, mandando o recado de que a Justiça brasileira não está intimidada com a pressão feita pelo presidente norte-americano Donald Trump em defesa de seu aliado. Em sua última carta a Bolsonaro, Trump exigiu que o processo fosse finalizado já.

Aparentemente, será atendido em breve, mas com o efeito contrário do desejado: o processo se encerrará logo, mas com Bolsonaro preso."

 
 
 
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