Putin dá sinais de recuo em possível invasão à Ucrânia em conversas com ministros exibidas na TV

Publicado em 14/02/2022, às 15h59
Reprodução TV Russa -

O Globo

Duas reuniões de Vladimir Putin que tiveram trechos exibidos pela televisão da Rússia nesta segunda-feira pareceram indicar um recuo no cerco militar à Ucrânia que levou os países ocidentais a alertarem para uma invasão iminente do país.

LEIA TAMBÉM

Em uma conversa com Putin transmitida pela televisão e aparentemente roteirizada, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou que parte das manobras militares realizadas por seu país com a Bielorrússia estão sendo encerradas.

— Os exercícios militares aconteceram, parte deles está terminando. Outros vão continuar dada a magnitude desses exercícios que foram planejados e que começaram no início de dezembro — disse Shoigu.

Não está claro quantas tropas serão removidas do entorno da Ucrânia, nem se estas atualmente estão na Bielorrússia ou na própria Rússia. O governo russo sempre disse que  suas tropas concentradas na fronteira ucraniana estavam lá para exercícios militares, e não representavam planos para uma invasão.

Pouco antes, em outra conversa exibida na TV, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, disse apoiar a continuidade das negociações diplomáticas com o Ocidente sobre as “garantias de segurança” que a Rússia vem exigindo dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Putin foi mostrado perguntando a Lavrov se havia uma chance de chegar a um acordo para resolver as preocupações de segurança da Rússia ou se apenas aconteciam negociações infrutíferas, sem possibilidades reais de avanços.

— Já alertamos mais de uma vez que não permitiremos negociações intermináveis sobre questões que exigem uma solução hoje — respondeu Lavrov, antes de acrescentar. — Devo dizer que sempre há chances. Parece-me que nossas possibilidades estão longe de estarem esgotadas... Nesta fase, sugiro continuar e intensificá-las..

Putin respondeu simplesmente: — Certo.

As reuniões indicam que a Rússia pode continuar a busca por concessões diplomáticas dos EUA e da Otan, em vez de empreender uma ação militar imediata. Na sexta e no sábado, os EUA, citando informações obtidas por sua Inteligência, alertaram sobre o risco de uma invasão iminente à Ucrânia, que poderia ocorrer ainda nesta semana.

— Esta é uma mensagem clara: "As coisas estão bem, vamos continuar conversando. Nosso lado está demonstrando força, mas não estamos planejando nada" — disse à Bloomberg Fyodor Lukyanov, chefe do Conselho de Política Externa e de Defesa, que assessora o Kremlin, sobre as conversas mostradas na TV.

Lavrov também disse na reunião que recebeu respostas "insatisfatórias" a uma carta que enviou a dezenas de membros da Otan sobre a questão da "indivisibilidade da segurança" — uma das principais demandas russa. A Rússia alega que a Ucrânia e os países ocidentais estão fortalecendo sua segurança às suas custas, violando uma cláusula do Protocolo de Istambul, de 1999, da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Putin também perguntou a Lavrov se ele havia preparado um esboço de resposta às propostas que os Estados Unidos e a Otan apresentaram no mês passado. Lavrov disse que preparou uma resposta de 10 páginas, sem oferecer detalhes. Um assessor de Putin disse no sábado que a Rússia em breve tornará pública sua resposta.

Apesar dos sinais de Moscou, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, afirmou que a Rússia reforçou sua presença militar na fronteira no fiim de semana e "tem amplas capacidades à sua disposição".

— Ele continua enviando forças adicionais ao longo desta fronteira com a Ucrânia, inclusive no fim de semana, e tem bem mais de 100 mil (soldados) — disse Kirby. — Não é apenas uma questão de números. Trata-se de capacidades bélicas, que vão desde veículos blindados a unidades de infantaria, passando por forças especiais, ciberataques ou mesmo defesa aérea e antimísseis.

Diálogo russso-alemão

Nesta terça-feira, Putin se reunirá em Moscou com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz. Após adotar uma linha diplomática discreta e pouco dura com o Kremlin e perder popularidade em casa, Scholz agora busca demonstrar alinhamento firme com os EUA e com seus parceiros da Otan.

Nesta segunda-feira, Scholz viajou a Kiev, onde se reuniu com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Scholz anunciou uma ajuda de  € 150 milhões (R$ 900 milhões) à Ucrânia, para se somarem aos quase € 2 bilhões (R$ 12 bilhões) fornecidos desde 2014. Após o encontro, o chanceler disse que espera medidas claras da Rússia para diminuir o conflito com a Ucrânia, e acrescentou que a Alemanha e seus aliados ocidentais estão preparados para "um diálogo sério com a Rússia sobre a segurança europeia".

Scholz disse que a Alemanha e seus aliados "trabalham intensamente na preparação de um pacote de sanções", e demonstrou estranheza com as demandas russas.

— Um pedido de adesão à Otan não está na agenda no momento, é estranho a Rússia levantar esse assunto agora — afirmou.

Antes de embarcar, Scholz disse em uma rede social que espera "de Moscou sinais imediatos de redução das tensões. Uma nova agressão militar teria duras consequências para a Rússia".

Em meio às tensões, a Ucrânia pareceu sinalizar disposição para fazer concessões à Rússia. O principal sinal foi dado pelo embaixador do país no Reino Unido,  Vadym Prystaiko, que no domigo sugeriu que Kiev pode reconsiderar sua ambição  de se unir à Otan. Prystaiko disse que a Ucrânia pode ser "flexível" em relação a esse objetivo, "especialmente sendo ameaçada assim, chantageada por isso".

Nesta segunda-feira, o embaixador voltou atrás e disse que foi mal interpretado sobre a Otan — mas que a Ucrânia estava disposta a fazer outras concessões.

— Não tem nada a ver com a Otan, (o pedido de adesão) está consagrado na Constituição — afirmou.

Ao lado de Scholz, o presidente Zelensky também disse que a Ucrânia não desistiu da candidatura à Otan, apesar da resistência russa e do ceticismo ocidental, apontando que esse ingresso garantiria a segurança ucraniana.

Ao mesmo tempo, os ministros da Defesa ucraniano e bielorrusso conversaram, e Minsk informou que "não há ameaças à Ucrânia da parte da Bielorrússia".

O Kremlin disse que, se a Ucrânia renunciasse à sua aspiração de se juntar à aliança militar EUA-Europa, isso ajudaria significativamente a resolver as preocupações da Rússia.

A Otan já deixou claro que, em caso de uma invasão russa, não enviaria tropas para combater pela Ucrânia, que não pertence à aliança, mas reforçaria suas forças em países-membros vizinhos para lidar com as consequências de um conflito.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Corpo de médica é encontrado por funcionários dentro de freezer de loja Idoso atira no filho após reclamar de estar recebendo poucas visitas Brasileira que trabalha como babá em Portugal está desaparecida há 10 dias Relíquia da Segunda Guerra é encontrada em floresta após mais de 80 anos