Quem é o empresário turco preso pela PF no Brasil a pedido da Turquia

Publicado em 30/04/2025, às 21h00
- Foto: Reprodução/Redes Sociais

Mauricio Businari/FolhaPress

O turco naturalizado brasileiro preso hoje em São Paulo dirige um centro cultural e vive no país há 20 anos. Mustafa Goktepe é opositor do presidente Recep Tayyip Erdogan e foi preso de forma cautelar. O STF irá examinar o pedido de extradição, sob protestos da defesa, que alega perseguição política.

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QUEM É O TURCO PRESO


Naturalizado brasileiro, Goktepe vive no país desde 2004. Ele tem 47 anos, é casado com uma brasileira e pai de duas filhas nascidas no Brasil. Formado em letras, com mestrado em ensino de idiomas, dedicou-se ao diálogo intercultural e à divulgação da cultura turca.

Foi fundador e presidente do Centro Cultural Brasil-Turquia. A instituição, hoje chamada Instituto pelo Diálogo Intercultural, promoveu eventos inter-religiosos, feiras culturais e debates acadêmicos com universidades brasileiras. O trabalho sempre teve como foco o respeito às diferenças e a construção da paz. Personalidades brasileiras, como o jogador Zico, foram homenageadas lá.


Goktepe também atuou como professor em três universidades brasileiras. Ministrou aulas de língua e cultura turca na USP, na PUC-SP e na UnB entre 2009 e 2015. Ele também se tornou referência como tradutor juramentado de turco-português.


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Além da atuação cultural, empreendeu na gastronomia. É sócio do restaurante Lahmajun - Delícias Turcas, em São Paulo, especializado em culinária do Oriente Médio. O local é frequentado por brasileiros e imigrantes e já foi palco de encontros diplomáticos e culturais.

Em 2016, Goktepe participou de uma solenidade oficial na Assembleia Legislativa de São Paulo em homenagem à comunidade turca. Em discurso, Goktepe destacou os cursos promovidos pelo Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT), que oferecia aulas de turco para brasileiros, de português para turcos e promovia palestras e concertos ligados ao movimento Hizmet, voltado ao diálogo intercultural e religioso. O governo da Turquia acusa o Hizmet de ter se envolvido na tentativa de golpe contra Erdogan em 2016.

Em 2018, publicou um livro sobre terrorismo e diálogo entre culturas. Editada pela Labrador, a obra reúne artigos de intelectuais e religiosos sobre as respostas de diferentes sociedades à violência política.

EXTRADIÇÃO CONTESTADA

A vida construída no Brasil sofreu um abalo com a ordem de prisão. A pedido do governo da Turquia, o STF autorizou a prisão preventiva de Goktepe para fins de extradição. Ele foi detido em São Paulo por agentes da Polícia Federal no dia 30 de abril.

O governo turco o acusa de ligação com o movimento Hizmet, de Fethullah Gülen.

Considerado terrorista por Erdogan, o grupo é perseguido desde a tentativa de golpe de 2016.

Goktepe nega qualquer envolvimento com atividades ilegais e afirma ser alvo de perseguição por suas ideias.

A defesa diz que a extradição é uma tentativa de silenciar opositores. Segundo o advogado Beto Vasconcelos, Erdogan tenta usar o sistema jurídico brasileiro para perseguir uma liderança que atua no Brasil em defesa da democracia, da tolerância política e da convivência inter-religiosa.

Ele alerta que Mustafa pode ser submetido a tribunais de exceção e a graves violações de direitos humanos, denunciadas por organismos como a ONU.

Vasconcelos afirma que a extradição violaria a Constituição e tratados internacionais. Goktepe é naturalizado desde 2012, e todos os fatos mencionados pela Turquia seriam posteriores a essa data.

A constituição brasileira, em seu artigo 5º, determina que nenhum brasileiro, seja nato ou naturalizado, pode ser extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. "Além dos fatos mencionados serem irrelevantes, eles não têm qualquer evidência concreta", afirma Vasconcelos. "Além disso, ocorreram após sua naturalização".

A expectativa da defesa é pela revogação da prisão e negativa da extradição. Segundo o advogado, o STF já decidiu de forma unânime em casos semelhantes, sob relatoria de Edson Fachin e Alexandre de Moraes. A defesa confia que o mesmo ocorrerá agora. "Eu confio que assim que prestarmos informações ao STF, a prisão será revogada e a extradição, negada".

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