Questionamento: " "Você faria um acordo com Hugo Motta?"

Publicado em 19/08/2025, às 18h00

Flávio Gomes de Barros

Texto de Nuno Vasconcellos:
 

".. Não é segredo para ninguém que, na campanha que o conduziu à presidência da Casa, Motta se comprometeu com a maior bancada da Casa, a do Partido Liberal, a pôr para tramitar o projeto que previa a anistia para os condenados pelas manifestações do dia 8 de janeiro de 2023.

Boa parte dos dissabores que ele vem enfrentando no comando da Casa, e que minam cada vez mais o seu prestígio, se deve à falta de uma resposta convincente ao fato de não ter atendido a essa demanda. Em função disso, a relação dos deputados da oposição com o presidente da Câmara, a cada dia, ganha ingredientes mais dramáticos.

O exemplo mais recente disso foi a ocupação da Mesa Diretora por deputados da oposição na semana retrasada. A desculpa para a ocupação, como se sabe, foi a ordem de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. O episódio — já discutido por esta coluna no domingo passado — continua rendendo frutos. A crise, como se sabe, foi resolvida não por Motta, mas pela intervenção de seu antecessor, o deputado Arthur Lira (PP/AL).

Foi Lira quem negociou a saída dos sediciosos em troca da promessa de votação da anistia. Além disso, também seria debatido o projeto que tira do STF o foro para o julgamento das ações que envolvam parlamentares. Diante do rigor que a Suprema Corte tem demonstrado nas causas que envolvem os partidários de Bolsonaro, eles preferem ter seus casos analisados pelas instâncias inferiores da Justiça.

Não se trata (é bom deixar isso claro) de discutir se os parlamentares da oposição estão certos ou errados em se considerar perseguidos pelo STF. O que interessa é discutir o comportamento de Hugo Motta diante das reivindicações endereçadas a ele. E a reação que ele teve após a desocupação da mesa tem sido a pior possível.

Deixando transparecer melindre diante da atuação de Lira diante do problema que ele não teve autoridade para resolver, Motta quis mostrar que é ele quem manda na Câmara e desautorizou as negociações feitas por seu antecessor. Mandou dizer que não trataria da anistia nem de qualquer projeto de interesse da oposição. E mais: elaborou uma denúncia com os nomes dos 17 principais envolvidos na ocupação da mesa e ordenou que o Conselho de Ética punisse cada um deles com suspensões que podem chegar a seis meses.

Em tempo: da lista de Motta ao Conselho de Ética não consta a deputada Camila Jara (PT/MS). Ela foi flagrada agredindo o deputado Nikolas Ferreira (PL/MG) com um soco nas partes baixas. Já pensou o fuzuê que aconteceria se tivesse sido o contrário?...

Pesquisas de opinião que começaram a circular nos bastidores na semana passada mostram que a popularidade do presidente Lula, que ganhou impulso nos momentos iniciais do contencioso com os Estados Unidos, já está perdendo o fôlego. Pesquisas de tracking mostram que a reação inflamada ao tarifaço de Trump já deu a Lula os ganhos que poderia ter dado — e esses ganhos não foram suficientes para garantir o salto de popularidade que ele buscava com a retórica antiamericana.

Alheio aos fatos, Motta parece disposto a varrer a crise para debaixo do tapete. Na semana passada, elegeu as prioridades legislativas para o segundo semestre. A lista traz apenas temas de interesse do Executivo — o que apenas reforça a falta de independência do Legislativo. Um dos temas são as medidas contrárias à 'adultização' das crianças nas redes sociais — vista pela oposição como apenas mais um passo no esforço do governo de 'regulamentar' (ou seja, 'censurar') a internet.

Outra prioridade é o projeto que prevê ajuda financeira às empresas exportadoras atingidas pelo tarifaço americano. Se esses temas serão suficientes ou não para reduzir as tensões é algo que dependerá dos próximos movimentos sobre o tabuleiro.

E de decisões que serão tomadas não só em Brasília, mas, principalmente, em Washington."

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