É a primeira vez que a turista paranaense Joelem Cristina visita Maceió. Além das praias imperdíveis, recebeu das amigas curitibanas - que já conhecem o destino - uma dica gastronômica valiosa: o Mercado de Jaraguá. E, nesta sexta-feira (28), lá estava ela saboreando um dos pratos mais tradicionais da culinária alagoana: cuscuz com carne guisada e queijo coalho.
“O pessoal indica muito este lugar. A comida é boa e o atendimento também”, aprovou Joelem, fazendo apenas uma ressalva: o sabor incomum do coentro, segundo ela, não muito apreciado no Sul do país. Mas o que incomodou a turista não estava no prato.
“A comida é muito boa, mas o espaço está precisando de melhorias. Acho que merece uma reforma urgente”, avaliou, lançando um olhar em 360 graus. A constatação não é apenas dela. A deficiência estrutural é praticamente uma unanimidade entre os permissionários, trabalhadores do local.
E o Governo do Estado sabe disso. Assim, desde que reassumiu a gestão do espaço, tratou de avançar com o projeto de requalificação do Mercado de Jaraguá, sob responsabilidade do Instituto de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de Alagoas (Ideral). O objetivo do projeto, assinado pelo arquiteto e urbanista Rodrigo Fagá, é transformá-lo em um moderno centro de compras e gastronomia, valorizando sua vocação cultural e turística.
“O mercado tem que entrar no dia a dia do maceioense. Que você faça sua feira num local que forneça comida de qualidade e seja prazeroso estar lá. Primeiro, ele tem que ser bom para o maceioense, porque se for bom para o nosso cidadão, será bom para o turista”, considera o diretor-presidente do Ideral, Davi Maia.
Com recursos disponíveis da ordem de R$ 8,3 milhões, parte do maior pacote de investimentos da história da Grande Maceió (R$ 5 bilhões), a obra terá início logo após a realocação dos 18 permissionários, o que deve começar a ocorrer até 5 de dezembro, como estima Davi Maia.
“As obras começam logo após a realocação. Vamos remover toda a estrutura e fazer a requalificação completa do Mercado de Jaraguá”, projeta o diretor-presidente do Ideral.
Instalações provisórias
Davi Maia informa que os permissionários serão realocados provisoriamente para dois espaços, até a conclusão das obras, prevista para ocorrer dentro de seis meses. O setor de alimentação, formado por quatro restaurantes, funcionará em tendas montadas no estacionamento do Sine Alagoas, praticamente do outro lado da calçada, na mesma rua, no mesmo bairro.
Já os estabelecimentos de serviços e de venda de hortifrútis irão para a Rua Fechada, ao lado do Mercado de Jaraguá, onde já existem boxes subutilizados e fechados. Davi Maia explica que, quando o novo equipamento reabrir, as lojas que não trabalham com alimentos funcionarão em uma galeria de serviços, que será instalada definitivamente no prédio do Sine Alagoas.
É o caso de Maria Albertina dos Santos, 60 anos, que há mais de uma década oferece serviços de corte e costura em um box instalado no Mercado de Jaraguá. A perspectiva de atuar em um novo e adequado espaço de serviços agrada a profissional, sobretudo porque contará com estacionamento, inexistente desde que a rua ao lado do Mercado foi fechada, no final de 2023.
“O projeto é maravilhoso porque haverá um local para os nossos clientes estacionarem. Eles não vão ficar rodando, sem ter como entrar”, avalia Maria Albertina.
Já a tradicional feira de orgânicos, que acontece às sextas-feiras, será mantida, porém reorganizada. Funcionará também na Rua Fechada, de forma regulada, enquanto durar a obra.
Diálogo permanente
Davi Maia explica que o grande desafio não é a obra em si, que está bem encaminhada e com recursos assegurados, mas o processo de realocação.
“Esse é o ponto mais sensível desse processo, porque nós precisamos trocar a roda do carro com o carro andando. São empresários que tiram o sustento dali, e a gente não quer deixar ninguém desamparado: nem os permissionários, nem a clientela que depende do mercado”, pondera o diretor-presidente do Ideral.
Ele lembra que todo esse processo delicado foi precedido de muito diálogo, que permanece constante entre Governo do Estado, permissionários e usuários do local.
“Antes de tudo isso, todos os permissionários foram entrevistados. Foi contratada uma empresa que ouviu cada empresário, cada permissionário do Mercado de Jaraguá, justamente para tocar esse processo, para a gente entender a demanda, entender a necessidade de cada um. Desejamos que realmente seja uma estrutura adequada a quem trabalha e a quem é consumidor”, pontuou Davi Maia.
Presidente da Associação dos Permissionários do Mercado de Jaraguá, José Carlos Costa revela que o clima é de expectativa para as próximas etapas.
“Estamos ansiosos pela reforma, considerando que o Mercado tem mais de 30 anos e, sob a gestão municipal anterior, não houve intervenções estruturais significativas. Agora, com a nova gestão do Governo do Estado, esperamos que a reforma se inicie e seja concluída em breve”, relatou José Carlos.
Sobre o processo de realocação, o presidente afirma que tem transcorrido de forma positiva entre os permissionários. De acordo com José Carlos, eles têm compreendido as possíveis dificuldades inerentes ao processo, mas sempre com foco nos benefícios futuros.
“Esperamos que a estrutura provisória cause o mínimo de transtorno possível, tanto para nós quanto para nossos clientes. Reconhecemos que o período de reforma será desafiador, com as dificuldades de um local improvisado, mas nossa perspectiva é de otimismo, visando os resultados a longo prazo”, disse, destacando o diálogo constante com o Governo do Estado.
“Antes mesmo da posse da nova gestão estadual, já mantínhamos conversas e tratativas. Fomos informados sobre a mudança de gestão e a intenção do Governo do Estado de realizar uma ampla reforma e intervenção estrutural. Desde então, as conversas têm sido frequentes, ouvindo nossas necessidades e considerando os comerciantes”, assegurou.
“Aguardamos ansiosamente essa reforma, que certamente proporcionará melhorias significativas para nós, que trabalhamos aqui diariamente há muitos anos, e para o público local, além de impulsionar o turismo”, finalizou.
Sine Alagoas
Com a realocação dos permissionários para as instalações do Sine Alagoas, em Jaraguá, a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Qualificação (Seteq) informa que o órgão - responsável por intermediar mão de obra entre trabalhadores e empregadores - passará a funcionar em uma nova unidade ampla e moderna, instalada na Avenida Fernandes Lima, no bairro do Farol. O endereço completo será divulgado em breve.