Redação
A neblina parece uma nuvem rápida e gelada, e logo na madrugada começa a abraçar a cidade de Água Branca num friozinho danado de bom. E assim eu experimentei a estação de inverno do Sertão Alagoano, que começa em junho e prossegue até agosto.
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No alto da serra a neblina esconde a cidade de Água Branca
E quando o verão chegar, a serra continuará exuberante, para se curtir a tradicional feira de segunda, saborear sorvete de rapadura e caminhar pelo centro histórico para recordar que nesta terra sertaneja, Delmiro Gouveia foi o primeiro turista da cidade. O empreendedor cearense ficou hospedado na residência do Coronel Ulisses Luna, e trouxe o desenvolvimento para o Sertão.
Já o temido Lampião, no ano de 1922, assaltou o sobrado da Baronesa de Água Branca levando o patrimônio pessoal da nobre sertaneja. A residência do Barão de Alagoas continua elegante, mas carece, urgente, do tombamento como Patrimônio Histórico do Estado, bem como o centro da cidade com seus sobrados e igrejas.
Casa da Baronesa no Centro Histórico de Água Branca
Como eu amo cidades históricas, vou compartilhar o meu roteiro de Água Branca, destino que vivi a estação de inverno em pleno sertão.
Primeira capela de Água Branca
Primeira capela – O centro histórico é pequeno e o povo diz brincando, que “´é apenas uma rua”, mas repleta de beleza da arquitetura colonial nos casarios. A primeira lindeza, a capela Nossa Senhora do Rosário, do ano de 1770, é singela, e nela guarda-se histórias de gente que nasceu em Água Branca, que fez ali a primeira comunhão, as missas celebradas, e, claro, lugar de se renovar a fé.
Detalhe da Igreja Matriz construída pelo Barão
Grandiosa – Na outra ponta da rua, fica a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída pelo Barão de Água Branca, no século XVIII. Todo o altar tem decoração barroca.
Mirante do Calvário
Do alto da Serra – Depois de caminhar pelo centro histórico é hora de subir a Serra até o Mirante do Calvário. Na Semana Santa, os fieis realizam a via sacra, parando nas estações para orar e seguindo até o mirante onde se encerra a peregrinação. Lá, o horizonte é infinito.
Dora e seus famosos licores no Mirante
Licor – O Mirante do Calvário, que fica a uma altitude de 730 m acima do nível do mar, é imperdível, de lá se tem a melhor panorâmica da região. No Mirante tem quiosque de culinária regional, merecendo atenção aos licores de frutas e de flores, da Dora.
Artesanato de palha da Serra das Viúvas
Casa da Farinha – Para chegar ao povoado da Serra das Viúvas, o caminho não é fácil, a estrada é de barro. Melhor ir de moto ou em veículos maiores. O lugar é simples, indicado para quem curte turismo comunitário. Lá tem o artesanato da palha de Ouricuri e a casa de farinha, onde a comunidade produz sua própria farinha, tapioca, pé de moleque e beiju. A casa foi cenário para a novela Velho Chico.
Dona Maria Isabel, 65 anos de idade, mora na Serra das Viúvas (Comunidade Quilombola), ao lado de 18 mulheres que traçam a folha de Ouricuri em cestos rústicos, chapéus e outros artigos que são vendidos na feira de segunda e no Engenho São Lourenço.
Artesanato de palha, tradição da Serra das Viúva
Para viver a experiência do saber e fazer os quitutes da Casa de Farinha, é preciso agendar. Lia (82) 99945.0863
Rapadura orgânica do Engenho São Lourenço
Aroma da rapadura – O Engenho São Lourenço, de 1920, é um do patrimônio cultural e gastronômico da cidade, produzindo rapadura, açúcar mascavo e alfenim (doce) orgânicos. No Engenho também tem restaurante e uma das estrelas é o sorvete de rapadura. Quem faz bem o sorvete é Silvia Medeiros, alagoana de Delmiro Gouveia, casada com Mauricio César Brandão, herdeiro do “Vó Lenço”, fundador do Engenho.
Sorvete de Rapadura do Engenho de São Lourenço
A história do sorvete começou quando um cliente de Paulo Afonso, que já tinha provado a iguaria no Picui, em Maceió, sugeriu que Sílvia, como tinha engenho, deveria fazer incluir a receita em sua produção. Silvia recorreu a receita da mãe, mudou até a quarta vez, mas, finalmente, deu certo.
Outro sorvete imperdível é o murici, fruto do sertão, tem um pouco de azedinho. Amei. E olhe que dá um trabalho! Da fruta pequena só se usa a pele, mas promove boa sensação ao paladar.
Sorvete de murici, fruta do Sertão
Tem algum segredo as receitas da rapadura? Silvia diz que usa como açúcar a rapadura ralada.
Engenho São Lourenço: Funciona todos os dias, das 10 às 16, segunda a sexta. Sábado e domingo, das 10 às 22h. Telefone: 99902.9468.
Caldinho de mocotó, tradição de Água Branca
Caldinhos – Tradição do Centro Histórico é o Bar da Marciana, com 30 anos de história, ponto de encontro de quem chega e de quem mora na cidade. Os destaques são os caldinhos de mocotó com ovo, batizado de “Cura Ressaca”. O valor do caldinho é R$ 4,00 sem ovo; com ovo, acrescenta-se mais R$1,00. Cada dia tem sabores diferentes, como feijão, macaxeira, e ainda tem mungunzá salgado. Mas, lembrando, é um legitimo boteco. Abre todos os dias, das 9 até as 24h.
Tilápia com purê de batata do Aconchego
Tilápia – O restaurante Aconchego é o melhor lugar para saborear frutos do mar em pleno sertão de Água Branca. Com ênfase para a tilápia (peixe do Rio São Francisco), empanada e preparada no capricho pela de Aparecida Barros, a célebre Cida. Também merece aplausos o purê de batatas, bem fofo (a composição leva manteiga e um pouco de leite natural – produzidos nas pequenas propriedades rurais da região). Divino, como se fazia antigamente. Funciona de terça à quinta, das 10h às 15h30, e das 18h30 até as 22h / domingo até as 16h / Segunda-feira sob consulta.
Rosas no sertão alagoano de Água Branca
Casa das rosas
No jardim tem mandacaru, alecrim, manjericão, flores e rosas, tudo em volta da casa em estilo chalé, da família de Fátima Torres. Com cinco quartos, cozinha, lareira, ainda temos o privilégio de assistir ao espetáculo do pôr do sol. E no inverno, dormir e acordar com a neblina.
Detalhe da casa no Condomínio, melhor hospedagem da região
A boa noticia é que a casa, a partir de agora, é meio de hospedagem. Aceita-se reservas para grupos que desejam conhecer Àgua Branca e suas cidades vizinhas, Delmiro Gouveia e Piranhas. A casa da família da Fátima tem lembranças boas e conforta alma. Lugar ideal para reunir os amigos em torno de vinhos e comidinhas.
Detalhe da casa com jardins de rosa
A diária da casa inclui uma funcionária para fazer o café da manhã e limpeza. Informações sobre os valores, ligue para 82 99981.2655.
Casa cheia histórias, agora é meio de hospedagem
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