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Dizem que ninguém morre de coração partido — mas não é bem assim. A Síndrome de Takotsubo, também chamada de síndrome do coração partido, é provocada por situações de estresse intenso (físico ou emocional) e afeta diretamente o funcionamento do músculo cardíaco, como se fosse um infarto. Apesar de geralmente ter evolução benigna, se não for tratada adequadamente, pode causar complicações e até levar à morte.
Essa síndrome é uma cardiomiopatia induzida por estresse, caracterizada pela perda temporária da capacidade de contração do músculo cardíaco, sem obstrução significativa das artérias coronárias — ao contrário do que ocorre em um infarto clássico. “É uma condição clínica que mimetiza um infarto do miocárdio, em que ocorre disfunção segmentar do músculo cardíaco, geralmente transitória, na ausência.
O nome curioso não é por acaso: a síndrome costuma surgir após fortes abalos físicos ou emocionais, como a perda de alguém querido, situações traumáticas, cirurgias, infecções graves e até o uso de drogas estimulantes. “Ela é considerada uma doença cardíaca real, que aparece após situações de estresse físico ou emocional intenso”, ressalta a cardiologista Salete Nacif, diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e integrante da Socesp Mulher, departamento focado na saúde feminina.
Sintomas parecidos
Um dos maiores desafios no diagnóstico correto da síndrome do coração partido é que os sintomas são praticamente idênticos aos de um infarto agudo do miocárdio. Dor súbita no peito falta de ar, palpitações, sudorese fria e desmaios podem ocorrer, o que leva muitos pacientes ao pronto-socorro. “Inclusive, há alterações no eletrocardiograma e nos exames laboratoriais, assim como acontece no infarto”, observa Franken.
Essa semelhança exige investigação detalhada para confirmar a causa do quadro. Por isso, o diagnóstico envolve exames clínicos e laboratoriais, eletrocardiograma, ecocardiograma e o cateterismo, essencial para descartar a obstrução coronária típica do infarto. Em alguns casos, a ressonância magnética cardíaca também pode ser indicada.
“Clinicamente, os sintomas são quase idênticos. A diferença só fica clara com exames. No infarto, há obstrução de uma artéria coronária, visível no cateterismo. Na síndrome de Takotsubo, não há obstrução; observa-se uma alteração típica no movimento do coração, especialmente no ventrículo esquerdo”, detalha Nacif.
A causa exata da síndrome ainda não é totalmente conhecida, mas sabe-se que ela está relacionada a uma descarga excessiva de hormônios do estresse, como a adrenalina, que afeta o músculo cardíaco e altera sua função temporariamente.
Cerca de 90% dos casos descritos ocorrem em mulheres. Entre elas, o problema é mais comum após a menopausa, quando há alterações hormonais que parecem aumentar a vulnerabilidade do coração ao estresse. Segundo Marcelo Franken, a faixa etária mais atingida são mulheres por volta dos 60 anos. “Estima-se que ocorram cerca de 30 mil casos por ano no Brasil, por volta de 1% dos infartos”, relata.
Mas idosos e pessoas com histórico de estresse intenso ou doenças neurológicas também parecem mais suscetíveis. Estudos recentes mostram que a incidência em homens tem aumentado, sobretudo quando o gatilho é um evento de estresse físico, como cirurgias ou infecções graves.
No último congresso da Socesp, realizado em junho, o cardiologista intervencionista Davide Di Vece, um dos coordenadores do Registro Internacional de Takotsubo, apresentou dados de um estudo que chamou atenção. Segundo essa pesquisa, a proporção de casos masculinos passou de 10% para 15% entre 2004 e 2021. E embora os homens ainda representem a minoria, a doença costuma ser mais grave nesse grupo, com maior risco de complicações e morte.
O tratamento costuma ser de suporte, semelhante ao indicado para insuficiência cardíaca. “Envolve geralmente medidas para reduzir a carga de trabalho do coração, como o uso de betabloqueadores e inibidores da ECA [Enzima Conversora de Angiotensina]”, explica Nacif. É fundamental que o paciente permaneça internado com monitorização contínua, especialmente devido ao risco de arritmias. Em geral, a recuperação ocorre em poucas semanas ou meses, e a função cardíaca costuma voltar ao normal. A síndrome pode se repetir em cerca de 5% a 10% dos casos.
Tem como prevenir?
Não há uma forma específica de evitar a síndrome, mas medidas de promoção do bem-estar ajudam a reduzir o risco. “Técnicas para diminuir o estresse, sono regular, atividade física e tratamento adequado de ansiedade e depressão podem ajudar”, orienta a cardiologista da Socesp. Mas a recomendação principal é: procure ajuda médica imediata diante de qualquer sintoma suspeito. “Na presença de dor no peito ou falta de ar, é fundamental procurar um serviço de emergência”, avisa o médico do Einstein.
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