Pedro Acioli*
O empresário alagoano Alan Cavalcante do Nascimento, suspeito de chefiar uma organização criminosa com esquemas de corrupção no setor de mineração, está cumprindo a pena em liberdade após o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, substituir a prisão preventiva por uma série de medidas cautelares.
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O esquema supostamente liderado por Alan teria movimentado cerca de R$1,5 bilhão e as investigações apontam que somente o alagoano, por exemplo, teria recebido mais de R$225 milhões de empresas envolvidas no esquema entre dezembro de 2019 e dezembro de 2024.
De acordo com Toffoli, o conjunto de medida cautelares determinados por ele são “suficientes para assegurar a aplicação da lei penal, a preservação da ordem pública e econômica, bem como a conveniência da instrução criminal”.
Além de Cavalcante, também foram beneficiados com a medida o ex-diretor da Polícia Federal, Rodrigo de Melo Teixeira, e o ex-deputado estadual mineiro, João Alberto Paixão Lages, e Helder Adriano de Freitas, apontado como articulador do esquema.
Medidas cautelares
Alan terá que utilizar e ser monitorado por tornozeleira eletrônica, entregar o passaporte, ficar recolhido durante a noite e também está proibido de se ausentar do país e do estado onde reside.
As investigações também apontam que o empresário comprou imóveis em prédios e condomínios onde moravam juízes responsáveis por julgar casos de corrupção que ele estava envolvido.
Com isso, Toffoli também determinou a proibição de aproximação, em raio de 200 metros, do imóvel localizado em condomínio onde reside magistrada federal envolvida em processos conexos a ele.
Quem é Alan Cavalcante?
Alan tem uma mansão de três andares localizada em um condomínio de luxo no município de Marechal Deodoro, na Região Metropolitana de Maceió, capital de Alagoas. Ele é conhecido por promover três semanas de festa, com direito a pool party e passeios de catamarã.
Uma das festas mais famosas que gosta de promover é a de Réveillon, quando cerca de quinhentos convidados costumam assistir a shows ao vivo, no ano de 2023 foi do cantor de Raí Saia Rodada, cujo cachê pode chegar a 400 mil reais por apresentação.
Até o ano de 2010, Cavalcante nunca havia trabalhado na área de mineração. Ele era envolvido com corridas de motocross e comemorações no modesto quintal da casa em que vivia, em Arapiraca, no agreste alagoano. Ele também já trabalhou como professor de matemática na cidade de Teotônio Vilela e na área de telecomunicações em Arapiraca.
No ano de 2023, ele chamou atenção dos holofotes após participar do Leilão promovido pelo jogador Neymar Jr. Na ocasião, ele comprou um blazer e um cordão de diamantes utilizados pelo craque do Santos pelo valor de R$1.2 milhão, o maior lote do evento.
Valores sumiram
Após a Justiça determinar o bloqueio das contas do investigado, a conta de Alan foi encontrada com apenas R$20 mil, valor bastante inferior aos R$ 225 milhões supostamente recebidos por ele.
Ao todo, a Justiça pediu o bloqueio de R$1,5 bilhão dos envolvidos, porém apenas cerca de 1,8% foram encontrados nas contas dos suspeitos, equivalente a R$27 milhões.
O valor R$1,5 bi seria relacionado ao lucro que a organização teve com as práticas criminosas. No entanto, durante as investigações foram identificados projetos em andamento vinculados ao grupo com potencial econômico superior a R$18 bilhões.
Como funcionava o esquema?
De acordo com as investigações, o grupo teria corrompido servidores públicos em diversos órgãos estaduais e federais de fiscalização e controle na área ambiental e de mineração, com a finalidade de obter autorizações e licenças ambientais fraudulentas.
Essas autorizações eram utilizadas para usurpar e explorar irregularmente minério de ferro em larga escala, incluindo locais tombados e próximos a áreas de preservação, com graves consequências ambientais e elevado risco de desastres sociais e humanos, segundo aponta a PF.
A organização criminosa teria atuado para neutralizar a ação do Estado, dificultando as investigações e monitorando autoridades. Além disso, utilizou diversas maneiras para lavar o dinheiro obtido com as práticas ilícitas.
*Com G1
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