The Economist elege o homem mais poderoso do mundo (e sugere ter muito cuidado)

Publicado em 12/10/2017, às 13h25

Redação

Não é de hoje que a ascensão da China no cenário mundial vem sendo foco de analistas políticos e de mercado, com muitos deles apontando que, em breve, o país pode substituir os EUA como líder global.

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Nesta semana, foi a vez da revista britânica The Economist destacar essa ascensão em sua matéria de capa, ao eleger o presidente chinês, Xi Jinping, como o homem mais poderoso do mundo. A revista aponta que ele tem mais influência do que o atual presidente dos EUA, Donald Trump, sugerindo ainda que o mundo deve ser cauteloso sobre se essa nova liderança será boa: "não espere que Xi mude a China, ou o mundo, para melhor", apontou.

A publicação inicia seu texto destacando que os presidentes americanos costumam elogiar seus colegas chineses e que Trump não foge à regra. "O Washington Post o cita dizendo que o líder atual da China é "provavelmente o mais poderoso" que o país já teve em um século", diz a Economist. Contudo, o americano poderia ir além e dizer: "Xi Jinping é o líder mais poderoso do mundo", sugere.

Conforme destaca a revista, Xi Jinping vem ganhando musculatura no cenário internacional, impulsionado pelo fato de que os EUA, mesmo ainda sendo o país mais poderoso do mundo, tem um presidente fraco internamente e menos efetivo no exterior do que qualquer um de seus antecessores recentes.

O presidente do "maior estado autoritário do mundo", ao contrário, caminha a passos muitos confiantes no exterior, enquanto o seu controle sobre a China é maior na comparação com qualquer líder que o país teve antes de Mao Tsé-Tung (que governou o país desde 1949 até 1976), ressalta a Economist. Mas há um contraste: enquanto a China de Mao era caótica e miseravelmente pobre, Xi é o líder do motor do crescimento global.

Para a revista, a sua influência em breve estará completa, com o congresso quinquenal do PCC (Partido Comunista da China), que acontecerá em 18 de outubro, sendo este o primeiro presidido por Xi. "Seus 2.300 delegados vão reverenciá-lo. Observadores mais céticos podem perguntar se Xi usará seu poder extraordinário para o bem ou para o mal", alerta a publicação.

Sua influência no exterior se estende uma vez que, em suas inúmeras viagens ao exterior, ele se apresenta como apóstolo da paz e da amizade, uma voz da razão em um mundo confuso e perturbado. "Os erros de Trump tornaram isso muito mais fácil. Em janeiro, em Davos, Xi prometeu à elite mundial que encabeçaria a globalização, o livre comércio e o acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Os que o ouviram ficaram encantados e aliviados. Pelo menos, eles pensaram, um grande líder estava disposto a defender o que era certo, mesmo que Trump (então presidente eleito) não o fizesse", aponta a revista.

As palavras de Xi são atendidas em parte porque a China tem o maior estoque de moeda estrangeira do mundo para apoiá-lo. Com centenas de bilhões de dólares, ele vai ao exterior (incluindo o Brasil) para investir em vias férreas, portos, estações de energia e outras construções que ajudarão diversas regiões do mundo a prosperar. "Esse é o tipo de liderança que os EUA não mostraram desde os dias do pós-guerra com o Plano Marshall na Europa Ocidental (que foi consideravelmente menor)", compara a Economist.

Os esforços para um poderio militar sem precedentes no exterior sob a gestão Xi  também são destacados. Este ano, ele abriu a primeira base militar estrangeira do país, em Djibouti, e e enviou a marinha chinesa para manobras cada vez mais distantes. A China diz que nunca invadirá outros países para impor sua vontade (além de Taiwan, que não considera um país). O país afirma, segundo a Economist, que os esforços de construção de base são para apoiar missões de manutenção da paz, anti-pirataria e humanitária. Quanto às ilhas artificiais com pistas militares que estão sendo construídas no Mar da China Meridional, estas são puramente com viés defensivo, diz o país.

Cautela com Xi

A Economist traça um paralelo de Xi com outro presidente, o russo Vladimir Putin. Ao contrário dele, Xi não é um perturbador global que procura subverter a democracia e desestabilizar o Ocidente. "Ainda assim, ele é muito tolerante com o fascínio do seu aliado, Coreia do Norte, com armas nucleares. E alguns dos comportamentos militares da China alarmam seus vizinhos, não só o Sudeste Asiático, mas também a Índia e o Japão", afirma.

Já em casa, os instintos de Xi são pelo menos tão "iliberais" quanto os de seu homólogo russo, afirma a revista. "Ele acredita que mesmo uma pequena permissividade política poderia levar não apenas à sua própria destruição, mas a de seu regime. O destino da União Soviética o assombra, e essa insegurança tem consequências", afirma, apontando que ele desconfia do rápido crescimento da classe média chinesa e de movimentos da sociedade civil que nasceram recentemente.

"Ele parece determinado a apertar o controle sobre a sociedade chinesa e, não menos importante, aumentar os poderes de vigilância do Estado e manter as rédeas da economia com seu partido. Tudo isso tornará a China menos rica do que deveria ser, assim como um lugar mais sufocante para viver. Os abusos dos direitos humanos cresceram sob o comando de Xi, com apenas um murmúrio de queixa de outros líderes mundiais", aponta a publicação.

Os liberais uma vez lamentaram os "dez anos perdidos" da reforma sob o antecessor de Xi, Hu Jintao. Esses dez anos se tornaram 15 e podem exceder os 20, afirma a publicação. Contudo, alguns observadores otimistas argumentam que ainda não vimos o verdadeiro Xi: o congresso do partido comunista chinês o ajudará a consolidar seu poder e, depois disso, ele iniciará as reformas sociais e econômicas com seriedade. Porém, a revista reforça o alerta apontando ainda ser alarmante para aqueles que acreditam que todos os líderes têm uma data de vencimento a consideração de que Xi está relutante em deixar o poder em 2022.

"Xi pode pensar que a concentração de poder sobre 1,4 billhão de pessoas nas mãos de um homem é o "novo normal" da política chinesa. Mas não é normal: é perigoso. Ninguém deveria ter muito poder", avalia, apontando que esta é uma receita para arbitrariedade tanto interna quanto externamente. Isso é especialmente preocupante em um momento em que os EUA de Trump estão recuando e criando um vácuo de poder. "O mundo não quer um estado isolacionista dos Estados Unidos ou uma ditadura na China. Infelizmente, pode chegar a ambos", conclui a publicação.

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