"Crucificado": homem absolvido de homicídio após quase 30 anos desabafa em entrevista à TV Pajuçara

Publicado em 01/10/2025, às 07h38
- Reprodução/TV Pajuçara

Pedro Acioli*

“Crucificado por aquilo que você não fez”. O desabafo é de Ricardo Alexandre, o homem que passou quase 30 anos sendo acusado de homicídio contra um amigo. Em entrevista à TV Pajuçara, ele explicou que a "vítima morta", na verdade, está viva e reapareceu para comprovar que a acusação era injusta. A denúncia foi registrada no ano de 1997, no bairro Tabuleiro do Martins, em Maceió. 

LEIA TAMBÉM

Ricardo Alexandre foi denunciado pela Polícia Civil alagoana e pelo Ministério Público do Estado de Alagoas por ter matado Marcelo Lopes da Silva. A Justiça já arquivou o processo depois de Marcelo comparecer ao Fórum do Barro Duro e esclarecer que, à época do falso crime, morava com uma irmã no interior de Pernambuco.

Segundo o homem denunciado, cerca de três dias depois do desaparecimento do amigo, ele estava em casa com a filha pequena no colo quando os policiais entraram na residência e o levaram para delegacia sob a acusação do homicídio. 

“[A acusação] Foi por eu ser amigo do Marcelo e era a única pessoa que estava com ele quando ele foi para Pernambuco”, revelou. 

Além de passar os últimos 28 anos sendo considerado foragido da Justiça, Ricardo Alexandre também sofreu ao ser julgado por populares.

“É bastante pesado você saber que está certo e o estado está lhe vendo como um bandido, um assassino. [...] Você tem que pagar pelos seus erros, isso é fato. Mas quando você não faz o peso é maior. Você está sendo crucificado por aquilo que não fez”, contou. 

Duas prisões 

Ricardo foi preso duas vezes desde que passou a ser suspeito do assassinato. A primeira foi em 2017, quando passou aproximadamente dois meses preso. Já a segunda, foi no mês de agosto de 2025. Ele passou dois dias detido, um na Central de Flagrantes e outro no Centro Integrado de Segurança Pùblica (CISP), até conseguir provar a inocência. 

“O pessoal me tirava [da cela] aí me levava de lado e falavam ‘Diga que você matou, fez isso por conta daquilo, por conta disso’. E eu tive que confirmar coisas que eu nunca fiz na minha vida. Eu não tenho nenhum tipo de delito”, descreveu Ricardo sobre o período de 2017. 

O caso

Segundo a denúncia em 1998, Ricardo Alexandre teria assassinado Marcelo Lopes da Silva com a ajuda de um adolescente, na madrugada de 28 de julho de 1997, no bairro do Tabuleiro do Martins, em Maceió.

Ainda de acordo com a acusação, Marcelo teria sido vítima de emboscada na saída de uma danceteria e atacado pelas costas com golpes de faca e instrumentos contundentes. O suposto motivo do crime seria ciúmes — Marcelo estaria interessado na esposa do acusado.

A acusação se baseava em relatos do irmão do "desaparecido", que disse ter recebido a informação de que Marcelo havia sido assassinado, e chegou a reconhecer o corpo por fotografias, no Instituto Médico Legal (IML). Ou seja, ele acreditou que um cadáver de indigente era do parente.

Um laudo cadavérico foi elaborado com base nesse corpo e usado para sustentar a denúncia do Ministério Público. No entanto, o juiz destacou na sentença que o exame apresentou um “erro grave”, ao atestar a morte de outra pessoa como se fosse Marcelo Lopes da Silva.

O juiz do caso afirmou que, desde que retornou a Maceió, Marcelo chegou a procurar uma delegacia e informou que estava vivo, mas essa informação nunca foi anexada ao processo, que permaneceu suspenso por anos devido à não localização de Ricardo.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Justiça torna Bruno Henrique, do Flamengo, réu por estelionato Réu é condenado a 20 anos de prisão por tentar matar companheira com facada pelas costas STF tem maioria para condenar ex-cúpula da PM-DF acusada de omissão no 8/1 Moraes nega pedido de Carlos para passar aniversário com Bolsonaro