Considerando que não há população viável de ararinhas-azuis na natureza, uma vez que os indivíduos encontrados estão sob cuidados humanos, a espécie recebeu a classificação de "Criticamente em Perigo (Possivelmente Extinta)" pelo ICMBio no Processo de Avaliação do Risco de Extinção da Fauna Brasileira publicado neste ano.
Empresa multada
A investigação sobre a saúde das ararinhas-azuis que estavam de volta à natureza tiveram início em maio deste ano, quando foi detectado o circovírus em um dos indivíduos. O Instituto Chico Mendes instaurou o Sistema de Comando de Incidente para gerenciar a Emergência Circovírus, com medidas para impedir a proliferação do vírus. Em parceria com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e a Polícia Federal foram realizadas visitas técnicas às instalações do Criadouro para fins Científico do Programa de Reintrodução da Ararinha-Azul, onde foi constatado que os protocolos de biossegurança não estavam sendo seguidos, segundo o instituto. Assim, foi aplicada uma multa no valor aproximado de R$ 1,8 milhão em desfavor do criadouro e de seu diretor.
O criadouro confirma que foi autuado, porém, "não foi apresentado nenhum laudo que ampare o auto de infração", tendo sido solicitado o acesso para que seja possível "recorrer e mesmo corrigir caso haja algo que seja necessário", disse, em nota.
Entre as exigências estão limpeza e desinfecção diária das instalações e dos utensílios, incluindo os comedouros onde era fornecida alimentação diária às aves de vida livre. De acordo com o ICMBio, esses locais "se encontravam extremamente sujos, com acúmulo de fezes ressecadas". Ainda foi determinada a obrigatoriedade do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) pelos funcionários. Durante as vistorias, a equipe era "reiteradamente" flagrada "utilizando chinelos, bermuda e camiseta durante o manejo dos animais".
“Se as medidas de biossegurança tivessem sido atendidas com o rigor necessário e implementadas da forma correta, talvez a gente não tivesse saído de apenas um animal positivo para 11 indivíduos positivos para circovírus”, relatou Cláudia Sacramento, coordenadora da Coordenação de Emergências Climáticas e Epizootias do ICMBio, que está à frente da emergência.
Segundo o criadouro, "hoje essas aves estão isoladas das demais ararinhas em recinto específico", tendo sido adotadas "medidas para que não haja nenhum intercâmbio de material com os outros animais", afirmou, em nota.
Alvo de operação pelo Inema, o criadouro foi autuado em cerca de R$ 300 mil. O espaço é parceiro da organização alemã Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP, na sigla em inglês), que detém 75% das ararinhas registradas em todo o mundo. Esta organização que foi a responsável pela transferência dos 93 indivíduos, viabilizada pelo Acordo de Cooperação Técnica (ACT) nº 8/2019. Cinco anos depois, o acordo foi encerrado, tendo entre os principais fatores para esta decisão a venda e transferência de 26 (vinte e seis) ararinhas-azuis da Alemanha para a Índia, realizadas pela ACTP sem o conhecimento ou consentimento do ICMBio, afirmou o órgão. O instituto viu a ação como um descumprimento em medidas que auxiliem no projeto de reintrodução em ambiente natural das aves.
Histórico de casos
No final de julho, o ICMBio definiu medidas urgentes com o aumento no número de diagnósticos, como reforço nas medidas de biossegurança; triagem dos animais do criadouro, com isolamento, em áreas internas, dos animais com resultado positivo para o vírus; e descontaminação dos recintos do criadouro e dos comedouros e ninhos utilizados pela população de vida livre.
Em 2022, foi solto um grupo de 20 indivíduos, e, atualmente, 11 vivam livres, dos quais alguns nascidos na natureza. Estava previsto o retorno de um novo grupo para a natureza, porém, com os casos de circovírus em investigação, a ação foi suspensa "assim que a situação sanitária estiver controlada", explicou o órgão na época.
O recolhimento das ararinhas-azuis, após o primeiro caso em maio, teve como finalidade submetê-las a uma bateria de testes, a fim de confirmar ou descartar o diagnóstico de contaminação e para preservar outros animais que correm o risco de também serem infectados.
O Criadouro Ararinha-Azul afirma que os animais introduzidos na natureza em 2022 "passaram por longo processo de adaptação e testagem, assegurando que não tinham nenhum vírus ou outro patógeno. Todos os exames foram conduzidos com acompanhamento do ICMBio e atestam a saúde das aves".
Em comunicado divulgado no início de setembro, o instituto destacou que o "circovírus dos psitacídeos é um patógeno potencialmente perigoso para estas aves e cuja ocorrência em populações de natureza do Brasil – embora investigada em diversos locais - nunca foi relatada ou comprovada até este evento".