Renan Marra / Folhapress
Parlamentares do Partido Democrata divulgaram nesta quarta-feira (12) emails que levantam dúvidas sobre a relação de Donald Trump com Jeffrey Epstein, acusado de exploração e de tráfico sexual, e sobre o possível envolvimento do atual presidente nos crimes que teriam sido cometidos pelo financista.
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Os documentos incluem trocas de mensagens entre Epstein, o escritor americano Michael Wolff e a socialite Ghislaine Maxwell, que foi namorada do magnata. Nas mensagens, Epstein escreveu que Trump passou "horas em sua casa" com uma das vítimas e que o atual presidente "sabia sobre as meninas" envolvidas em seu esquema, sem esclarecer o que quis dizer exatamente com a frase.
Os emails foram enviados ao Congresso como parte da investigação sobre a rede sexual que teria sido organizada por Epstein. As mensagens foram editadas para proteger a identidade das vítimas e não está claro se fazem parte de diálogos mais amplos.
O tema é caro à base trumpista e considerado sensível para o líder republicano, que sempre negou envolvimento nos abusos atribuídos a Epstein. Pouco após a divulgação das mensagens, a Casa Branca voltou a afirmar que os opositores do presidente produzem uma "narrativa falsa" com o objetivo de enfraquecê-lo. Já correligionários de Trump no Congresso divulgaram 23 mil páginas de documentos relacionados ao espólio do financista, num aparente esforço para demonstrar transparência.
Os emails foram escritos após o acordo judicial de 2008 que livrou Epstein de acusações federais, mais graves, em troca de uma confissão de culpa em nível estadual.
"Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump. [A vítima] passou horas na minha casa com ele, e ele nunca foi mencionado", escreveu Epstein numa mensagem de 2011 enviada à Ghislaine Maxwell, condenada em 2021 pela Justiça em cinco acusações por recrutar jovens e ajudar o investidor a abusar delas.
Em email de 2019, Epstein escreveu ao escritor Michael Wolff que Trump "sabia sobre as meninas, pois pediu a Ghislaine que parasse [o esquema]". Em outra mensagem, cuja data não foi especificada, o financista reflete sobre como responder às perguntas da imprensa sobre a relação com o republicano.
Trump nega envolvimento e disse em outras ocasiões que o caso é "mais uma farsa produzida pelos democratas". Ele reconhece ter sido próximo de Epstein nos anos 1990 e início dos 2000, mas afirma que rompeu a amizade após uma disputa por um imóvel em Palm Beach, na Flórida. Epstein foi encontrado morto em 2019, numa prisão de Manhattan, em ocorrência registrada como suicídio.
A divulgação dos emails ocorreu no mesmo dia em que estava marcada a posse da deputada democrata Adelita Grijalva na Câmara, o que deve garantir a quantidade de assinaturas necessária para forçar uma votação sobre a liberação de todos os arquivos não sigilosos relacionados a Epstein.
Trump tem sido pressionado para determinar a divulgação completa dos arquivos do caso. Grupos que inclusive formam a base de apoio do presidente exigem que o Departamento de Justiça esclareça o conteúdo dos documentos e identifique envolvidos que ainda não teriam sido expostos.
"Esses emails e correspondências levantam questões gritantes sobre o que mais a Casa Branca está escondendo e sobre a natureza da relação entre Epstein e o presidente", escreveu em comunicado o deputado democrata Robert Garcia, da Califórnia, após a divulgação das mensagens nesta quarta.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, por sua vez, acusou os democratas de vazar as mensagens de forma seletiva "para criar uma narrativa falsa e difamar" o atual presidente. Ela acrescentou que a vítima mencionada, cujo nome foi suprimido, seria Virginia Giuffre, que "afirmou repetidamente que Trump não estava envolvido em nenhuma irregularidade". Ela cometeu suicídio em abril, aos 41 anos.
"Esses emails não provam absolutamente nada, além do fato de que o presidente Trump não fez nada de errado", disse Leavitt.
Republicanos já tinham acusado os democratas de vazar documentos de forma seletiva. A divulgação das 23 mil páginas de documentos adicionais, assim, parece ter como objetivo reforçar essa linha de argumentação.
O escândalo tem causado divisões entre os próprios apoiadores de Trump. Muitos acreditam que o governo esconde informações sobre os vínculos de Epstein com pessoas poderosas, uma teoria encorajada pelo próprio Trump e por pessoas próximas dele quando estava fora da Casa Branca. Segundo uma pesquisa Reuters/Ipsos de outubro, apenas 4 em cada 10 republicanos disseram aprovar a forma como o presidente lida com o tema.
O caso tem potencial, portanto, para desgastar Trump dias após ele registrar a pior aprovação do seu segundo mandato em termos numéricos, com 37% dos americanos aprovando seu trabalho, e 63% desaprovando, segundo pesquisa da emissora CNN feita pela empresa SSRS e divulgada no último dia 3.
Em julho, Trump foi informado pelo Departamento de Justiça de que seu nome aparece diversas vezes nos arquivos da investigação, diferentemente do que o republicano havia afirmado em outras ocasiões.
A menção nos registros, por si só, não indica irregularidades ou envolvimento em atividades ilícitas. Em divulgações anteriores de materiais relacionados ao caso, o nome de Trump já havia aparecido, além de menções à família do republicano, uma vez que ele conviveu com Epstein por anos.
Os materiais aos quais o Departamento de Justiça se referia foram usados na revisão do caso que levou à conclusão conjunta, do departamento do governo e do FBI, para confirmar o suicídio do financista, envolto em teorias conspiratórias, e a ausência de uma suposta "lista de clientes" do esquema de tráfico sexual. A divulgação desse desfecho, em julho, inflamou a base trumpista, que cobra repetidamente a divulgação dos arquivos.
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