O bem mais valioso de seu patrimônio era a fazenda Ponta do Morro, que tinha uma localização estratégica: ficava próxima à principal rota de trânsito da região, o Caminho Novo, que ligava Minas ao porto do Rio de Janeiro.
Com isso, a fazenda se tornou um ponto de encontro para a elite econômica e intelectual da comarca no fim do século 18. Os serões, reuniões noturnas em que grupos de homens normalmente se encontravam para conversar e jogar, aconteciam com frequência na propriedade.
No fim da década de 1780, a elite estava insatisfeita com a crise da mineração e os impostos da Coroa e a política tomou conta desses encontros. Ali, entre partidas de gamão – jogo de tabuleiro
em que, conta-se, Hipólita se saía muito bem -, música e outros divertimentos, os frequentadores começaram a questionar, inspirados pela independência dos Estados Unidos em 1776, se as Minas poderiam viver sem a metrópole.
Em uma época em que as mulheres estavam confinadas no ambiente doméstico, Heloisa Starling chama atenção para o fato de Hipólita estar interessada nessas questões.
‘[Segundo a época] ela não tinha sequer que participar das reuniões com os homens, muito menos debater e assumir liderança. A Hipólita fez isso tudo. Ela é uma personagem completamente fora do padrão’, diz Heloisa Ecoa.
‘A fronteira mais difícil para a mulher atravessar até hoje é a política, é a mulher assumir voz pública. Imagina como era 200 anos atrás’. Fora do padrão
Segundo Starling, uma prova do envolvimento político de Hipólita é que ela foi a única mulher a sofrer uma pena pelo crime de inconfidência: sendo mulher, não foi presa, mas perdeu todos os bens. “Tinha uma história a ser contada aí”, diz a historiadora.
Mas a pesquisa não foi nada fácil: quase nada sobrou de Hipólita, houve um apagamento. Restam muito poucos documentos e só ruínas da fazenda Ponta do Morro.