Um estudo da FGV revela que 68,8% dos beneficiários do Bolsa Família entre 11 e 14 anos e 71,25% entre 15 e 17 anos deixaram o programa até outubro de 2025, indicando uma taxa de saída geral de 60,68%. Essa situação levanta questões sobre a sustentabilidade do programa e a mobilidade social dos beneficiários.
A pesquisa, que analisou dados do Cadastro Único e da RAIS, mostrou que a taxa de saída foi maior em áreas urbanas (67,01%) do que rurais (55,46%), e que a condição de emprego dos responsáveis impacta diretamente na emancipação dos jovens em relação ao programa.
O ministro Wellington Dias destacou que a transferência de renda é um primeiro passo para a superação da pobreza, e a pesquisa sugere que a qualidade do emprego dos responsáveis pode aumentar as chances de mobilidade social para as futuras gerações, apesar das disparidades regionais e raciais ainda persistirem no Brasil.
Um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) divulgado nesta sexta-feira (5) aponta que 68,8% dos beneficiários do Bolsa Família que tinham entre 11 e 14 anos em dezembro de 2014, e 71,25% dos que tinham entre 15 e 17 anos, deixaram o programa até outubro de 2025.
A taxa de saída dos beneficiários sem recorte de idade foi de 60,68% no mesmo período.
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O estudo Filhos do Bolsa Família: Uma Análise da Última Década do Programa usou dados do governo federal. A pesquisa acompanhou famílias inscritas no Cadastro Único e cruzou dados de identificação entre 2014 e 2025.
O estudo também consultou o RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) para identificar a inserção dos ex-beneficiários no mercado formal de trabalho."Nas famílias, os recursos são sempre escassos e no governo não seria diferente. Saber que os filhos de Bolsa Família não necessariamente estarão presentes no Bolsa Família do futuro diz um pouco sobre a sustentabilidade do programa", afirmou o pesquisador e economista Valdemar Pinho Neto, coordenador do estudo.
A taxa de saída dos que eram crianças ou adolescentes (entre 6 e 17 anos) foi maior nos domicílios urbanos (67,01%) do que nos rurais (55,46%). Os que trabalham com agricultura tiveram taxa de saída menor (53,73%) do que em outras atividades (69,73%).
"O objetivo desses programas de transferência de renda é tirar da fome, e tirar da fome é o começo. Depois que tira da fome, como mostra o estudo da FGV, há uma condição melhor para que as pessoas possam estudar, trabalhar, empreender e, com isso, superar a pobreza", afirmou o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) no evento de apresentação da pesquisa, na sede da FGV, no Rio de Janeiro.
Ainda na faixa etária entre 6 e 17 anos, em 2014, 79,40% dos que deixaram o programa tinham na pessoa de referência em casa, como pais, mães ou avós, alguém empregado com carteira assinada.
Outros 65,54% tinham referência em pessoas que trabalhavam por conta própria, 57,51% eram tutelados por empregados sem carteira e outros 52,35% por pessoas que trabalhavam sem remuneração.
Os pesquisadores preveem que a segunda geração de filhos de beneficiários do Bolsa Família -os netos dos beneficiários originais- poderão ter mais chance de mobilidade social, a depender de fatores como o acesso ao emprego e o tipo de vínculo.
"Quanto maior a qualidade do emprego da pessoa de referência, maior a emancipação dos seus filhos com relação ao programa. O que a gente pode esperar é que se o cenário for de maior qualificação dos vínculos de trabalho ao longo do tempo, os filhos dessas pessoas no futuro também vão ter maior propensão a sair, e não depender de programas de transferência de renda, ou qualquer outro programa", disse Pinho Neto.
Crianças e adolescentes sob tutela de alguém que tinha ensino médio completo tiveram taxa de saída maior (69,94%) do que quem não tinha o ensino fundamental completo (57,59%), segundo o estudo.
A taxa de saída foi maior entre homens (71,46%) do que entre mulheres (55,86%). No recorte de cor ou raça, foi maior entre brancos (71,78%) do que entre pretos (63,78%), amarelos (63%), pardos (61%) ou indígenas (44%).
Nesta semana o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou dados que apontam que as parcelas da população brasileira que viviam em condições de pobreza e extrema pobreza caíram em 2024 pelo terceiro ano consecutivo. A taxa de extrema pobreza atingiu 3,5% e a taxa de pobreza marcou 23,1% no ano passado.
O IBGE associou a nova redução a dois fatores: o processo de recuperação do mercado de trabalho e a manutenção do pagamento de benefícios sociais como o Bolsa Família.
A queda dos números, contudo, não eliminou a existência de disparidades regionais e de cor ou raça no país.
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