Abusos, doping e até pitbull para intimidar: paciente denuncia clínica onde esteticista morreu

Publicado em 18/08/2025, às 14h21
Mulher registrou a denúncia junto à Polícia Civil e contou à TV Pajuçara, sob anonimato, os casos de violências durante os nove meses em que ficou internada na 'comunidade terapêutica' - Reprodução / TV Pajuçara
Mulher registrou a denúncia junto à Polícia Civil e contou à TV Pajuçara, sob anonimato, os casos de violências durante os nove meses em que ficou internada na 'comunidade terapêutica' - Reprodução / TV Pajuçara

Por TNH1 com TV Pajuçara

Uma paciente fez uma forte denúncia à Polícia Civil de Alagoas, na última sexta-feira, 15, contra o dono da clínica de reabilitação onde Cláudia Pollyanne Farias de Sant'Anna, de 41 anos, morreu no dia 9 de agosto, em Marechal Deodoro, na região Metropolitana de Maceió.

Sob anonimato, a vítima, que passou nove meses internada na "comunidade terapêutica", relatou diversos tipos de violências e abusos sexuais que teriam sido praticados pelo dono da clínica. Ele é considerado foragido.

A companheira dele, que também é proprietária da clínica, foi presa na sexta-feira, 15, e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva no sábado, 16, pela Justiça.

"Era apavorante, porque a gente era torturado quase todos os dias. Obrigados a fazer serviços na casa repetidamente, quando não era do agrado dele, nós sofríamos espancamento e, principalmente, abuso sexual. Partia do dono da clínica. [A esposa sabia dos abusos?] Ela sempre estava presente não no local, mas (presente) na casa, eles brigavam muito. Ela dava a entender que as brigas deles eram constantes dentro da casa. Ela o ameaçava constantemente que iria deixá-lo se ele não parasse", contou a vítima.

A vítima explicou que só conseguiu deixar a clínica após uma tia visitá-la. A mulher passou um tempo fora dessa comunidade terapêutica, porém, teve uma recaída após todos os traumas que passou e foi internada em uma nova clínica, onde está bem atualmente. 

Veja abaixo mais trechos da entrevista excluvisa exibida pelo Fique Alerta, na TV Pajuçara/Record.

Os abusos ocorria mediante ameaças? 

Vítima: "Era mais ameaça de espancamento, que a gente apanhava muito. E tinha essa questão da 'dopação', que ele dopava a gente 24h. A gente ficava totalmente sem força para se defender, porque era muito remédio mesmo que ele dava pra gente. Então, a gente só vivia dopada dentro da casa.

Além de você, outras meninas também foram abusadas?

Vítima: "Além de mim, teve uma, que não lembro o nome dela, mas que, à noite, ele procurava eu e ela no quarto para estar beijando a boca da gente, para estar acariciando o corpo da gente, com promessas de que tudo aquilo iria acabar, que a gente tinha que se acalmar, que tudo ia ficar bem".

Os espancamentos ocorriam por qual motivo? Por que vocês não queriam tomar o remédio? Ou por alguma situação?

Vítima: "Às vezes, por não querer tomar o remédio, porque a gente sentia que ficava muitas vezes até babando, sem conseguir ficar em pé. Sofri quedas na casa, cheguei a cortar minha cabeça, sangrar e ele não me socorreu. Não me levou ao médico, tive que ser tratada lá mesmo. Qualquer coisa que a gente se negasse a fazer, era um motivo para ele espancar a gente. Ele não gostava de ser contrariado. O que tinha lá era um pitbull, que ele comprou o pitbull e o colocava lá fora para nos intimidar, para não tentarmos fugir".

Vocês tinham atendimento médico ou psicológico?

Vítima: "Eu mesmo tive atendimento psicológico, mas atendimento médico, não. E mesmo assim a psicóloga pedia para eu silenciasse, para que eu não apanhasse mais. A própria profissional dizia que eu não falasse para ninguém, para eu não ter que apanhar mais. (Você disse a ela tudo que acontecia?) Tudo que acontecia, ela sabia, ela tinha conhecimento de todas as agressões.

(Foram meses nesse sofrimento?) Foram nove meses tomando remédio forçado, ele me asfixiava com as mãos, minha boca e meu nariz, ele tampava para eu tomar o remédio à força, me arrastava pelos cabelos, pelos corredores na casa, me jogava contra a parede na cama, me deixava trancada no escuro. Tudo isso era muito difícil, porque eu não tinha nem como avisar minha família".


O caso

A família da esteticista Cláudia Pollyanne registrou, no dia 9 de agosto, um Boletim de Ocorrência para solicitar exames complementares após ter sido informada na Unidade de Pronto Atendimento de Marechal Deodoro sobre hematomas no corpo da mulher, que morreu no sábado, 9 de agosto. 

Ainda no sábado, o representante da clínica também registrou B.O. para informar o óbito às autoridades. A reportagem do TNH1 teve acesso aos dois boletins de ocorrência registrados junto à Polícia Civil.

No relato, o homem diz que a paciente teria entrado em surto de abstinência. Que ela teria sido medicada, jantado e ido dormir. "Ao amanhecer, um colaborador bateu na porta do quarto e foi informado por outras acolhidas que Cláudia Pollyanne não estava bem". O homem afirmou que a levou rapidamente para a UPA de Marechal Deodoro, onde foi constatado o falecimento dela. E que a família foi comunicada.

A família da mulher detalhou no boletim de ocorrência que, ao chegar na UPA, foi informada por uma assistente social e pelo médico de plantão que a vítima já estava em óbito há pelo menos 4 horas e que a Cláudia apresentava hematomas por todo o corpo e olho roxo.

De acordo com a delegada Liana Franco, titular do 17º Distrito Policial, após a repercussão do caso da esteticista, a polícia passou a receber mais denúncias. Após o resgate de uma adolescente de 16 anos, também paciente da clínica, na noite da quinta-feira, 14, a proprietária da clínica foi presa. A menina contou aos policiais que teria sofrido abusos sexuais praticados pelo dono clínica, marido da proprietária.

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