O líder de produção Leandro Rodrigues, 28, passou 12 anos procurando pelo assassino do pai, morto a tiros em 2010 na cidade de Registro, interior de São Paulo. A busca chegou ao fim quando descobriu, pela Internet, após acidentalmente errar o nome do suspeito ao digitar em um mecanismo de busca, que ele havia se mudado para o estado do Paraná, constituído família e aberto duas empresas.
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Leandro tinha 16 anos quando seu pai, Elder Alves, com 38 anos à época, foi assassinado. Ele conta que, no momento do crime, Alves estava indo de moto, com uma ex-companheira na garupa, até a delegacia da cidade de Registro para registrar um boletim de ocorrência contra o suspeito, que já o havia agredido e o ameaçava constantemente de morte.
A poucas quadras do distrito policial, foi interceptado pelo sujeito, que desferiu três disparos. Um deles atingiu a ex-companheira na região da axila. Os outros dois atingiram os pulmões e o coração de Alves. Ele tentou seguir por mais alguns metros, mas acabou caindo sem vida em frente à delegacia.
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| Leandro procurou assassino do pai por 12 anos (Crédito: Reprodução) |
Após as investigações conduzidas pela Polícia Civil de Registro, o suspeito teve a prisão decretada, mas ele já havia fugido da cidade, sem deixar pistas. Leandro, porém, nunca desistiu de procurá-lo. Um dia, em conversa com uma policial amiga da família, recebeu a recomendação de que, se ele queria ver a justiça sendo cumprida, deveria sempre manter contato com o Fórum da cidade.
"Eu estudava na Fundação Bradesco na época e surgiu uma oportunidade de estagiar justamente no Fórum", contou Leandro ao UOL. "Claro que foi Deus quem criou essas coincidências. Consegui ter acesso à documentação do processo e, pela primeira vez, vi as imagens do meu pai caído no chão, na frente da delegacia. Os ferimentos. O sangue. Aquilo foi demais pra mim, foi quando resolvi dar um tempo e sair de Registro".
Promessa no túmulo
Leandro se lembra que antes de partir foi até o cemitério, se ajoelhou em frente à lápide do pai e fez uma promessa. Que não iria descansar até encontrar o assassino. "Falei também que eu ia mudar de cidade, mas que 10 anos depois eu voltaria e seria aí que eu conseguiria encontrá-lo".
O jovem, então com 19 anos, mudou-se para uma cidade que fica a 700 km de Registro para começar uma nova vida. Casou. Teve um filho, hoje com 4 anos. Mas, mesmo reconstruindo a vida, a promessa que fizera ao pai nunca saía de sua cabeça. E ele continuou procurando pistas sobre o paradeiro do suspeito.
"Foi quando, numa dessas buscas na internet, eu errei uma letra do nome dele. Para minha surpresa, apareceu um resultado que não surgia antes. Eu descobri que ele havia aberto duas empresas, com CNPJ e tudo, mas com dados cadastrais conflitantes. A empresa era com sede em Aracaju (SE), mas o telefone era de Curitiba (PR)".
Leandro simulou então dois pagamentos em Pix, para se certificar dos dados que surgiriam. O primeiro, pelo CNPJ. Aparecia o nome do sujeito nas informações de pagamento. O segundo, pelo telefone com DDD 41. Dessa vez, foi o nome da esposa que apareceu.
"Comecei a fuçar as redes atrás dela, porque o assassino não tinha foto em lugar nenhum. Soube que nem o filho que teve com essa mulher ele quis registrar para não ser rastreado. Mas ela, eu consegui encontrar nas redes sociais. E descobri que estavam vivendo em Fazenda Rio Grande, em Curitiba (PR)", contou.
Com as informações em mãos, o líder de produção acionou primeiro a polícia de Aracaju, que confirmou ser o suspeito de assassinato o responsável pelo CNPJ. Depois, ele acionou a polícia de Curitiba, repassando as informações que havia conseguido.
Prisão em ação conjunta
"Consegui então contato com um guarda municipal que tinha essa mulher como seguidora numa rede social. E o policial civil que me atendeu morava a poucas quadras da casa onde o assassino residia com a família. Daí eles fizeram uma operação conjunta entre polícia civil e guarda municipal, que terminou com a sua prisão".
A Polícia Civil do Paraná confirmou a prisão do suspeito e informou que ele deve ser transferido para a cidade de Registro, para cumprir pena. O inquérito está a cargo da Polícia Civil do Estado de São Paulo, que foi procurada para prestar informações, mas até o fechamento desta reportagem não havia respondido.
"Eu não posso dizer que senti alívio com a prisão dele, porque ainda não caiu a ficha. Mas, por um lado, me sinto feliz por ter conseguido cumprir a promessa que havia feito ao meu pai. E com um ano de antecedência", comentou Leandro.
"A Justiça no Brasil ainda tem muitas falhas. Veja que eu, filho da vítima, tive que fazer todo o trabalho de descobrir o paradeiro de um foragido", declarou Leandro. "Então não acredito que ele deva passar muito tempo na cadeia. Que ele seja responsabilizado pela morte do meu pai e arque com as consequências é o mínimo que se espera", declarou.
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