O responsável pelo vazamento de centenas de documentos sigilosos do Pentágono tem 20 e poucos anos, era um entusiasta de armamentos, e trabalhava em uma base militar nos Estados Unidos, revelou o jornal The Washington Post nesta quinta-feira (13).
As informações foram obtidas a partir de uma entrevista com um membro do fórum no Discord onde os arquivos foram vazados originalmente, e corroboradas por outro. Reproduções dos papéis circularam por semanas na internet até chamarem a atenção da imprensa na semana passada.
Ambas as fontes falaram com o jornal americano sob condição de anonimato -uma delas é inclusive menor de idade. Eles disseram saber o nome real do delator, que se apresentava como OG no fórum, assim como o estado onde ele vive e trabalha. E contaram ter se recusado a compartilhar essas informações com o FBI, a polícia federal americana, que conduz uma investigação sobre o caso.
Segundo a dupla, OG começou a publicar os documentos no ano passado, a princípio transcrevendo-os integralmente. Foi só depois que, notando o desinteresse dos demais membros -unidos "por seu interesse mútuo em armas, equipamentos militares e Deus", na descrição do Washington Post-, ele começou a postar fotografias dos papéis.
OG teria dito no fórum que trabalhava em uma instalação de segurança onde é proibido entrar com celulares e outros aparelhos eletrônicos. Segundo o Post, os arquivos sigilosos que ele compartilhou pareciam ter sido impressos em papel comum e exibiam marcas de dobras, como se tivessem sido dobrados em quatro.
As autoridades dos EUA reconheceram a autenticidade de parte dos documentos, embora tenham alertado que uma parcela deles aparenta ter sido adulterada. Segundo analistas ouvidos pelo Washington Post e outros veículos, milhares de funcionários públicos e militares em cargos de baixo escalão poderiam ter acesso a papéis como os compartilhados por OG.
Nesta quinta, o presidente americano, Joe Biden, declarou não estar alarmado com o vazamento. "Estou preocupado com o fato de que ele aconteceu, mas até onde sei, não há nada atual [nos arquivos]", disse a repórteres na Irlanda, onde está em uma viagem oficial de três dias. Além do FBI, o Pentágono também lidera uma investigação interna sobre o episódio.
Mesmo assim, seu conteúdo, que vem sendo revelado aos poucos por diversos veículos de imprensa, tem causado certa saia-justa entre a Casa Branca e alguns governos próximos. Isso porque, além de informações confidenciais sobre a Guerra da Ucrânia, vários dos documentos vazados trazem evidências de que os EUA continuam a espionar nações aliadas.
Depois de acalmar uma pequena crise com a Coreia do Sul na quarta-feira, o governo americano se deparou nesta quinta com uma nova rusga, desta vez com a ONU.
A BBC divulgou o conteúdo de um documento que indicaria que o Pentágono não só monitorava de perto o Secretário-Geral da ONU, o português António Guterres, como avaliava que ele tinha cedido demais às vontades da Rússia nas negociações acerca da exportação de grãos pelo Mar Negro.
"[Guterres está] minando esforços mais amplos para responsabilizar Moscou por suas ações na Ucrânia", diz o texto reproduzido pela emissora. A ONU não se pronunciou oficialmente sobre o vazamento.
Para o membro do grupo entrevistado pelo Washington Post, OG não é pró-Rússia ou pró-Ucrânia. Também não é hostil ao governo dos EUA, embora tenha uma visão negativa das forças de segurança e das agências de inteligência nacionais, que para ele esconderiam informações dos cidadãos comuns.
A fonte ainda afirmou que não acreditar que o delator estava agindo em prol do interesse público ao postar os documentos no fórum. Segundo ele, as publicações tinham como objetivo informar aquele grupo de pessoas do servidor Thug Shaker Central -o nome faz alusão a um termo racista, o que, segundo os entrevistados, indicava que o fórum era um espaço livre para comentários ofensivos e preconceituosos.
Ainda de acordo com a fonte, o fórum reunia não só membros dos Estados Unidos como também da Europa, da Ásia e da América do Sul. Entre os cerca de 25 usuários que tinham acesso ao canal em que OG compartilhava os documentos, metade era estrangeira, e os que mais demonstraram interesse nos materiais sigilosos eram de países do Leste Europeu.
O Washington Post afirma que os documentos começaram a ser postados fora do Thug Shaker Central em 28 de fevereiro, sem o conhecimento dos membros do grupo. Na ocasião, várias das fotografias surgiram em outro servidor do Discord, ligado ao YouTuber wow_mao.
Em 4 de março, dez imagens apareceram em outro servidor do Discord, dedicado ao videogame Minecraft -no mesmo mês, OG começou a parar de compartilhar imagens no Thug Shaker Central. Por fim, em 5 de abril, uma série de documentos acerca da Guerra da Ucrânia foram postados em canais russos no Telegram e no 4Chan. No dia seguinte, o New York Times publicou sua primeira reportagem sobre o assunto.
