Educação

Brasileira está entre os 10 melhores professores do mundo

Débora Garofalo é finalista do Global Teacher Prize, considerado o 'Nobel' da Educação, com iniciativa que transforma lixo em protótipos de sucata

VEJA.com | 21/02/19 - 13h47
A professora Débora Garofalo | Foto/Divulgação

A professora paulistana Débora Garofalo é uma das dez finalistas do Global Teacher Prize, da Varkey Foundation, associada à Fundação Victor Civita no Prêmio Educador Nota 10. Considerado o “Nobel” da educação, a premiação internacional elege, anualmente, o melhor professor do mundo. O vencedor receberá 1 milhão de dólares em uma cerimônia nos Emirados Árabes Unidos, em março.

Embora sua formação original seja em Letras e Pedagogia, a professora de 39 anos conquistou os alunos da Escola Municipal Almirante Ary Parreiras, na periferia de São Paulo, construindo helicópteros, máquinas de refrigerante e carrinhos automáticos — um deles, inclusive, capaz de tocar a canção tema da animação Frozen.

Em 2014, percebendo a carência dos estudantes na área da tecnologia, candidatou-se para lecionar Informática Educativa para crianças do 1º ao 9º ano e, com recursos próprios, aprendeu a transformar lixo em protótipos de sucata. Daí nasceu a ideia de aliar sua disciplina à urgência local de combate às enchentes, em uma região marcada pela pobreza.

“Percebi que muitos alunos não iam à escola em dia de chuva, e que as enchentes eram agravadas pela quantidade de dejetos nas ruas. Pedi que eles observassem onde as pessoas descartavam e trouxessem os eletrônicos e objetos recicláveis”, conta Débora. Desde então, uma tonelada de lixo saiu das ruas, graças ao projeto que mobilizou a comunidade inteira. A iniciativa lhe garantiu um lugar entre os finalistas da premiação.

Outros nove professores concorrem ao título, que no ano passado foi conquistado pela britânica Andria Zafirakou. Este ano, a brasileira compete com representantes de Reino Unido, Holanda, Japão, Argentina, Estados Unidos, Quênia, Índia, Geórgia e Austrália. Débora foi selecionada entre mais de 10 mil indicações e candidaturas de 39 países.

Para a escolha do vencedor, que será anunciado no dia 24 de março, em Dubai, o comitê de premiação leva em consideração o emprego de práticas educacionais escalonáveis, inovadoras, que tenham resultados visíveis, causem impacto na comunidade, melhorem a profissão docente e ajudem os alunos a tornarem-se cidadãos.

‘Super-heróis’
A revelação dos dez finalistas foi feita em vídeo pelo ator Hugh Jackman. “Quando eu era criança, eu queria ser vários super-heróis. Mas agora eu posso dizer, de onde estou, com toda minha experiência, que os verdadeiros super-heróis são os professores. São eles que mudam o mundo”, relatou Jackman, que interpretou Wolverine no cinema. Débora conta que se emocionou muito com o anúncio.

Em entrevista a VEJA, quando foi anunciada entre os 50 finalistas, disse que, para manter o projeto vivo, passou por “um grande teste de resistência”. “Minha comunidade é muito machista. Achavam estranho uma mulher trabalhando com robótica. Tive que conquistar as meninas e ensinar que elas podem ser o que quiserem”, afirmou Débora. O sucesso veio com a redução da evasão escolar. “Os diretores começaram a se encantar quando viram alunos com péssimo se rendimento se destacando”, comemora.

No ano passado, a Varkey Foundation, responsável pelo prêmio, divulgou uma pesquisa inédita que relaciona bons resultados no PISA à valorização dos professores. O Brasil foi o último do ranking, entre 35 países. O objetivo do Global Teacher Prize, criado há cinco anos, é justamente chamar a atenção do público para a importância destes profissionais.

Junto com os outros finalistas, Débora recebeu uma mensagem do empresário Sunny Varkey, presidente da instituição: “Espero que sua história inspire aqueles que pretendem ingressar na carreira de docente, e também destacar o incrível trabalho que os professores fazem em todo o território brasileiro e em todo o mundo, todos os dias”.

Educador Nota 10
O Global Teacher Prize já teve entre seus finalistas dois brasileiros vencedores do prêmio Educador Nota 10, realizado pela Fundação Victor Civita (FVC). No ano passado, chegou à última etapa do “Nobel” da educação o professor Diego Mahfouz Faria, Educador do Ano de 2015. Em 2017, esteve entre os indicados do prêmio global o capixaba Wemerson da Silva Nogueira, Educador do Ano de 2016.

A Varkey Foundation é associada à Fundação Victor Civita para ampliar o reconhecimento do trabalho realizado por educadores nas mais diversas áreas. No Brasil, a FVC tem feito isso há mais de 20 anos por meio do Prêmio Educador Nota 10, o maior e mais importante prêmio da Educação Básica brasileira, e um dos mais respeitados no segmento na América Latina. 

Criado em 1998 pela FVC, o prêmio reconhece professores da Educação Infantil ao Ensino Médio e também coordenadores pedagógicos e gestores escolares de escolas públicas e privadas de todo o país. Desde o ano passado, o prêmio conta com um jurado indicado pela Varkey para a escolha do Educador do Ano. Em março será divulgado o regulamento de sua próxima edição. Ao longo das últimas 21 edições foram premiados 221 educadores, entre professores e gestores escolares, que receberam cerca de 2,5 milhões de reais.