Nide Lins

Cabeça de Bode, só para fortes

Em 16 de Agosto de 2015 às 22:18

Por Redação

fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal

Fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal. A iguaria exótica é uma tradição da Buchada do Vavá no povoado Baixa do Capim, na cidade de Arapiraca

Domingo, dia de sol a pino, e eu seguindo por uma estrada de barro… Mas por uma causa nobre: provar a famosa Buchada do Vavá, no povoado Baixa do Capim, município de Arapiraca. Ao longo dos seis quilômetros de chão, dizia comigo mesmo: “Só vai nesse Vavá quem tem negócio”… Entretanto, aos poucos, meu olhar foi mudando, se harmonizando com beleza do agreste, até que avistei a casa pintada de vermelho. Havia chegado ao meu destino, a Buchada do Vavá.

Fiz o trajeto seguindo a orientação de Cicero Brito, artista plástico de faro apurado para boa culinária nordestina. Lá, deparei-me com um cardápio bem visível na parede, destacando o seguinte item: cabeça de bode – R$ 5,00. Disse logo para seu Vavá, um arapiraquense grandão e simpático, que, além da buchada, também comeria o prato exótico.

A estrada para chegar a Buchada do Bode

A estrada de barro para chegar a Buchada do Vavá

Imaginava algo assustador. Porém, a aparência nada tem de impactante. A massa, bem temperada, é leve e desmancha no céu da boca. Em média seu Vavá compra cinco cabeças, e escolhe as dos machos, e logo pede desculpa: “não é nada contra as mulheres”.

O modo de fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal. Depois de meticulosamente limpa, por fim, é cozida junto com a buchada, acrescentando mais sabor, numa tradição nordestina mantida pelo seu Vavá.

Buchada do Vavá, tradição de 20 anos, no povoado Baixa do Capim

Buchada do Vavá, tradição de 20 anos, no povoado Baixa do Capim

A Buchada é servida de forma clássica, com o delicioso pirão do próprio cozimento. Seu Vavá diz que o segredo é a limpeza, que requer muito cuidado e dedicação.

O preparado tem como base o bucho do bode ou carneiro, recheado com  fígado, vísceras, gorduras – lavadas com limão, vinagre e sal. Em seguida são cortadas, temperadas com cominho, sal, alho,  legumes. Tudo é adicionado ao sangue cozido e machucado (em vez de cortado, numa tradição do fazer diferente de Seu Vavá). Uma vez recheados, os buchos são costurados com agulha e linha comuns.

Ritual: Tirando a linha para comer o recheio da buchada de bode

Ritual: tirando a linha para comer o recheio da buchada de bode

Seu Vavá foi batizado como Lorisval de Oliveira Brito, tem 59 anos. É casado com dona Ivonete, 52 anos. Foi tentar a sorte em São Paulo e lá fez de tudo, de pedreiro a vendedor de feira, até que um dia bateu a saudade, e ele voltou  para Arapiraca – já com a ideia de se dedicar ao que sabia fazer bem, a buchada.

No recomeço em Arapiraca eram apenas Vavá e Ivonete, e a buchada. Sem mesas e nem muito menos cadeiras. Atualmente são 30 mesas, e da cozinha do casal saem de 15 a 16 buchadas aos sábados e domingos.

Vista da Buchada do Vavá, na cidade de Arapiraca

Vista da Buchada do Vavá, na cidade de Arapiraca

Como sobremesa, são oferecidos doces de leite e de banana em rodelas, produzidos por uma associação de mulheres do povoado Baixa do Capim, num arranjo produtivo local muito saboroso.

Empreendedor: Seu Vavá já morou em São Paulo, mas a saudade trouxe de volta para Arapiraca

Empreendedor: Seu Vavá já morou em São Paulo, mas a saudade trouxe de volta para Arapiraca

Fachada da Buchada do Vavá, 20 anos de sucesso na cidade de Arapiraca

Fachada da Buchada do Vavá, 20 anos de sucesso na cidade de Arapiraca

Rota – Buchada do Vavá

  • R$ 25,00 Buchada Reduzida (pra duas pessoas)/R$ 40,00 Buchada Média (pra quatro pessoas)/ Não aceita cartão.
  • Funciona aos sábados, domingos e feriados. Das 11 até as 15horas.
  • Telefone: 99961.6030.
  • Como chegar – Pela AL 220, em frente ao shopping Garden, entre à direita e siga a estrada de barro. São 6 km e placas lhe indicarão o caminho.

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