
Fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal. A iguaria exótica é uma tradição da Buchada do Vavá no povoado Baixa do Capim, na cidade de Arapiraca
Domingo, dia de sol a pino, e eu seguindo por uma estrada de barro… Mas por uma causa nobre: provar a famosa Buchada do Vavá, no povoado Baixa do Capim, município de Arapiraca. Ao longo dos seis quilômetros de chão, dizia comigo mesmo: “Só vai nesse Vavá quem tem negócio”… Entretanto, aos poucos, meu olhar foi mudando, se harmonizando com beleza do agreste, até que avistei a casa pintada de vermelho. Havia chegado ao meu destino, a Buchada do Vavá.
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Fiz o trajeto seguindo a orientação de Cicero Brito, artista plástico de faro apurado para boa culinária nordestina. Lá, deparei-me com um cardápio bem visível na parede, destacando o seguinte item: cabeça de bode – R$ 5,00. Disse logo para seu Vavá, um arapiraquense grandão e simpático, que, além da buchada, também comeria o prato exótico.
Imaginava algo assustador. Porém, a aparência nada tem de impactante. A massa, bem temperada, é leve e desmancha no céu da boca. Em média seu Vavá compra cinco cabeças, e escolhe as dos machos, e logo pede desculpa: “não é nada contra as mulheres”.
O modo de fazer a cabeça de bode é uma ciência, numa técnica que descarta boa parte do crânio do animal. Depois de meticulosamente limpa, por fim, é cozida junto com a buchada, acrescentando mais sabor, numa tradição nordestina mantida pelo seu Vavá.
A Buchada é servida de forma clássica, com o delicioso pirão do próprio cozimento. Seu Vavá diz que o segredo é a limpeza, que requer muito cuidado e dedicação.
O preparado tem como base o bucho do bode ou carneiro, recheado com fígado, vísceras, gorduras – lavadas com limão, vinagre e sal. Em seguida são cortadas, temperadas com cominho, sal, alho, legumes. Tudo é adicionado ao sangue cozido e machucado (em vez de cortado, numa tradição do fazer diferente de Seu Vavá). Uma vez recheados, os buchos são costurados com agulha e linha comuns.
Seu Vavá foi batizado como Lorisval de Oliveira Brito, tem 59 anos. É casado com dona Ivonete, 52 anos. Foi tentar a sorte em São Paulo e lá fez de tudo, de pedreiro a vendedor de feira, até que um dia bateu a saudade, e ele voltou para Arapiraca – já com a ideia de se dedicar ao que sabia fazer bem, a buchada.
No recomeço em Arapiraca eram apenas Vavá e Ivonete, e a buchada. Sem mesas e nem muito menos cadeiras. Atualmente são 30 mesas, e da cozinha do casal saem de 15 a 16 buchadas aos sábados e domingos.
Como sobremesa, são oferecidos doces de leite e de banana em rodelas, produzidos por uma associação de mulheres do povoado Baixa do Capim, num arranjo produtivo local muito saboroso.
Rota – Buchada do Vavá
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