Caminhoneiros não se sentem representados por associação e dizem que greve ganha força

Publicado em 29/05/2018, às 19h41

Por Redação

Caminhoneiros concentrados nesta terça-feira (29) no km 204 da rodovia Presidente Dutra, na altura do município de Seropédica, disseram que não se sentem representados por associações que negociaram o fim da greve com o governo federal, e que não deixarão a estrada até o preço dos combustíveis não baixar na bomba.

Eles afirmaram que querem ser recebidos pessoalmente pelo governo em Brasília, e que a mobilização continua a ganhar força por mensagens de WhatsApp.

Na segunda-feira, outro grupo de caminhoneiros, que está parado na Régis Bitencourt sentido Minas Gerais, disse que o protesto continuaria até quarta-feira, pelo menos. Um deles classificou como "ofensa" o corte de 46 centavos no preço do diesel, promessa do governo para tentar acabar com o movimento.

"Os sindicatos só representam os patrões. O (presidente Michel) Temer não recebeu o bandido da JBS de noite? Por que não a gente? Não vamos sair daqui. Não saiu no Diário oficial a redução do combustível, não baixou na bomba. Temos 500 caminhões desse lado da Dutra e 500 do outro. Aqui temos famílias, crianças, mas somos tratados como criminosos. A pista e o acostamento estão liberados, e estamos numa área particular, cedida, então eles não podem multar ninguém", disse Marcos Santos, uma das lideranças do grupo da Dutra. A Polícia Rodoviária Federal informou que só são multados os veículos em vias e acostamentos.

Alguns caminhoneiros, entretanto, lamentam as perdas pelos dias parados. "Todo mundo quer voltar a trabalhar. O prejuízo é enorme. Se eu achasse que ficar uma semana baixaria mais o combustível, até ficava. Mas o governo não vai recuar mais", lamentou José Carvalho, dono de dois caminhões de transporte de ferro. Um está parado na Dutra, outro na Rio-Santos. Ele se reveza com um funcionário na vigília. Nesta terça, pediu escolta policial para voltar para a capital, com medo de ataques aos veículos - nesta madrugada, chegaram relatos de caminhões apedrejados.

Na Dutra há sete dias, o caminhoneiro Edmilson da Silva, de 47 anos, em atividade já 30 e atualmente transportando produtos para as Lojas Americanas, se disse "exausto". "Já mandamos nosso recado. Não aguento mais. Não estamos satisfeitos mas não conseguiremos mais nada. O governo achou que não teríamos fôlego para mais de dois ou três dias, e aqui estamos nós. Só que estamos perdendo muito dinheiro. Tem gente que recebe R$ 150 por dia e agora recebeu zero. É uma vida muito difícil, que agora o Brasil todo conhece".

Outras lideranças

No início da manhã desta segunda-feira, José da Fonseca Lopes, uma das principais lideranças do movimento dos caminhoneiros e presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) que considera o assunto "resolvido". Seu pronunciamento seguiu as 5 medidas anunciadas no domingo pelo presidente Michel Temer e publicadas em edição extra do Diário Oficial.

"Eu acho que o assunto está definido. O caminhoneiro está antenado, ele também quer sair desse movimento agora, porque já faz sete ou oito dias", disse ele à Folha de São Paulo. "O caminhoneiro agora só tem que agradecer isso aí, no bom sentido, e continuar a vida dele", prosseguiu.

A opinião da Abcam é relevante. Vale lembrar que Lopes foi o único líder que se recusou a assinar a primeira versão do acordo com o governo, apresentado na quinta-feira (24).

Outras lideranças também se pronunciaram. Em conversa com o G1, o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, o China, disse que muitos caminhoneiros não sabem o que está acontecendo, e mantêm a paralisação por "falta de comunicação".

Especificamente em São Paulo, a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens) se reunirá com o governador de São Paulo às 17h para ver se "antecipa o término da greve". A Federação já concordou com os termos propostos pelo governo, mas os grevistas se recusam a retomar a rotina normal.

A CNT (Confederação Nacional do Transporte) considera que "os caminhoneiros foram muito bem atendidos". Em nota, disse que "o bloqueio de caminhões de propriedade das transportadoras é ilegal e pede força policial para que os veículos das empresas voltem a circular normalmente".

Já a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) não trata a paralisação como encerrada.

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