A crescente preocupação com o uso de celulares em teatros e cinemas gerou críticas de artistas como Miguel Falabella e Mateus Solano, que destacam o impacto negativo que esses dispositivos têm na experiência do público e na performance dos atores.
Profissionais da área afirmam que a iluminação dos celulares distrai tanto os artistas quanto a plateia, podendo até resultar em acidentes, como o relato de uma bailarina que caiu do palco devido a uma distração causada por um flash.
Embora não exista uma legislação federal que proíba o uso de celulares nesses ambientes, algumas cidades têm leis municipais que restringem essa prática, e os teatros costumam reforçar a proibição antes dos espetáculos, buscando equilibrar a experiência do público com a necessidade de manter a concentração durante as apresentações.
A discussão sobre o uso de celulares em ambientes de arte, como teatros e cinemas, atingiu um ponto de ebulição nas últimas semanas.
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Nomes como Miguel Falabella e Mateus Solano vieram a público criticar o comportamento da plateia, levantando a questão: o smartphone virou o grande inimigo de quem está no palco?
Profissionais ouvidos por Splash são categóricos ao afirmar que, sim, celulares atrapalham o andamento dos espetáculos, tirando o foco de artistas e do próprio público.
A luz do desrespeito
Falabella, durante a pré-estreia de "Fica Comigo Esta Noite", no Rio de Janeiro, fez uma crítica pública ao uso dos aparelhos. O ator, que está em cartaz com Marisa Orth, disse que o comportamento é um "desrespeito com quem está trabalhando".
"Você sai da sua casa, vai para um teatro, compra um ingresso, para ficar vendo WhatsApp? Não entra na minha cabeça. Vá ver lá fora. A pessoa acha que ninguém está vendo, mas está com uma luz na cara", reclamou Miguel Falabella, em entrevista à Globo.
Nailton Silva, diretor técnico de "Fica Comigo essa Noite", reforça o impacto visual. Ele explica que a plateia fica no escuro durante o espetáculo e, quando a tela de um celular acende, automaticamente o olhar dos atores é conduzido àquela luz que incomoda e tira a concentração.
O produtor Bob Litig, que trabalha no mesmo espetáculo, relata que a falta de concentração causada pela iluminação dos celulares pode ter consequências físicas. Há alguns anos, ele testemunhou uma bailarina cair do palco após perder a concentração devido a um flash muito forte.
O tapa e a interação em cena
Outro caso que gerou repercussão foi o do ator Mateus Solano, em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, no dia 14 de outubro. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra Solano interagindo com uma fã na primeira fileira que estava filmando a cena.
A fã alegou que não havia sido informada sobre a proibição de celulares e que ficou envergonhada quando o ator bateu na "mão e arrancou o celular". Produtores ouvidos pela reportagem questionam: precisa mesmo avisar?
Solano negou ter dado um tapa no aparelho, mas aproveitou a repercussão para debater o tema. Ele defendeu a polêmica como uma forma de levantar a questão sobre a "falta de educação do público" e os limites entre quem assiste e quem está no palco.
A era do post
A mudança no comportamento da plateia, segundo os profissionais ouvidos, seria um reflexo da sociedade atual e do avanço das redes sociais. O produtor Bob Litig resume o dilema: "As pessoas têm uma necessidade muito louca de mostrar para as pessoas que não estão ali, que ela esteve ali".
"O que é uma pena, porque a experiência teatral, a experiência de um show, ela é feita para ser vivida, não para ser postada. A gente não faz um produto teatral, que é um meio de consumo, para que a experiência seja postada nas redes. A gente faz o produto para que a pessoa viva aquele momento", argumentou Bob Litig.
Aline Pereira, que atua como produtora em peças e musicais, concorda que o avanço das redes mudou drasticamente a forma de assistir. "A cada 10 minutos tem alguém acendendo a tela do celular, seja para ver as horas, responder uma mensagem e ver as redes sociais. Acredito que já tenha se tornado algo automático".
Diante desse cenário, as produções buscam formas de lidar com o uso excessivo de celulares sem, contudo, afastar o público. Os teatros geralmente avisam sobre a proibição antes do início do espetáculo.
"O que fazemos nas minhas produções é reforçar que é proibido fazer foto e vídeo durante o espetáculo, por questões de direitos autorais. Porém, o uso do celular no geral, não conseguimos proibir", disse a produtora Aline.
Não há uma legislação federal que proíba o uso de celulares nesses locais, mas a prática é proibida em algumas cidades por leis municipais, como a de Salvador, na Bahia. Além disso, os próprios teatros podem estabelecer suas regras internas, geralmente proibindo ou restringindo o uso.
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