"Chegaram a bater na minha cara": vítima de estupro coletivo relata agressões e trauma de ir para escola

Publicado em 05/09/2025, às 18h58
Foto: Reprodução/TV Pajuçara
Foto: Reprodução/TV Pajuçara

Por TNH1 com TV Pajuçara

Traumatizada, sem conseguir ir para escola, e com cicatrizes pelo corpo que foram provocadas por uma violência extrema. Esse é o relato da adolescente de 17 anos, vítima de um estupro coletivo ocorrido na cidade de Quebrangulo, no Agreste de Alagoas, no último domingo, 1°.

Em entrevista à reportagem da TV Pajuçara/RECORD, na tarde desta sexta-feira, 5, a adolescente, que também teve que lidar com a publicação do vídeo do crime nas redes sociais, contou como foi atraída para uma casa, onde foi abusada sexualmente por quatro homens.

No relato, a vítima, que teria ficado inconsciente durante o crime, disse que estava aproveitando o dia na piscina de um clube, na companhia de outras amigas, quando um conhecido dela, funcionário da escola onde ela estudava, convidou o grupo de amigas para comer uma pizza. 

"A única coisa que eu me recordo é de ter chegado ao clube e ter encontrado esse cara, esse funcionário da escola, que nos convidou para comer uma pizza e para beber alguma coisa na casa dele. Eu me recordo que a gente foi para a casa dele. As minhas amigas foram mais cedo para a casa delas e eu fiquei lá".

"E a única coisa que eu venho me recordar é que eu estava com ele na casa, quando chegaram outras pessoas. Um deles é o abusador do vídeo [que foi divulgado em uma rede social] e o outro, que eu me recordo, é o que me bateu. Mas chegaram outras pessoas, além desses dois, que estavam com ele, só que eu não me lembro, não consigo me recordar. A única coisa que eu me recordo é esse, do vídeo, e o que chegou a me bater", conta a vítima. 

AGRESSÕES DURANTE O CRIME

A adolescente conta que teria se recusado a ter relação sexual com os suspeitos, mas que um deles a teria agredido fisicamente. A vítima apresentava diversos hematomas após o crime. 

"O que eu me lembro é que ele [um dos suspeitos] chegou a bater na minha cara. Creio que por eu ter me recusado a não ter relações com ele. E a certeza que eu tive é que, no outro dia, eu estava com hematomas pelo braço e nas pernas, coisas que eu não tinha antes do ocorrido. O único hematoma que eu já tinha era um na região perna, que foi nos jogos da escola. Fora isso, eu não tinha hematoma algum. Depois do ocorrido, apareceram hematomas no meu braço, perna e joelho", disse

VÍDEO DIVULGADO EM UM APLICATIVO DE CONVERSAS 

A vítima, que teria ficado inconsciente durante os abusos, conta que acordou no sofá da casa para onde foi levada. Ao chegar na casa da mãe, ela ficou sabendo que um vídeo dela sendo violentada estava circulando em uma rede social. 

"Eu acordei na casa dele [funcionário da escola], acordei no sofá. Fui procurar ele na casa, e ele estava dormindo no quarto. Eu acordei ele e pedi para ir pra casa, para que ele chamasse um mototáxi, para eu poder ir pra casa. E, depois disso, fui para casa, e fiquei muito mal em casa, cogitando tomar os remédios da minha mãe. Eu cheguei a tomar um dos remédios da minha mãe e dormi o resto da tarde, e já acordei bem atordoada, sabendo do ocorrido do vídeo [que foi divulgado nas redes sociais por um dos suspeitos do crime]. Pelo que eu sei, começou a circular a partir da tarde, em grupos de conversa". 

SENSAÇÃO DE CULPA E AFASTAMENTO DA ESCOLA

A menina, que estuda na mesma escola onde trabalha o principal suspeito do crime, também falou dos traumas que ficou após sofrer os abusos sexuais sofridos. 

"O que se passa é uma sensação, às vezes, de medo. Sensação de culpa, às vezes a pessoa fica, né. É uma mistura de emoções, muita coisa acontecendo. A pessoa fica com o psicológico bem abalado, mas, em um momento desse, o bom é ver quantas pessoas estão me apoiando nessa situação. Não só a família e amigos, mas o pessoal da escola está me apoiando e isso é muito importante", contou.

"Até agora não, eu não consegui ir pra escola. Pelo menos para estudar, não. Eu cogitei com o meu pai fazer uma visita, pois estou com saudades dos amigos da escola, mas, para estudar, no momento não dá não. Quanto a sensação de culpa, a pessoa fica, pois, querendo ou não, eu não pedi pra isso acontecer, mas por eu estar bebendo, eu meio que me permiti uma situação assim. Na minha cabeça fica esse pensamento. Então eu fico com um pouco de culpa, com vergonha por ter a minha imagem exposta", revelou.

FUNCIONÁRIO FOI AFASTADO DA ESCOLA

À reportagem, a adolescente disse que o principal suspeito do crime foi afastado das atividades. 

"Esse homem é merendeiro e faxineiro da escola. A escola ficou por dentro do assunto e ele já foi afastado. Pelo que eu sei, até agora nenhum deles [ quatro suspeitos] foi preso. Um deles foi intimado, que é exatamente esse funcionário, mas todos estão soltos. Eu nem sei dizer como me sinto, eu nem sei me expressar. Eu me sinto quebrada, é aquela mistura de emoções, muito abalada. É muita coisa que se passa pela cabeça da pessoa", contou. 

"Eu nunca vou esquecer. Por mais que a Justiça seja feita, o trauma continua, tudo isso continua e nunca vai sair da minha cabeça".

A reportagem do TNH1 não conseguiu contato com a escola onde o suspeito trabalhava. 

O QUE DIZ A FAMÍLIA DA VÍTIMA

A madastra da adolescente também conversou com exclusividade com a reportagem da TV Pajuçara/RECORD. Durante a entrevista, a mulher disse que a família prestou todo o apoio necessário para a menina.

"Eu estava na cidade vizinha, na faculdade. E, quando eu saí da faculdade, eu recebi esse vídeo. Perante a isso, eu só pedi a Deus para chegar em casa, para que eu pudesse falar diretamente com o pai dela. Quando eu cheguei em casa, passei toda a situação, ela havia ficado o dia todo guardando isso, envergonhada, com uma mistura de sentimentos. A irmã dela entrou em contato comigo, pois tinha tido acesso ao vídeo também. A irmã dela vive em São Paulo, porém o vídeo chegou até ela e pediu para eu ir até lá, pois a menina estava em um estado desesperador. A mãe dela sofre de depressão por isso eu e o pai dela estamos à frente do caso. 

"Após isso, eu fui atrás dela, na casa da mãe dela. Ela entrou no meu carro, estava chorando muito e totalmente perdida. Eu disse para ela que ela precisaria conversar com alguém, que teria que falar a verdade com o pai dela. Foi quando eu trouxe ela até aqui e ela falou que teria sido abusada sexualmente. Ela disse para o pai que foi abusada e que se lembrava de poucas coisas. As poucas coisas que ela se lembrou foram relatadas para a gente. Foi quando ela começou a passar mal, na tarde da segunda-feira, logo após o vídeo ter sido exposto.

A familiar ainda relatou que a adolescente foi encaminhada para uma unidade hospitalar, onde precisou toma coquetéis para prevenir doenças sexualmente transmissíveis. Em seguida, a adolescente foi encaminhada para fazer exame de conjunção carnal. 

"Nós fomos com ela para um hospital. Eu acompanhei ela desde a entrada. Chegando lá, o pai orientou que ela contasse o ocorrido para o médico. O médico acionou os órgãos competentes, o Conselho Tutelar, e a Polícia Civil. Diante disso, nós fizemos uma queixa, relatando o ocorrido. Ela foi encaminhada, posteriormente, para uma UPA, onde foram feitos testes rápidos, para preservar a saúde dela. Ela precisou tomar coquetéis. No outro dia ela foi liberada e fomos até a cidade de Arapiraca, onde foi feito um exame de conjunção carnal e corpo de delito, por causa dos hematomas que ela tinha", disse.

Diante da gravidade e repercussão do crime, a família da adolescente pede por Justiça. 

"A gente clama por Justiça, pois, não importa amizades ou ambientes, ninguém tem o direito de fazer o que fizeram com ela. Aproveitaram de uma pessoa que estava inconsciente e alcoolizada. Nada justifica o que fizeram. Não tem justificativa para um crime desse passar em branco", finalizou. 

Polícia Civil investiga o caso 

Ao TNH1, a Polícia Civil de Alagoas disse que está investigando o caso e que testemunhas já estão sendo ouvidas. 

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