A conclusão do 'livro de regras' necessário para colocar o Acordo de Paris em ação durante a COP-24 "mostra o sucesso do multilateralismo, ao combinar os interesses nacionais e internacionais", afirmou Xie Zhenhua, negociador-chefe da China nas COPs do Clima.
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A afirmação foi feita na plenária de encerramento da conferência, na noite do último sábado (15), em Katowice, na Polônia. A ascensão de governos nacionalistas e de ultradireita era uma das preocupações dos negociadores no início da COP-24, que se desenvolveu ao longo das últimas duas semanas.
Além de já não contar com o engajamento dos Estados Unidos desde a eleição de Trump, a conferência começou neste ano com a incerteza sobre a manutenção do compromisso brasileiro. O país havia comunicado no início do mês sua desistência de sediar a próxima edição da COP, por pedido do presidente eleito Jair Bolsonaro. No fim das contas, o Chile assumiu o compromisso e será a sede do evento em 2019.
Trump e Bolsonaro têm criticado o sistema multilateral da ONU e privilegiam discursos nacionalistas, invocando a soberania nacional para justificar seus anúncios de saída do Acordo de Paris.
Trump chegou a dizer que as mudanças climáticas seriam uma invenção da China para tornar os Estados Unidos -maior emissor histórico de gases-estufa- menos competitivo. Bolsonaro tem seguido o discurso do americano e os dois presidentes têm proposto revisões nas relações comerciais com a China.
Embora a COP-24 tenha cumprido seu objetivo de regulamentar o Acordo de Paris, os discursos de encerramento mostraram frustração com a falta de ambição para fortalecer as chamadas metas nacionalmente determinadas para o acordo climático (são os signatários que estabelecem como reduzir emissões).
Para a próxima reunião ficou, por exemplo, a discussão de como devem acontecer as negociações dos chamados créditos de carbono -que dá uma espécie de aval ambiental para uma atividade poluidora em troca de que, em outro local, haja medidas que sequestrem CO2 e outros gases-estufa da atmosfera.
Com consenso sobre a urgência das mudanças climáticas, havia a expectativa de que os países poderiam anunciar um adiantamento na revisão de suas metas, com objetivos mais ambiciosos já em 2020, quando o Acordo de Paris começa a ser implementado. No entanto, o prazo continuou o mesmo acordado na França: 2023.
As perspectivas atuais levam o aquecimento global a um cenário de +3°C até o final do século, o que pode trazer prejuízo para diversos países e atividades econômicas.
O novo relatório do IPCC, órgão científico da ONU, recomendava que o pico das emissões globais de gases-estufa acontecesse em 2020, como condição para limitar o aquecimento em 1,5°C e, assim, evitar a submersão dos países-ilhas, como as Maldivas e as Comores, ambas no oceano Índico. O mundo já aqueceu 1,1°C até hoje em relação aos níveis pré-industriais.
Representando organizações da sociedade civil nos discursos finais da conferência, Amalen Sathananthar, da The Artivist Network, disse que "ninguém esperava que a COP-24 salvasse o mundo, mas nós esperávamos mais. E nós merecíamos mais".
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