Com a chegada das festas de fim de ano, especialistas alertam sobre os riscos de mal-estar e intoxicações devido ao consumo excessivo de álcool e alimentos gordurosos, que podem resultar em ressacas e desidratação.
O álcool provoca desidratação e, combinado com refeições pesadas, pode intensificar sintomas como dor de cabeça e tontura; recomenda-se a ingestão de água antes, durante e após as celebrações para mitigar esses efeitos.
Profissionais de saúde sugerem cuidados como evitar chegar faminto às festas, manter a higiene na manipulação de alimentos e buscar atendimento médico em casos de sintomas graves, além de reforçar a hidratação e a alimentação leve no dia seguinte.
Quincas Berro d'Água pode até ter vivido só de cachaça e evitado água a todo custo, como conta o clássico "A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água", de Jorge Amado. Mas exagerar na bebida e descuidar da hidratação não traz bons resultados. Com a chegada do Natal e do Ano Novo, especialistas alertam para cuidados com bebidas e comidas para evitar mal-estar, ressaca e até intoxicações.
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Regadas a vinho, champanhe e cerveja, além de pratos gordurosos como salpicão, salada de maionese e peru, as celebrações de fim de ano costumam deixar muita gente enfadada, inchada, sonolenta, enjoada e até um pouco bêbada no dia seguinte. A ressaca ainda pode apresentar dor de cabeça, tontura e desidratação decorrentes do acúmulo de substâncias tóxicas no corpo.
Para minimizar esses efeitos, o emergencista do Hospital Regional de Varginha (MG) Yuri Castro Santos recomenda moderação no álcool e reforço na hidratação. Segundo ele, beber água antes, durante e depois das comemorações faz diferença. A gastroenterologista Vanessa Prado, do Hospital Nove de Julho, orienta ingerir cerca de um litro de água a mais que o habitual.
O álcool provoca desidratação devido ao efeito diurético a pessoa urina mais e perde líquido rapidamente. Somado ao sono irregular e ao consumo de alimentos gordurosos, o quadro pode intensificar o mal-estar.
"Entre um copo e outro de destilado ou cerveja, é recomendado beber um copo de água para compensar o efeito diurético", diz Santos.
Se houver ingestão muito grande de álcool e surgirem sintomas como sonolência excessiva, vômitos repetidos ou diarreia, especialmente com sangue, ele recomenda buscar atendimento médico.
"Mas, na maioria dos casos, é só um mal-estar geral, uma dor de cabeça, que melhora bebendo bastante água."
De acordo com o nutrólogo Murillo Monteiro, fundador do Instituto Mutare e médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo, é possível reduzir os efeitos da ressaca com alguma preparação prévia e cuidados simples após as celebrações.
Ele explica que a "permissividade consciente" ajuda a equilibrar o período, ou seja, aproveitar as festas, mas de forma planejada. Antes da ceia, ele aconselha evitar chegar faminto ao manter refeições normais ao longo do dia, além de acrescentar fibras e proteínas. Quem já pratica exercícios, até quem não, também pode se beneficiar de treinos pela manhã, que ativam o metabolismo.
No dia seguinte, o álcool pode causar hipoglicemia, deixando o corpo lento e cansado. Por isso, Monteiro sugere consumir carboidratos simples, como arroz com feijão, tapioca ou crepioca, além de reforçar a hidratação para acelerar a eliminação das toxinas do álcool.
Para desconfortos gástricos, antiácidos e inibidores de bomba de prótons, como omeprazol e pantoprazol, podem ajudar, pois a bebida aumenta a acidez estomacal. Já café e energéticos devem ser usados com cautela, porque apesar do estímulo temporário, podem causar efeitos cardíacos em algumas pessoas.
Santos também lembra que, nas festas, aumenta-se a circulação de vírus e bactérias, já que muitas pessoas manipulam alimentos, conversam sobre a comida, trocam copos e talheres e cumprimentam-se sem lavar as mãos.
"Isso aumenta o risco de intoxicação alimentar, uma gastroenterocolite que pode causar diarreia, vômitos, dor abdominal, febre e mal-estar."
Para evitá-la, é importante ter cuidado no preparo. Carnes bovinas, suínas e aves, por exemplo, oferecem risco quando consumidas cruas ou malpassadas.
"As carnes mal preparadas podem conter bactérias como Escherichia coli e Salmonella. O cozimento completo é essencial", afirma. Ovos, frutos do mar e peixes também exigem higiene rigorosa. Leite cru pode conter bactérias perigosas. Frutas, verduras e legumes devem ser bem lavados.
O médico reforça que os alimentos da ceia devem ser mantidos tampados e refrigerados após o consumo. "Viu que o pessoal já comeu? É melhor guardar na geladeira. Para repetir, basta tirar, servir e guardar novamente. E sempre higienizar as mãos antes de comer. Deixar álcool em gel na mesa já ajuda bastante."
Sobre a intoxicação por álcool, ele esclarece que misturar bebidas não aumenta o risco, embora seja preciso atenção para não consumir grandes quantidades. Santos também alerta para um problema comum nessa época: engasgos.
"Durante a ceia, é comum falar enquanto se come, o que facilita que o alimento, em vez de seguir para o esôfago, vá para a traqueia e cause obstrução. Crianças, adultos e idosos podem se engasgar, e cada grupo exige cuidados específicos", afirma. "Manobras simples de primeiros socorros podem salvar vidas."
Para pessoas com diagnósticos como diabetes e hipertensão, Santos reforça a importância de manter os cuidados de rotina, inclusive levar os remédios em viagens de fim de ano.
A gastroenterologista Vanessa Prado compartilh dicas para evitar o mal-estar causado pelo excesso de comidas gordurosas e álcool.
Confira:
Mantenha os remédios que você já usa Quem tem gastrite, refluxo, azia ou outras condições tratadas não deve suspender medicações durante as festas, a não ser que receba orientações médicas para isso.
Mastigue devagar É o principal fator para evitar mal-estar. Nas festas, as pessoas comem falando e mastigam mal. Mastigar bem reduz azia, refluxo e gases, e diminui a distensão abdominal.
Vá devagar no prato Coloque pouca comida, coma com calma e só depois volte a conversar. Comer automaticamente aumenta o risco de mal-estar.
Capriche na hidratação antes das festas Beba água ao longo do dia. Se for exagerar no álcool, aumente a ingestão em 1 litro além do habitual. A recomendação média é de 2,5 a 3 litros por dia, ajustando ao tamanho corporal. Alimentos ricos em glicose, como sucos, ajudam o corpo a lidar com o álcool.
Misture menos bebidas alcoólicas Cada bebida tem acidez e teor alcoólico diferentes; destilados sobrecarregam mais o fígado. Misturar vários tipos aumenta o trabalho do fígado e rins e piora o mal-estar.
Cuide da alimentação antes e durante o evento Não vá à ceia de estômago vazio e mantenha as refeições do dia.
Se exagerou, faça uma dieta leve no dia seguinte Prefira alimentos de fácil digestão, como sucos, legumes cozidos, chás de camomila ou hortelã e preparações líquidas ou pastosas. Evite frituras, condimentos, carnes e pratos pesados.
Cuidado com a conservação dos alimentos Pratos com ovo e maionese devem ficar refrigerados. Atenção especial ao salpicão de frango, que estraga facilmente.
Evite compartilhar copos e talheres O "experimenta aqui, toma um gole ali" favorece contaminações e deve ser evitado.
Quando procurar ajuda médica? Vômitos persistentes, enjoo que impede a alimentação, dor abdominal intensa e diarreia podem indicar intoxicação ou desidratação e exigem avaliação médica.
Mantenha os remédios que você já usa Quem tem gastrite, refluxo, azia ou outras condições tratadas não deve suspender medicações durante as festas, a não ser que receba orientações médicas para isso.
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