Como exame de DNA comprovou origem de câncer em paciente transplantado

Publicado em 17/10/2025, às 10h36
Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

Por TNH1 com agências

Um exame de DNA confirmou uma descoberta alarmante: o paulista Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, desenvolveu um câncer originado no fígado que recebeu em um transplante, realizado em 8 de julho de 2023. O homem foi submetido ao teste no Hospital Albert Einstein, em março de 2024, mesmo mês que recebeu o diagnóstico.

Junior fez o transplante na mesma unidade de saúde e também a quimioterapia após a equipe médica identificar a metástase do tumor no pulmão.

Evidências da origem do câncer no doador:

  • Genotipagem conclusiva: o exame comparou o DNA das células do câncer com o DNA de Geraldo (receptor) e com o DNA do doador.
  • Resultado: as células da neoplasia não têm o mesmo genótipo das células do sangue periférico de Geraldo. O tumor possui o DNA da pessoa doadora do fígado.
  • Cromossomos sexuais: o laudo hospitalar reforça a conclusão ao indicar que as células cancerosas possuem cromossomos sexuais femininos (XX), enquanto Geraldo, sendo homem, possui cromossomos masculinos (XY).
  • Conclusão da origem: a principal possibilidade é que o adenocarcinoma seja de origem doadora, carreado juntamente com o transplante, provavelmente na forma de células isoladas ou micrometástases, manifestando-se clinicamente durante o acompanhamento.

Análise de Especialistas:

Caroline Daitx (Medicina Legal e Perícia) afirmou que o resultado da genotipagem constitui prova definitiva da origem do câncer no doador. Já Paulo Hoff (Oncologista - FMUSP) destacou a excepcionalidade e raridade do caso (ocorre em menos de 0,03% dos transplantes). Ele afirmou ser certo que a doadora teve câncer em algum momento, e o tumor foi transmitido junto com o órgão.

Posicionamento do Ministério da Saúde (MS):

O MS informou à imprensa inicialmente que o órgão transplantado não tinha relação com o câncer. Após confronto com laudo, a pasta afirmou que foram cumpridas todas as normas e parâmetros internacionais na triagem. Não foram identificados indícios de problemas de saúde nos exames realizados no doador antes da doação.

Na situação atual, o MS determinou o acompanhamento de saúde do paciente e está monitorando o caso. Afirmou que, até o momento, os exames não são conclusivos sobre a relação causal, que exige análise minuciosa.

Riscos, alerta e prognóstico:

  • Raridade e risco inerente: embora raríssimo, o risco de transmissão de malignidades ocultas é inerente ao transplante.
  • Necessidade de consentimento informado: a médica Caroline Daitx ressaltou que o paciente deve estar plenamente ciente desses riscos antes do procedimento, o que a esposa de Geraldo, Márcia Vaz, afirmou que não ocorreu.
  • Doadora: era uma mulher que morreu vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Devido à lei de anonimato, outros dados são inacessíveis à família.
  • Prognóstico de Geraldo: exames complementares mostram que o câncer está em metástase, sem previsão de cura. O tratamento será quimioterapia contínua para controle da doença pelo resto da vida. Geraldo, que era técnico de eletrodomésticos, não tem mais condições de trabalhar.

A família busca identificar onde ocorreu o erro e quem o cometeu, para solicitar mudanças urgentes no processo de transplante.

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