Futebol Internacional

Como governo turco ajudou time de Robinho em conquista inédita

Folhapress | 21/07/20 - 23h50
Reprodução / Instagram

Para vencer o Campeonato Turco pela primeira vez na história e obter a classificação para a fase de grupos da próxima edição da Champions League, o Istambul Basaksehir, dos brasileiros Robinho e Júnior Caiçara, contou com uma grande ajuda do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan.

A equipe, que se sagrou campeã no domingo (19) com uma rodada de antecipação, é conhecida por ser uma espécie de "clube oficial" do polêmico governo turco, famoso pelo autoritarismo, pelo fundamentalismo religioso e também pelo populismo.

O Basaksehir foi fundado em 1990, mas passou os primeiros 24 anos de sua história fazendo apenas figuração no futebol nacional. Foi só em 2014, quando Erdogan deixou de ser primeiro-ministro e assumiu a presidência da Turquia, que esse cenário mudou.

Logo no primeiro ano do governo, o clube foi comprado pelo Ministério da Juventude e dos Esportes e virou parte oficial do governo turco. A partir daí, começou a gastar pesado para fazer frente aos maiores times do país.

Ao longo das últimas seis temporadas, vários jogadores conceituados no futebol europeu vestiram a camisa laranja. Demba Ba (ex-Chelsea), Gael Clichy (ex-Manchester City), Martin Skrtel (ex-Liverpool), Eljero Elia (ex-Juventus), Arda Turan (ex-Barcelona), Emmanuel Adebayor (ex-Real Madrid), Emre Belözoglu (ex-Inter de Milão) e Robinho foram alguns desses nomes.

Os resultados não demoraram para aparecer. Em 2017, o time chegou à final da Copa da Turquia. No mesmo ano, foi vice-campeão turco. Na temporada passada, ficou outra vez no quase no campeonato nacional. E, agora, conquistou o primeiro título de elite de sua história.

Um dos filhos do presidente até participou da festa pela taça. Erdogan não esteve presente nas comemorações, mas até já disputou uma pelada com a camisa do clube. Para homenageá-lo, a diretoria decidiu aposentar o número que ele usou naquele dia (12).

A ligação entre Erdogan e Basaksehir é anterior ao futebol. Nos anos 1990, quando o atual mandatário era prefeito de Istambul, ele passou em investir muito dinheiro no distrito que dá nome à equipe por ele se tratar de uma comunidade para a população ultraconservadora e que leva com maior rigidez as regras do islamismo.

O atual presidente turco ascendeu ao poder em 2003, quando virou primeiro-ministro amparado em um discurso ultra nacionalista, conservador e de valorização da tradição muçulmana. Ele virou presidente em 2014 e foi reeleito para um segundo mandato dois anos atrás.

Em 2016, foi alvo de uma tentativa de golpe de estado. Sua resposta foi endurecer o regime e passar a perseguir aqueles que considera ser seus inimigos políticos.

O título do Basaksehir não é histórico apenas por ser inédito ou pela participação ativa do governo de Erdogan no sucesso da equipe. Essa foi a apenas a segunda vez nos últimos 35 anos que o Campeonato Turco não foi vencido por um dos três grandes clubes do país: Fenerbahçe, Galatasaray e Besiktas.

A última zebra havia sido a vitória do Bursaspor, em 2010. Na ocasião, o Fenerbahçe foi vice. Já neste ano, o gigante mais bem posicionado na classificação (Besiktas) ocupa apenas a quarta colocação e está atrás também de Trabzonspor e Sivasspor.

Contratado em janeiro do ano passado para ser a maior estrela que já vestiu a camisa do Basaksehir, Robinho teve uma participação para lá de tímida na campanha vitoriosa. O brasileiro passou a temporada inteira na reserva, esteve em campo em apenas 15 rodadas da competição e não balançou as redes.

No jogo do título, vitória por 1 a 0 sobre o Kayserispor, no domingo, o ex-jogador de Real Madrid e Manchester City só entrou aos 43 minutos do segundo tempo. Segundo o "WhoScored?", site especializado em estatísticas do futebol, ele tocou apenas cinco vezes na bola até o apito final.

Com contrato até o fim da temporada, Robinho dificilmente permanecerá no Basaksehir para a disputa da Champions League. O atacante de 36 anos vem conversando há meses com o presidente do Santos, José Carlos Peres, sobre um possível retorno ao clube onde começou a carreira.