Defesa de entregador agredido por ex-atleta pede que mais testemunhas prestem depoimento

Publicado em 20/04/2023, às 07h36
Taís Codeco/Extra
Taís Codeco/Extra

Por Extra Online

A defesa do entregador Max Ângelo dos Santos, de 36 anos, pede que testemunhas compareçam à delegacia para depor no caso de agressão da ex-atleta Sandra Mathias contra ele. A mulher deu golpes semelhantes a chibatadas em Max com a coleira de seu cachorro. O caso está sendo investigado como lesão corporal e injúria simples. Segundo a delegada da 15° DP (Gávea), ainda não há elementos suficientes para que o crime seja tipificado como injúria racial, delito equiparado a racismo.

— Pedimos para que pessoas que tenham presenciado os xingamentos, que compareçam à delegacia e prestem depoimento. Isso ajudará na investigação e na mudança do tipo de crime — afirmou o advogado Joab Gama.

Até a tarde da última terça-feira, a Polícia Civil já tinha ouvido uma testemunha e intimado outras três pessoas que presenciaram as agressões de Sandra Mathias contra o entregador. A pessoa ouvida pela delegada Bianca Lima afirmou ter ouvido no meio da discussão a palavra “favela” e Sandra dizendo "Me dá o número desse marginal”. A delegada ainda aguarda mais testemunhas para esclarecer o que ocorreu e decidir se mudará a tipificação do crime.

O entregador afirmou à polícia, quando registrou o boletim de ocorrência, que a mulher o chamou de “marginal”, “preto” e “favelado”, alegando que ele havia passado de bicicleta muito próximo quando voltava de uma entrega.

— Quando voltei (de uma entrega) às 22h30, na terça-feira, ela estava parada com o cachorro, passei perto dela. Quando fui guardar as coisas na bag, ela veio na minha direção e começou: “você tem que me respeitar. Você tirou um fino de mim”, sendo que eu nem tinha encostado nela. Aí começaram as agressões verbais. Me chamou de marginal, preto, favelado, me mandou tomar em tudo quanto é lugar. Falei: “a senhora acha que tem que ficar sapateando em cima dos outros por causa disso” — relata Max.

Ele acrescentou que, depois da discussão, que teve o local de trabalho invadido pela professora e, no dia seguinte, registrou uma ocorrência na 15ª DP.Max e seu advogado pedem que mais pessoas relatem o que viram no dia da agressão porque desde janeiro deste ano, o crime de injúria racial se equipara ao de racismo. Com a mudança, aqueles que cometerem atos de discriminação com falas e xingamento em função de cor, raça ou etnia, podem ter penas maiores, sendo de 2 a 5 anos. O tempo de reclusão ainda será dobrado se o crime for cometido por duas ou mais pessoas. Além disso, não existe mais a possibilidade de os acusados desses crimes responderem ao processo em liberdade após pagamento de fiança. Já o crime de injúria existe quando uma pessoa ofende ou desrespeita a honra e dignidade de outra. O delito tem pena de detenção de um a seis meses, ou multa, podendo ser agravado.

Depoimento de Sandra

Sandra prestou depoimento na 15ª DP (Gávea) na última segunda-feira. De acordo com o depoimento ao qual O GLOBO teve acesso, a mulher negou as acusações de racismo e disse que usou a guia da coleira de seu cachorro para "se defender".

Ela confirmou, no depoimento, que a briga começou no dia 4 de abril, após Max passar muito perto dela com a bicicleta, o que entendeu como "desrespeito". Sobre a ocasião, Sandra contou ainda que foi até a loja de entregas e pediu um telefone para fazer uma queixa contra o entregador, mas que, enquanto esperava, Max a filmava e dizia "palavras homofóbicas e provocativas", e que ela disse: "Você é homofóbico", mas não prestou queixa. Ela negou que tenha feito ofensas racistas ou preconceituosas, que só lembra de ter xingado ele de "filho da p*ta" e o mandado "se f*der", e que as agressões verbais foram recíprocas.

Sobre a briga do dia 9, a ex-jogadora de vôlei relatou que passeava com sua cachorra quando Viviane Maria Teixeira, outra entregadora, falou: "E aí, mano? Quando você vai parar de me cuspir?"; no que ela respondeu que nunca cuspiu em ninguém na vida. Segundo o depoimento de Sandra, Viviane continuou as provocações e iniciou ameaças: "Eu vou te amassar... Você é fraquinha... Vou te quebrar, sua velha", e Max apoiava as agressões, falando: "Você mora aqui, é rica e acha que pode nos denunciar?". Mas, em depoimento, a ex-atleta confessou que resolveu agredir Viviane com um soco após as ofensas.

Entregador nega homofobia

Max negou a versão da mulher, que afirmara em depoimento à polícia ter sido alvo de homofobia por parte do entregador. No entanto, ele disse que não tinha conhecimento de que a professor é homossexual. Ele ressaltou que a entregadora Viviane, que foi agredida por Sandra, também é lésbica e que não há cabimento na acusação.

— Ela quer reverter a situação. Isso nunca existiu, ela quer justificar o injustificável. Eu jamais seria homofóbico com ela. Eu sou negro e acho que racismo e homofobia são igualmente ruins. É triste ver que a pessoa errou, mas se nega a reconhecer — frisou.

O que aconteceu com Max Ângelo?

  • A professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá desferiu ao menos quatro chibatadas contra o entregador Max Angelo Alves dos Santos no domingo, dia 9.
  • Ao passar por entregadores, começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”.
  • Max registrou duas ocorrências contra Sandra Mathias, que foi banida de plataforma de delivery após o caso.
  • Após a repercussão, Max ganhou do iFood uma motocicleta e uma bicicleta elétrica.
  • Uma vaquinha para entregador agredido por ex-atleta de vôlei comprar casa própria já arrecadou de R$ 100 mil em menos de um dia.

Gostou? Compartilhe