Descoberta muralha de 2,1 mil anos que pode ter sido derrubada por rei bíblico; vídeo

Publicado em 12/12/2025, às 22h49
Foto: Dor Pazuelo/Museu da Torre de Davi em Jerusalém
Foto: Dor Pazuelo/Museu da Torre de Davi em Jerusalém

Por Revista Galileu

Uma seção significativa da antiga muralha de Jerusalém, datada de 2.100 anos, foi descoberta no complexo da Torre de Davi, levantando questões sobre sua destruição intencional, possivelmente ligada a governantes hasmoneus ou ao rei Herodes.

A muralha, com mais de 40 metros de comprimento e evidências de destruição deliberada, pode estar relacionada a um acordo humilhante durante o cerco de Antíoco VII ou a uma ação de Herodes para apagar vestígios da dinastia hasmoneia.

A descoberta, que inclui fragmentos de cerâmica e moedas, será integrada a uma nova ala do Museu da Torre de Davi, permitindo que visitantes tenham acesso direto à estrutura e ampliando a compreensão histórica de Jerusalém.

Resumo gerado por IA

Uma das seções mais extensas e preservadas da antiga muralha de Jerusalém, erguida há aproximadamente 2.100 anos, foi descoberta no complexo da Torre de Davi, no coração da Cidade Velha. O achado, anunciado na segunda-feira (8) em comunicado da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA), reacende um debate que há décadas intriga os pesquisadores: quem ordenou a destruição sistemática dessa fortificação maciça – os próprios governantes hasmoneus ou o rei Herodes, figura-chave da narrativa bíblica e política da Judeia?

Datada do final do século 2 a.C., a muralha foi descoberta durante as obras de preparação da nova Ala Schulich de Arqueologia, Arte e Inovação, instalada no complexo de Kishle. No período do Mandato Britânico, a área serviu como uma prisão.

Segundo os arqueólogos responsáveis, Amit Re’im e Marion Zindel, trata-se de um segmento excepcional, com mais de 40 metros de comprimento, cerca de 5 metros de largura e pedras talhadas com o relevo característico da arquitetura hasmoneia. As estimativas sugerem que sua altura original ultrapassava dez metros, ainda que hoje apenas o toco da estrutura permaneça.


A muralha corresponde ao que fontes antigas, especialmente Flávio Josefo, chamavam de “Primeira Muralha”, e circundava a cidade na era do Segundo Templo, incluindo a área do Monte Sião. Josefo, cujos escritos servem como principal testemunho do período, descreveu-a como “inexpugnável”, reforçada por dezenas de torres e portões.

Duas hipóteses para a destruição

O que mais impressionou os arqueólogos, porém, não foi apenas a preservação da estrutura, mas as evidências inequívocas de destruição intencional. As camadas mostram que a muralha foi arrasada cuidadosamente “até o chão”, segundo Re’em. “Não se trata de um colapso natural, nem de danos aleatórios de batalha”, afirma, em entrevista ao jornal The Times of Israel. “Quem fez isso tinha um propósito claro.”

Duas hipóteses guiam a discussão acadêmica. A primeira remete ao cerco de Jerusalém por Antíoco VII Sidetes, entre 134 e 132 a.C. Pressionado militarmente, o líder hasmoneu João Hircano I teria aceitado um acordo que previa o pagamento de 3.000 talentos de ouro supostamente retirados do túmulo do Rei Davi e a desmontagem das defesas da cidade. A destruição identificada poderia constituir o vestígio físico desse armistício humilhante.


A segunda hipótese envolve a figura de Herodes, que, décadas mais tarde, ergueria seu palácio exatamente sobre o local. Segundo Re’em, há indícios de que o rei cliente de Roma tenha deliberadamente enterrado o muro como gesto político calculado. A intenção seria apagar traços da dinastia hasmoneia e afirmar-se como único detentor legítimo do poder.


Essa descoberta também se relaciona a achados anteriores. Escavações conduzidas na década de 1980 pela arqueóloga Renée Sivan e pelo arquiteto Giora Solar identificaram centenas de projéteis helenísticos acumuladas ao pé da muralha.


Na época, as pedras de catapulta, flechas e balas de funda foram interpretadas como vestígios diretos do cerco de Antíoco VII. A fortificação teria resistido ao ataque, fazendo com que as armas simplesmente se acumulassem na base. Parte desses artefatos integra agora a exposição do Museu da Torre de Davi. 

Elo visível com a Jerusalém antiga

A muralha recém-exposta também impressiona por permitir acesso à sua face interna – algo raro em achados desse tipo em Jerusalém. Fragmentos de cerâmica e moedas reforçam sua atribuição ao período hasmoneu, ainda que a ausência de argamassa impeça a datação por radiocarbono. A técnica de construção integra o padrão conhecido de fortificações dos Macabeus, com grandes blocos assentados a seco.


Durante as escavações, outra estrutura ainda mais antiga foi localizada: restos de uma muralha que pode remontar ao período do Primeiro Templo (século 10 a 6 a.C.). Amostras desse nível estão atualmente em análise.


Para Eilat Lieber, diretora do Museu da Torre de Davi, o achado amplia a compreensão pública sobre a continuidade histórica de Jerusalém. A nova ala museológica permitirá que visitantes caminhem sobre um piso transparente instalado diretamente acima da muralha, integrando tecnologia, arte contemporânea e arqueologia.


O ministro do Patrimônio de Israel, Rabino Amichai Eliyahu, reforçou o caráter simbólico da descoberta, especialmente durante o período de Hanucá. No comunicado, ele conclui que a muralha “demonstra o poder e a importância de Jerusalém no período hasmoneu”.

Gostou? Compartilhe