Mais que a redução do peso, a cirurgia bariátrica provoca uma revolução nos hábitos alimentares de quem realmente quer mudar de vida. Antes mesmo de passar pelo procedimento, os pacientes são apresentados a sua nova realidade com as orientações nutricionais. O lema é comer menos e melhor para viver mais.
Segundo a nutróloga, Eline de Almeida Soriano, a partir da primeira consulta são observadas as rotinas do paciente. “É preciso entender qual vai ser a dificuldade dele depois da nova fase pós-cirurgia. Se ele é um paciente com uma alimentação muito errada, muito fora do que é saudável, temos que cuidar disso antes do procedimento para ele entender que só vai emagrecer se realmente mudar a forma de encarar a alimentação”, disse a especialista que faz parte da equipe do cirurgião Antônio de Pádua.
Em Maceió, números do Ministério da Saúde apontam que, no ano passado, 58,7% da população estava com sobrepeso. O número é 3% maior do que em 2016. Mas os maceioenses emagreceram e saíram de 21,1% de obesos para 19,1% em 2017. Porém, apesar da queda, os números ainda assustam, pois a média nacional é de 18,9%.
O número pode alarmar, mas dá uma ideia do que vem acontecendo no país: em 2016, mais de 100 mil pessoas passaram por cirurgias bariátricas no Brasil. O procedimento, além da redução de peso, é indicado para o controle ou remissão de diversas doenças associadas à obesidade.
A cirurgia bariátrica é um tratamento eficiente e indicado para pessoas IMC alto e sem resultados satisfatórios no tratamento clínico. “Mas é importante que o paciente entenda que a cirurgia vai além do trabalho de quem o opera. É necessário seguir todas as recomendações médicas no pós-operatório e mudar sua rotina ou o peso volta”, disse o especialista em cirurgias bariátricas e metabólicas, Antônio de Pádua, membro emérito da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
Após a redução do estômago, o paciente passa a conviver com o controle das porções. Os copinhos descartáveis de café, já famosos entre os que passaram pela cirurgia, servem para oferecer a medida exata de nutriente para o novo tamanho do estômago.
“Se ele for um paciente hiperfágico, ou seja, que come muito, ele vai ter uma redução muito importante na quantidade, pois não vai conseguir ingerir muito alimento. A câmara gástrica diminui muito, então essa capacidade cai de 2 litros para 20 ml. Parece pouco, mas já na primeira semana a fome vai mudando e, com o tempo, o corpo vai entendendo que fica bem comendo menos”, explicou a nutróloga.
Eline alerta que a obesidade pode esconder um quadro de desnutrição. “É importante dosar os nutrientes, pois, às vezes, temos um obeso que já tem deficiência de vitaminas e minerais. Ele é robusto, mas não é bem nutrido, ou seja, o que tem em excesso é o tecido adiposo, gordura. Nesses casos, se houver deficiência de B12, que já vai cair depois da cirurgia, podemos tentar repor antes da cirurgia. O resultado é bem melhor”, alertou.

Fases da dieta
No Brasil e no mundo, os métodos mais utilizados para a cirurgia bariátrica são a gastrectomia vertical e o bypass gástrico. Os pacientes precisam de cuidados especiais e uma reeducação alimentar nos primeiros meses após a operação. Com a capacidade reduzida, o paciente é orientado a seguir uma dieta em fases que evoluem da liquida até a normal.
Na fase pré-operatória, ou dez dias antes, o paciente inicia uma dieta hipocalórica para a redução das quantidades. Assim, o paciente vai entender como será a nova dinâmica. Essa redução no peso ajuda na técnica cirúrgica, já que o médico pode chegar com mais facilidade ao estômago.
“Após a cirurgia, o paciente fica no soro e depois, já do primeiro para o segundo dia, inicia uma dieta líquida ainda no hospital. Hoje em dia iniciamos a dieta o mais rápido possível, pois o jejum prolongado é ruim. Durante 15 dias a alimentação será totalmente líquida, sem resíduo nenhum. Serão porções de 50 ml a cada meia ou uma hora para não ter problemas pós-operatórios. Mas como há uma mudança nos hormônios intestinais que atuam no cérebro, o paciente vai passar a ter uma diminuição da fome”, explicou Eline de Almeida Soriano.
Líquida, pastosa e normal
Nos primeiros 15 dias, a dieta é totalmente líquida com porções de 50 ml a cada meia hora. O principal objetivo é o repouso gástrico, a adaptação aos pequenos volumes e a hidratação.
Do 16º ao 30º dia, o paciente começa a introduzir alimentos macios, como pão integral molhado no leite. Nessa fase, o paciente inicia a transição para dieta branda, onde mastigação exaustiva deverá ocorrer.
Do 31º até o 45º dia, alimentos como purês, arroz bem cozido e carne magra desfiada são liberados. O cuidado com a escolha dos alimentos nutritivos deve continuar após esse período, pois as quantidades ingeridas diariamente continuam pequenas.
“Aprender a comer e lembrar que a cirurgia foi um grande passo para uma nova vida são ingredientes importantes que impedem o reganho de peso. Nos primeiros seis meses, quando o paciente perde cerca de 30% do peso, o incentivo para manter uma dieta saudável e uma rotina mais ativa é mais fácil. Após um ano e meio da cirurgia, a disciplina tem que ser cada vez mais reforçada. Alimentação saudável e exercícios físicos são imprescindíveis para que o paciente não volte a ter a vida de antes”, ressaltou a nutróloga Eline de Almeida Soriano.
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