Dois estrangeiros suspeitos de participar de uma organização criminosa especializada na falsificação de documentos brasileiros foram presos em João Pessoa, segundo o delegado Lucas Sá informou ao G1 nesta segunda-feira (23). Em 2015, já tinham sido presos 72 estrangeiros no Rio de Janeiro, que podem ser da mesma quadrilha. O libanês Bahaeddine Nasser Rahal, de 31 anos e o iraquiano Hussein Ali Hussein, de 30 anos, estavam em um hotel no bairro de Tambaú quando foram presos.
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Segundo a Delegacia de Defraudações e Falsificações da capital paraibana, os dois estariam na Paraíba a mando da organização para prestar auxílio aos três suspeitos presos no dia 12 de abril, entre eles o irmão de Hussein, o também iraquiano Feras Ali Haussn, suspeito de de ligação com grupos terroristas ou associações criminosas de cunho extremista.
Os documentos eram emitidos acima de tudo para sírios e seriam usados para imigração ilegal para os Estados Unidos e para a Europa. De acordo com o delegado de Defraudações e Falsificações (DDF) de João Pessoa, Lucas Sá, o grupo utilizava documentos falsos para conseguir o passaporte brasileiro por ter bom reconhecimento por países da Europa e os EUA.
De acordo com Lucas Sá, as prisões aconteceram na sexta-feira (21), em decorrência da primeira operação, realizada no dia 12. Por meio de investigação e de denúncias, a polícia soube que os dois suspeitos, incluindo o irmão de Feras, estavam em João Pessoa para ajudar o trio preso. A equipe da DDF foi até o hotel onde eles estavam hospedados e identificaram os dois.
"Durante a abordagem, eles receberam ligações de um número da Paraíba e identificamos ser de Feras, que estava usando o celular de dentro do presídio. Ele chegou a ir até a delegacia, mas negou tudo e não conseguimos localizar o aparelho. A ligação foi gravada e, como está em árabe, vamos investigar para saber o que foi conversado”, explicou Lucas Sá.
Na delegacia, os suspeitos confessaram a atuação conjunta há vários anos, mas se negaram a apresentar detalhes. “Foram encontradas diversas conversas recentes entre os suspeitos presos em abril e os desta sexta-feira. Estas conversas confirmam a atuação conjunta nas fraudes em investigação”, explica o delegado.
Ainda segundo a Polícia Civil, as conversas entre os suspeitos por meio do celular permitiram a identificação de outras pessoas que residem fora da Paraíba, cujos nomes não foram divulgados. O iraquiano e o libanês foram indiciados pelo crime de organização criminosa e tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva. As novas prisões foram comunicadas à Polícia Federal, à Interpol e à embaixada do Iraque.
A investigação da delegacia aponta que o grupo atua em diversos estados brasileiros, contando com um elaborado esquema e com a colaboração de funcionários públicos e de cartórios para negociar documentos públicos brasileiros - como certidões de nascimento, identidades, passaportes e outros -, que são revendidos a estrangeiros da Arábia Saudita, do Iraque, da Síria, do Líbano e do Paquistão que não preenchem os requisitos para estadia legal no Brasil.
Crime financeiro ou terrorismo?
A polícia trabalha com duas linhas de investigação: crime financeiro ou relação com terrorismo. No primeiro caso, o grupo atuaria com falsificação de documentos para trazer árabes para o Brasil. Já no segundo, eles teriam alguma relação com o terrorismo, e visavam conseguir passaportes brasileiros com intenção de entrar em outros países.
A suspeita de ligação com grupos terroristas surgiu a partir da análise prévia do material encontrado nos aparelhos celulares dos dois estrangeiros presos em abril, incluindo grupos de troca de mensagens com membros de grupos extremistas, vídeos de execuções, fotos de ataques terroristas e de treinamentos de grupos extremistas.
"Os vídeos e conversas [em árabe] vão ser levados para tradução, para saber do que se trata", adiantou o delegado. A Polícia Federal informou que vai iniciar processo administrativo próprio e instaurar um inquérito para investigar o terrorismo ou atividades relacionadas a grupos extremistas.
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