Saúde

É mais gordurosa? Não tem vitaminas? Veja 7 mitos sobre a carne suína

Viva Bem/UOL | 08/09/22 - 07h27
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O brasileiro está comendo carne suína como nunca: em 2021, o consumo médio por pessoa foi estimado em 16,7 kg pela ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) —seis anos atrás, em 2015, esse número não chegava a 15 kg. O preço do produto ajuda a explicar o crescimento do setor, que continua em expansão.

A "carne mais barata do mercado" é considerada uma rica fonte de proteínas, vitaminas e minerais. Seu consumo moderado, dependendo do corte cárneo, pode ser incluído em uma dieta saudável. Alguns mitos, no entanto, ainda cercam o imaginário quando o assunto é carne de porco: é mais gordurosa? Atrapalha o processo de cicatrização? Transmite doenças?

A seguir, entenda por que sete ideias popularmente difundidas sobre a carne suína não são verdade:

Mito #1. Carne de porco não possui nutrientes ou vitaminas

A carne suína é composta principalmente de proteínas —assim como todas as outras carnes—, mas também é rica em vitaminas e minerais, particularmente em tiamina (vitamina B1).

Esse composto, também encontrado em cereais integrais (trigo, arroz), atua transformando nutrientes em energia para os tecidos do corpo e, por isso, é importante para a manutenção do metabolismo energético, além de favorecer a saúde dos nervos.

Fósforo, selênio, e as vitaminas B6 e B12 são outros nutrientes presentes na carne de porco. "O selênio é essencial para o bom funcionamento da tireoide. Uma costeleta de porco de 170 g tem mais de 100% da dose diária recomendada de selênio", afirma Delfim Mohana, nutrólogo e diretor científico da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) no Nordeste.

Isso vale para a carne suína in natura, pois o cenário muda quando o assunto são os produtos suínos processados: bacon, presunto e carne de porco defumada, por exemplo. Essas opções apresentam grandes quantidades de sal (sódio) em sua composição, além de conservantes químicos que fazem mal à saúde. A recomendação é de que sejam completamente evitados ou consumidos em pequenas quantidades.

Mito #2. Carne suína é muito gordurosa

Como a dieta dos porcos está mais balanceada do que antigamente e os animais passaram por alterações genéticas, atualmente os suínos são considerados muito mais magros, tendo perdido, em média, 31% de gordura, 14% de calorias e 10% de colesterol, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Mas é importante lembrar que todas as carnes possuem seus cortes mais gordurosos e outros mais magros. O lombo é considerado a carne suína mais magra. Outras opções que têm menor quantidade de gordura em sua composição são a bisteca, a picanha e o filé mignon de porco. Por outro lado, as partes mais gordurosas do animal incluem o toucinho, o pernil e a costelinha.

A maneira como a carne de porco é preparada também afeta seu teor de gordura. Ao invés de fritar, o recomendável é cozinhar ou assar.

Mito #3. Quem tem problemas cardíacos não pode comer carne de porco

É considerado improvável que o consumo moderado de carne de porco magra, como parte de uma dieta saudável, aumente o risco de doenças cardíacas. Segundo Luis Gustavo Mota, nutricionista do Hcor, hospital de referência em cardiologia, em São Paulo, quem tem problemas cardíacos pode, sim, consumir carne suína.

A Dieta Cardioprotetora Brasileira, desenvolvida pelo Hcor em parceria com o Ministério da Saúde, reúne recomendações nutricionais para pessoas que têm algum fator de risco cardiovascular. Entre os alimentos apontados pelo manual como "mais cardioprotetores", estão as frutas, as verduras, os legumes, o feijão, o leite e o iogurte desnatado, por exemplo.

Todas as carnes, não só de porco, incluem o "grupo azul" da dieta, que engloba alimentos cujo consumo deve ser reduzido. "É necessário controlar e equilibrar o consumo de carnes, por conta da quantidade de gordura saturada e colesterol, nutrientes que, quando consumidos em quantidades exageradas, podem aumentar o risco cardiovascular", afirma Mota.

Mito #4. Carne de porco transmite doenças

A professora Marise Aparecida Rodrigues Pollonio, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que, no passado, era comum que os rebanhos de porcos fossem criados em situações precárias de higiene, com acúmulo de umidade, fezes e outros detritos, além de comedouros em locais inadequados e contato dos animais com ambientes contaminados. "Isso criava condições para ocorrência de várias doenças transmitidas pela carne de porco", diz a especialista.

Com a modernização da cadeia produtiva, avanços na vigilância sanitária e melhorias na dieta do animal, no entanto, Pollonio afirma que houve uma redução drástica no risco de transmissão de doenças pelo consumo de carne suína.

"Quando a produção de carne suína ocorre sob fiscalização sanitária, essas práticas são proibidas e todo sistema de produção é controlado por normas de higiene, desde a obtenção dos leitões até o frigorífico e durante todo o abate", enfatiza.

Vale lembrar que qualquer tipo de carne (suína ou não) que for produzida em situações precárias de higiene e inspeção corre o risco de conter bactérias e vírus —daí a importância de verificar a procedência da carne. Aquelas que são vendidas em mercados e açougues geralmente têm certificação do SIF (Serviço de Inspeção Federal) do Ministério da Agricultura.

Outro aspecto importante é fazer o preparo, higienização e cozimento adequados da carne. O consumo de carnes contaminadas pode estar associado à transmissão de doenças como a teníase.

Mito #5. Carne de porco atrapalha o processo de cicatrização

"Não temos na literatura científica estudos que sustentam esse grande mito entre o consumo da carne de porco e a não cicatrização", afirma Mota.

O nutricionista do Hcor explica que as carnes vermelhas, no geral, são fontes de ferro, um nutriente que atuam na formação de hemoglobina e na síntese de colágeno e zinco, dois compostos que estão envolvidos na modulação da resposta imune e são importantes em todo o processo de cicatrização. "Sendo assim, a carne suína pode ser consumida após cirurgia", conclui.

Mohan acrescenta que as evidências científicas atuais apenas indicam que dietas hipercalóricas e ricas em gordura saturada crônicas seriam desfavoráveis ao processo inflamatório cicatricial.

Mito #6. Carne suína aumenta o colesterol "ruim"?

Estudos sugerem que carnes vermelhas magras —bovina, vitela e porco— não são hipercolesterolêmicas (causadoras de taxas elevadas de colesterol "ruim", ou LDL) quando comparadas com carnes brancas magras, como as aves e peixes. "Quando o consumo está associado a uma alimentação saudável, independentemente de ser carne vermelha magra ou carne branca magra, pode produzir redução semelhante no colesterol total e LDL", diz Mota.

O corte suíno mais magro, o lombo, é equivalente ao filé mignon bovino em quesitos como gordura, colesterol e calorias, e fica abaixo da sobrecoxa de frango, por exemplo. Enquanto 100 g do lombo assado têm 210 kcal, 6,4 g de gordura e 103 mg de colesterol, a mesma quantidade de filé mignon bovino grelhado apresenta 220 kcal, 8,8 g de gordura e 103 mg de colesterol. Já a mesma porção de sobrecoxa de frango assada com pele têm 260 kcal, 15,2 g de gordura e 158 mg de colesterol.

Mito #7. Grávidas não podem comer carne suína

Não há nenhuma restrição específica em relação ao consumo de carne suína durante a gestação. "Desde que de boa procedência e preparada da forma correta, uma mulher grávida pode ingerir carne de porco", diz o diretor científico da Abran no Nordeste.