Empresária busca pessoa que tatuou rosto de seu filho sem autorização

Publicado em 03/12/2022, às 07h28
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por Extra Online

A microempresária Preta Lagbara, mãe do menino Ayo, de 4 anos, que teve o rosto tatuado no corpo de uma pessoa desconhecida sem sua autorização, ainda tenta descobrir quem foi a pessoa tatuada. Ela acredita que o compartilhamento da imagem da tatuagem vai fazer com que a pessoa apareça e se identifique.

— Como a mãe da criança, eu tenho o direito de saber quem é esse homem que está andando por aí com a foto do meu filho. Ele vai andar de calça jeans e de casaco até que dia? Essa foto tomou uma proporção enorme. É melhor ele vir falar comigo, que estou procurando resolver da melhor forma, pra todos nós, que tenho a consciência de que ele foi apenas a "tela", do que ficar andando por aí na rua podendo ser identificado a qualquer momento, porque as pessoas estão ensandecidas com essa história. Ainda não entendi o porquê dessa proteção toda — desabafou Preta.

O tatuador Neto Coutinho conquistou o segundo lugar na categoria Portrait na Competição Tattoo Week, em São Paulo, em outubro. A categoria abrange reprodução de retratos de uma ou mais pessoas em primeiro plano.

Preta contou que, desde que soube da possibilidade de ver o rosto do seu filho estampado no corpo de um desconhecido, ficou desestabilizada. O que a deixa mais tranquila é a forma inocente como Ayo tem enfrentado a situação.

— Ele sabe que teve o rosto tatuado, tem essa noção, mas é tão inocente que ele acha que é uma tatuagem temporária dessas infantis. Inclusive, ele falou para eu não ficar chateada nem triste porque, quando o rapaz tomar banho, vai sair. Ele disse: "Mãe, se ele não tirar, a gente chama um tubarão pra morder ele de leve e tirar (a tatuagem)" — conta.

Para Preta, é preciso que fotógrafos e tatuadores mudem a postura em relação à forma como retratam pessoas:

— Muito me incomoda quando vejo pessoas entrarem em comunidades e fotografarem crianças. Depois, as fotos vão parar em festivais e premiações sem sequer a família ficar sabendo. É a questão de ter nossos corpos violados como se fosse foto de ninguém. Acham que não vai dar em nada porque é criança preta, filho de mulher de favela ou criança do continente africano. Se eu não tivesse visibilidade por ser mãe de santo e ativista, ninguém ficaria sabendo disso.

O fotógrafo Ronald Santos Cruz, autor da foto de Ayo, disse que sempre busca a origem de quem fotografa.

— Sempre procuro buscar a história, a identidade, a origem da pessoa porque isso é importante. É o registro que fica para a história. Estamos cansados de ver fotos premiadas e a gente nem sabe quem está ali. Quando tiramos uma foto sem permissão, isso acaba com a privacidade. Nas minhas fotos, busco capturar o sorriso, a felicidade, principalmente do povo preto. Há uma ausência de referência de pessoas negras sorrindo. Nossos registros não são felizes — explica Ronald

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