De todos os livros que li este ano, Geração Ansiosa foi um dos que mais mexeu comigo. Primeiro, por ser mãe — afinal, a obra aborda o impacto das redes sociais na saúde mental de crianças e adolescentes. Segundo, por ser profissional de marketing e saber que as redes hoje são o principal canal usado pelas marcas para alcançar seu público.
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Não poderia passar por essa leitura sem me manifestar. Para quem se interessa pelo tema, recomendo muito: o texto é fluido, cheio de dados e pesquisas. É claro que, como toda obra, não é uma verdade absoluta. Os estudos apresentados têm recortes específicos e precisam ser lidos com um olhar crítico. Ainda assim, o livro traz reflexões que dialogam tanto com famílias quanto com empresas que desejam causar um impacto positivo no mundo.
Então, aqui estão alguns pontos que me marcaram:
“Ser ignorado é doloroso em qualquer idade.” Plataformas baseadas em imagens ampliam a comparação social e têm prejudicado a saúde mental, sobretudo entre meninas e mulheres jovens. O córtex pré-frontal — responsável pelo autocontrole e discernimento — só amadurece por completo aos 25 anos. Isso significa que crianças e adolescentes não estão preparados para lidar com a vida editada dos feeds nem com críticas e comentários que muitas vezes são cruéis.
As redes sociais funcionam como uma “kriptonita” para a concentração. O design do feed infinito e das notificações não é acidental: ele foi criado para manter o usuário conectado pelo maior tempo possível. O problema é que, com essa dinâmica, a capacidade de foco é constantemente corroída. E o mito da multitarefa apenas agrava o quadro, já que alternar atenção entre tarefas nunca é tão eficiente quanto parece.
Crianças e pré-adolescentes atravessam um período de intensa reconfiguração cerebral, no qual conexões neurais pouco usadas são eliminadas. Quando, nessa fase, o cérebro é “treinado” para consumir apenas conteúdos rápidos e superficiais ditados por algoritmos, os prejuízos para aprendizagem e desenvolvimento cognitivo podem ser enormes.
Outro ponto essencial do livro é a importância de resgatar o brincar livre e real. Crianças precisam de experiências fora da tela, com liberdade e até algum risco. É nessas interações que aprendem a lidar com emoções, resolver conflitos, esperar a sua vez e desenvolver resiliência. Em outras palavras: não dá para terceirizar toda a infância para o digital.
O marketing pode ser parte do problema ou da solução. Para as marcas, também não cabe mais o “vale tudo”. Estratégias que priorizam apenas métricas de curto prazo, sem considerar o impacto humano, podem gerar resultados imediatos, mas destroem confiança a longo prazo.
Cabe às marcas repensarem estratégias que exploram gatilhos viciantes e estimulam a comparação social, assumindo compromissos éticos. Comunicar-se com responsabilidade fortalece a confiança, gera valor genuíno e contribui para uma sociedade mais saudável e humana.
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