Espumantes zero álcool ganham mercado mirando mais jovens e evangélicos

Publicado em 24/12/2025, às 13h19
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Por DANIELE MADUREIRA/Folhapress

O mercado de espumantes sem álcool no Brasil está em crescimento, representando atualmente 5% das vendas totais e projetando um aumento de 6,2% para 29 milhões de litros em 2023, após um período de queda durante a pandemia.

O interesse por espumantes 0% álcool está sendo impulsionado por novos públicos, incluindo usuários de medicamentos e pessoas de fé que evitam o álcool, além de uma mudança cultural entre as novas gerações que consomem menos bebidas alcoólicas.

Fabricantes como Henkell Freixenet e Salton estão lançando novos produtos e promovendo eventos para aumentar as vendas, especialmente durante o verão e o Carnaval, enquanto a categoria de espumantes se beneficia de uma maior aceitação e demanda no mercado.

Resumo gerado por IA

Parte dos brindes nas festas deste fim de ano serão feitos com espumantes sem álcool. O produto ainda representa pouco, cerca de 5% das vendas totais mas vem puxando o crescimento da categoria de espumantes, que deve avançar 6,2% neste ano para 29 milhões de litros comercializados no varejo (sem contar bares, restaurantes e hotéis), segundo a consultoria Euromonitor International.

É o quinto ano seguido de crescimento, depois que, em 2020, em plena pandemia, as vendas caíram 11%. Agora, os fabricantes vêm reforçando os lançamentos 0% álcool de olho em novos públicos que não consumiam o produto, a exemplo de usuários de medicamentos (muitas vezes mais velhos, que evitavam beber) e parte do público religioso, muitos deles evangélicos, que desaprova o consumo de álcool.

Existem ainda as novas gerações que, em todo mundo, vêm consumindo cada vez menos bebidas alcoólicas, o que desafia a indústria a criar novos produtos. "Estamos vivendo uma mudança cultural profunda", diz Fabiano Ruiz, vice-presidente da Henkell Freixenet para a América Latina, que trabalha com a marca espanhola Freixenet.

"Considerando todas as categorias de bebidas alcoólicas, o Brasil está entre os países com maior projeção de crescimento para os produtos sem álcool, só atrás dos Estados Unidos", afirma Ruiz, citando dados da IWSR (International Wine & Spirits Research), especialista em análises para a indústria de bebidas alcoólicas. Entre 2024 e 2028, a venda de bebidas sem álcool deve crescer 10% no Brasil, enquanto nos EUA a projeção é de 18%.

Em espumantes, somente este ano, foram lançados 24 novos produtos no país sem álcool, de acordo com levantamento da consultoria Iscam Brasil.

Na Henkell Freixenet Brasil, os espumantes 0% álcool já somam 9% do faturamento. "Fomos os pioneiros a explorar este segmento", diz Ruiz, que afirma liderar a venda do produto com 33% de participação de mercado. O ano de 2025 deve encerrar com a comercialização de 260 mil garrafas de espumante sem álcool Freixenet, frente a 200 mil no ano passado.


A gaúcha Salton, líder entre os espumantes nacionais, confirma a tendência de lançamentos 0% álcool. "É um produto não só relacionado aos hábitos da geração Z, mas também de muitos esportistas e de outros públicos que estavam um tanto quanto invisíveis para a indústria: grávidas, pacientes de medicamentos de uso contínuo e os motoristas em geral, cada vez mais conscientes", diz Luciana Salton, diretora-executiva da vinícola.


"Ninguém quer ficar de fora de uma celebração, de brindar com amigos e família porque não bebe. É um produto que inclui", afirma a executiva.


A também gaúcha Garibaldi, que soma 470 cooperativas associadas, percebe a demanda crescente por produtos com menor teor alcoólico ou sem álcool. "É um segmento que cresce até 30% ao ano e já representa cerca de 7% das nossas vendas", diz Alexandre Angonezi, diretor-executivo da Garibaldi, que deve encerrar o ano com faturamento em torno de R$ 300 milhões.

ÚLTIMO TRIMESTRE CONCENTRA 60% DAS VENDAS DA CATEGORIA

Outra linha de frente dos fabricantes para ampliar a venda dos espumantes em geral é tentar emplacar o produto para além do último trimestre do ano –que concentra 60% das vendas do ano. A ideia é fazer cada vez mais eventos aproveitando o verão, em especial o Carnaval, associando o consumo da bebida a algo festivo e refrescante, que não exige uma ocasião especial.

"Neste verão, vamos promover uma temporada de 45 dias de ativação dos produtos no Bar do Meio, em Fernando de Noronha", diz Adriano Clavdar, diretor de marketing da Moët Hennessy, responsável pelas marcas Chandon e Veuve Clicquot. A ação vai promover em especial a Clicquot Rich, criada para degustação com gelo e frutas ou para compor drinques.


A empresa ainda não conta com rótulos 0% álcool, mas vem estudando a categoria, assim como as bebidas de menor teor alcóolico. "Além de beberem menos, os jovens também consomem álcool durante o dia, durante festivais de música, ou numa festa 'sunset' [ao pôr do sol]", diz Clavdar, lembrando que os drinks com espumantes são cada vez mais populares.
No Carnaval, a marca Chandon vai promover ações de degustação em 25 camarotes, entre São Paulo, Rio e Recife. No verão, deve levar os espumantes para ações em 30 restaurantes badalados, de São Paulo, Rio, Recife, Brasília e Salvador.


Os fabricantes em geral buscam associar o consumo do produto à gastronomia, participando de feiras e eventos do setor. Na opinião de Paulo Solmucci Júnior, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), a categoria de espumantes vive um momento muito positivo: o mercado como um todo (varejo, bares e restaurantes) soma cerca de 40 milhões de litros, sendo 84% de espumantes nacionais e 16% de importados. Com mais produtos nacionais, o preço não é uma barreira.


"Mas é preciso promover mais estratégias de venda, com treinamento da equipe dos estabelecimentos", diz. "Maîtres e garçons devem oferecer mais a bebida, que pode ser vendida em taças. Existem formas de preservar as propriedades do líquido, mesmo depois de a garrafa aberta", diz Solmucci.

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