Comportamento

Estagnado ou ansioso? Especialista fala sobre comportamentos de risco no pós-isolamento

Gilson Monteiro | 08/10/20 - 09h23

11 de março de 2020. A Organização Mundial de Saúde decreta pandemia mundial do novo coronavírus. A consequência prática disso foram meses de isolamento, que ainda não acabou, mudança repentina e radical na rotina, projetos de vida cancelados ou adiados, sonhos desfeitos. E as consequências comportamentais e psicológicas de tudo isso?

O TNH1 conversou com o psicólogo clínico Luis Gustavo Tenório sobre como anda a cabeça das pessoas após meses de isolamento mais rígido, que agora começa a ser flexibilizado.

Ele explica que, entre tantas formas de lidar com esse momento de pandemia, dois tipos de comportamentos se destacam. Enquanto um grupo se excede tentando compensar o tempo perdido, outro sofre com uma “paralisia”, uma certa apatia que os impede de retomar à rotina e tocar os projetos parados.

“A pandemia iniciou uma mudança abrupta na nossa rotina diária. Experimentamos o isolamento social, o trabalho remoto, compra, venda, aulas e consultas pela internet. É perceptível todas essas modificações e todas essas mudanças repercutiram de forma subjetiva em cada indivíduo”, afirma o psicólogo. 

Luis Gustavo explica que um primeiro grupo de pessoas soube utilizar bem o período de isolamento.

“Houve um grupo de pessoas que conseguiu atravessar esse momento de pandemia de forma totalmente funcional e adaptativa, utilizando-se do excesso de tempo de forma criativa e produtiva, estimulando seu potencial, seja aprendendo um novo idioma, lendo um livro, fazendo atividades físicas”, explica.

Por outro lado, houve quem desenvolveu "comportamentos disfuncionais, o que pode acarretar uma série distúrbios, que podem ir da redução da energia física a crises de ansiedade e até depressão.

“Em contrapartida, um outro grupo vem vivenciando esse momento de forma disfuncional, gerados pela psicomatização do estresse diário gerado por esse momento. Podemos citar entre esses comportamentos a procrastinação, com dificuldade de manter o foco e dar seguimento às tarefas, redução de energia para atividades diárias, o desligamento de parentes e amigos”, elenca Luis Gustavo.

Edição de vídeos: Wando Cajueiro.

Síndromes que podem surgir no pós-pandemia

O especialista faz uma alerta para problemas que podem surgir a depender da postura de cada pessoa frente às mudanças tão radicais na vida de todos a partir do período de pandemia, entre eles:

►Transtornos pós-traumáticos

►Fobias

►Ataques de pânico

►Crises de ansiedade

►TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)

►Depressão

“Faço um alerta em relação aos cuidados a atenção a algumas síndromes e transtornos desencadeadas também por esse processo de pandemia. Pessoas desenvolveram apatia, tristeza, a própria depressão, a falta de motivação para realização de suas tarefas, fazer previsões negativas a respeito de seu futuro, achar que este ano não tem mais jeito, que seus planos foram por água abaixo, imaginar o pior dos cenários”, explica.


Dica: 4 palavras fundamentais no pós-pandemia

Você se identificou com algum dos distúrbios citados acima por Luis Gustavo? O especialista orienta. 

“Caso você tenha se identificado com algum desses comportamentos, ou reconhecido em alguma pessoa de seu convívio, repasse essas informações, e também oriente, para que procurem um auxílio profissional, uma psicoterapia. Isso é importante para reintegração à sociedade, com o resgate do bem estar e da qualidade de vida”, afirma.

Mas para dar um ajudinha, como uma espécie de exercício prático, o psicólogo cita quatro palavras, sentimentos que precisam, orienta ele, ser retrabalhados e que podem ajudar na retomada da vida nesse momento de incertezas.

Assista

►ACEITAÇÃO - Muitos tiveram seus projetos de vida adiados. Então fica uma sensação de injustiça, procurando um culpado. Nada disso vai adiantar. É algo que já ocorreu, e que não temos o poder de modificar. Mas aceitando essa realidade, temos como prospectar possibilidades para alavancar nossos anseios e desejos.

►EMPATIA – A possibilidade de se colocar-se no lugar do outro. É um momento totalmente oportuno para o exercício da solidariedade, algo que é tão nosso, que tem sido perdido com o passar dos tempos. Ter essa dimensão que uma ação sua, negligente, pode acabar em prejuízos irremediáveis na vida de outras pessoas.

AUTOPERDÃO – Muitos abriram empreendimentos, projetos que tanto almejaram. E muitos acabam se cobrando de forma excessiva, se culpabilizando. É preciso ter compreensão de que temos os nossos planos, mas que o rumo da vida segue seus próprios planos. É preciso não se cobrar por aquilo que estava à margem do que você pudesse mudar. Ter essa compreensão já tende a trazer a sensação de paz e tranquilidade e, principalmente, liberdade.

CORAGEM – Houve uma desilusão, o medo, o receio de retornar à rotina diária. As pessoas estão amedrontadas com toda essa situação, e precisamos da coragem para exercitarmos a resiliência, ter compressão que é um momento difícil, mas que passo a passo vamos conseguindo dar um desdobramento diferente para vida da gente, resignificando, em meio a tantas perdas, novas possiblidades de como rumar de uma forma diferente, que possamos colher algo de benéfico, extrair um aprendizado daquilo que foi tão doloroso, que gerou tanto sofrimento.