Maceió

"Estamos apavorados": o relato dos moradores do Bom Parto após rompimento de mina

Ana Carla Vieira, Lelo Macena e Paulo Victor Malta | 10/12/23 - 19h28
Reprodução

A reportagem da TV Pajuçara esteve no bairro Bom Parto, no início da noite deste domingo, 10, e ouviu o relato de moradores do bairro que continuam em suas casas e estão com medo do rompimento da mina 18, da Braskem, ocorrido às margens da laguna Mundaú, no Mutange. 

Ao repórter Netto Motta, algumas pessoas revelaram que sirenes chegaram a tocar em três momentos após o abalo, que foi registrado pela Defesa Civil de Maceió às 13h15 deste domingo, 10 de dezembro. 

"Estou tirando minha mãe com meus três filhos daqui. Com tudo isso que está acontecendo, estávamos com medo e agora é que estamos apavorados, à flor da pele, sem saber o que fazer. Meu quintal dá de cara com a lagoa. O começo da minha rua foi incluído no mapa, e a minha casa e casas das demais pessoas não foram incluídas no mapa, sendo que é à margem da lagoa", afirmou Andressa, moradora da região. 

A Justiça Federal determinou, na quinta-feira, 30 de novembro, que a Braskem adote providências em relação ao novo mapa elaborado pela Defesa Civil Municipal, que inclui no Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF) novos imóveis localizados no Bom Parto.

"Ultimamente não tenho dormido direito. Tenho tido crises de ansiedade constantes. E também fiquei triste, pois disseram que o meu lado sai, mas o lado da casa da minha irmã e do meu filho não saem. Como mãe, fica difícil dormir, saber que saio e o meu filho não. Ficamos entre a cruz e a espada", disse Alice Graciele Teixeira, moradora do Bom Parto.

Segundo o coordenador da Defesa Civil municipal, Abelardo Nobre, houve rompimento do teto da mina e os primeiros dados indicam que as outras minas ao redor não apresentam comportamento anormal.

"Misericórdia, fiquei muito abalada. Estava sem celular, quando meus vizinhos informaram e fui olhar. A minha casa é bem na esquina da lagoa. Se tiver uma coisa grande, a minha casa vai ser a primeira. É a última do mapa quase, mas é a primeira (próxima da lagoa). Fiquei com o coração à flor da pele", comentou Alice.

"Disseram que era para a gente evacuar, que até a polícia estava vindo para nos retirar. Que era para irmos para um colégio. Vou sair do conforto do meu lar, da minha casa, para ficar em colégio, a Deus léu, esperar que chegue alguma coisa. E outra, a mercê de sair da minha casa e, quando voltar, pode não ter nada. 

Pela manhã, a Defesa Civil já havia confirmado a aceleração do afundamento do solo da mina, que naquele momento chegou a 12,5 centímetros nas últimas 24 horas. O deslocamento total era de 2,35 metros antes do rompimento desta tarde.

"Ultimamente não tenho dormido direito. Tenho tido crises de ansiedade constantes. E também fiquei triste, pois disseram que o meu lado sai, mas o lado da casa da minha irmã e do meu filho não saem. Como mãe, fica difícil dormir, saber que saio e o meu filho não. Ficamos entre a cruz e a espada", disse Alice Graciele Teixeira, moradora do Bom Parto.

Entenda a situação - Após a Defesa Civil de Maceió alertar sobre o colapso iminente da mina 18, da Braskem, no Mutange, cerca de 23 famílias tiveram que ser retiradas das casas que estão localizadas na área de risco. A Justiça Federal, inclusive, autorizou o uso de força policial, caso os moradores recusassem a sair. O caso é um desdobramento dos tremores de terra que começaram a ser sentidos pela população do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e parte do Farol em março de 2018, causados pela mineração de sal-gema feita pela Braskem desde a década de 70 naquela região, conforme apontou o Serviço Geológico do Brasil. 

A Prefeitura de Maceió desocupou seis escolas em diferentes bairros da capital para torná-las abrigos temporários aos moradores e também decretou estado de emergência na capital por 180 dias. 

O presidente da Braskem, Roberto Bischoff, afirmou na segunda-feira, 4 de dezembro, que nos últimos quatro anos foram realocadas 40 mil pessoas - a estimativa dos órgãos é que o número seja de quase 60 mil - em 14,5 mil imóveis e mais de 97% das propostas de indenização foram aceitas e pagas por meio do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF). O comentário foi feito ao Estadão durante o 28º Encontro Anual da Indústria Química (Enaiq), evento tradicional do setor químico promovido pela Associação Brasileira de Indústrias Química (Abiquim).

A Justiça Federal determinou, na manhã da quinta-feira, 30 de novembro, que a Braskem adote providências em relação ao novo mapa elaborado pela Defesa Civil Municipal, que inclui no PCF novos imóveis localizados no Bom Parto. A mineradora comunicou aos acionistas e ao mercado que o valor atribuído à causa pelos autores da ação é de R$ 1 bilhão.