Exposição a cigarros eletrônicos na gravidez pode alterar formato do rosto e crânio do bebê

Publicado em 06/08/2025, às 14h10
Foto: Ilustrativa/Freepik
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Por Redação

Não é nenhum segredo que os cigarros eletrônicos fazem mal à saúde. Problemas respiratórios, cardiovasculares, lesões no pulmão... E não para por aí. Mas, um novo estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Ohio, dos Estados Unidos, adicionou mais um malefício a essa lista: a exposição ao vape durante a gravidez pode alterar o formato do rosto e crânio do bebê.

Para chegar a esse resultado, os pesquisadores expuseram camundongas grávidas a uma combinação de dois líquidos usados para criar a sensação na garganta e a fumaça associadas ao vape. Eles observaram que os filhotes apresentaram peso menor ao nascer, crânios mais curtos e características faciais mais estreitas.


"[O vape] não contém nicotina e ainda está tendo efeitos no desenvolvimento do crânio, o que não era nada do que esperávamos", disse o principal autor do estudo, James Cray, professor de anatomia na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Ohio.

Como o estudo foi feito

Cray e sua equipe estudam há anos a relação entre a exposição à nicotina durante a gravidez e o desenvolvimento da cabeça e do rosto. Em 2020, eles descobriram que a exposição à nicotina através do leite materno resultou em defeitos no crânio em camundongos.


Neste estudo mais recente, camundongas grávidas foram divididas em grupos: um exposto a ar filtrado e outro a uma mistura de propilenoglicol e glicerol — substâncias que retêm umidade e funcionam como carregadores de outros componentes dos cigarros eletrônicos. Os pesquisadores usaram uma proporção de 50/50 e uma combinação de 30% de propilenoglicol e 70% de glicerol para analisar se as diferentes dosagens fariam diferença.

Durante o período de gestação de aproximadamente três semanas, camundongas fêmeas foram expostas a uma taxa de uma tragada por minuto, quatro horas por dia, cinco dias por semana. Em comparação com camundongos expostos ao ar livre e aqueles expostos à fórmula 50/50, os filhotes de camundongos expostos à mistura 30/70 apresentaram uma redução estatisticamente significativa na largura e altura do crânio.


“O que observamos é um estreitamento consistente de todas as características faciais, e o mesmo ocorre no crânio. Portanto, globalmente, eles estão mais estreitos e com a cabeça um pouco mais curta, o que imita algumas mudanças que observamos em crianças”, disse Cray. “Também notamos uma pequena redução no peso. Esses animais estavam dentro da faixa normal para a idade, mas ainda pesavam menos.”

As descobertas, publicadas na revista PLOS One, foram consistentes em ambos os sexos e foram observadas em várias ninhadas de camundongos. "A mistura 50/50 não apresentou alterações estatísticas drásticas — e era aí que procurávamos a diferença. Achávamos que o propilenoglicol, mais pesado, deveria estar causando mais efeitos, e foi exatamente o oposto", afirmou o pesquisador.

Jovens são os que mais usam cigarros eletrônicos

Os cigarros eletrônicos estão se tornando cada vez mais popular entre os jovens, o que é preocupante. Adolescentes e adultos com idades entre 18 e 24 anos representam o maior percentual de consumidores dos cigarros eletrônicos no Brasil, segundo um estudo do Ministério da Saúde. Nos Estados Unidos é observado o mesmo padrão.


“A maioria dos usuários são jovens adultos e adolescentes, então estamos falando de pessoas que estão no auge da idade reprodutiva. E como o desenvolvimento da cabeça ocorre muito cedo no desenvolvimento fetal, as mulheres podem estar usando esses produtos e nem perceber que estão grávidas, o que é muito preocupante”, disse Cray. “É um sinal de que provavelmente deveríamos estudar os produtos sem nicotina tanto quanto estudamos os produtos com nicotina.”

Outros perigos do vape na gravidez

Mães também estão entre os grupos que usam vape. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estado Unidos, acompanhou mais de 3 mil mães e constatou que pelo menos um terço delas havia feito uso de cigarro eletrônico pouco tempo antes, durante ou pouco tempo depois da gravidez. Boa parte delas (45,2%) fez isso porque achava que os cigarros eletrônicos eram uma "alternativa mais segura" ao uso dos cigarros tradicionais. Mas, não é bem assim.


Na gestação, o recomendado é não utilizar nenhum tipo de cigarro, seja tradicional ou eletrônico. Num cenário ideal, o melhor seria abandonar de vez o hábito de fumar assim que descobrisse a gravidez.


Além de problemas respiratórios e cardiovasculares, a nicotina e outras substâncias presentes nos cigarros eletrônicos podem também levar a um outro efeito, chamado vasoconstrição. O calibre das veias e das artérias diminui e o sangue tem mais dificuldade de passar. Isso pode prejudicar o desenvolvimento do feto.


O bebê sobrevive na barriga da mãe pela placenta, que filtra o sangue da gestante e transporta oxigênio, água e os nutrientes necessários para que a criança cresça. "A partir do momento que a mãe passa a colocar substâncias tóxicas para dentro do organismo, os vasos diminuem, passa menos sangue, menos oxigênio e menos substâncias alimentícias para o bebê. Com isso, ele cresce menos e pode até ter complicações pulmonares e cerebrais", explica o obstetra Guilherme Loureiro Fernandes.

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