Exposição é alvo de polêmica após transformar personalidades brancas em negras

Publicado em 29/11/2017, às 10h32

Por Redação

Uma exposição que transformou figuras públicas e celebridades brancas em negras, realizada pela artista e ex-consulesa da França no Brasil, Alexandra Loras, gerou muita polêmica nas redes sociais. Os internautas que reclamaram e proliferaram diversas críticas, em sua maioria, eram negros.

Com o nome de “Pourquoi pas?”, que significa "Por que não?", a exposição iniciou uma nova discussão sobre o "blackface" nas obras de arte. A prática teve início no século XIX e consiste na pintura do rosto de pessoas brancas para interpretar negros, de maneira pejorativa.

A artista se posicionou sobre a polêmica em seu Instagram, onde ela publicou o seguinte texto:

"Em sua origem, o blackface é uma técnica de maquiagem teatral adotada no século 19 por atores brancos americanos que pintavam seus rostos com carvão para representar os negros de forma estereotipada e jocosa. Em momento algum essa antiga prática norteou a concepção das obras da minha exposição, que será inaugurada no dia 2 de dezembro. Como artista negra, meu objetivo é fazer uma reflexão sobre o protagonismo do negro na sociedade brasileira sem dar qualquer conotação pejorativa aos personagens retratados, mas sim mostrar como o eurocentrismo atual é chocante e absurdo para os negros, pois não somos representados de maneira digna, respeitosa e igualitária. Ao propor um mundo “invertido”, com negros em papéis de destaque na sociedade, me pergunto se faríamos os mesmos comentários preconceituosos ou se teríamos as mesmas posturas. Meu desejo é provocar uma reflexão e não resgatar uma ferramenta considerada racista e que ridiculariza o negro".

Sabíamos que esta exposição poderia incomodar. Mas a arte seria ainda arte se ela fizesse unanimidade e não causasse  debate? Uma das funções da arte não é ter um impacto na sociedade, questionando algumas regras sociais,  e quebrando os códigos atuais? Os artistas Matisse, Derain e Vlaminck foram vaiados e causaram escândalo no Salão de Outono de Paris em 1905. Depois dessa repulsa, o "Fauvismo" foi criado e se tornou um dos principais movimentos da pintura do século XX. Com o nosso titulo "Pourquoi pas?" nós obviamente não pretendemos mudar o curso da arte no século XXI. Como já dissemos, a nossa intenção é de estimular o debate e o questionamento na nossa sociedade atual. Por consequência,  respeitaremos todas as opiniões que foram ou serão formuladas, por mais duras que sejam. Algumas criticas vêm até das grandes figuras da comunidade negra por  quem temos respeito e admiração. Esses pontos de vista nutrem esse debate que consideramos indispensável e saudável. Porém, no que diz respeito ao "blackface" da exposição, não buscamos nenhum paralelo entre essa prática e os retratos dessas celebridades brancas de pele negra. Aliás, seria interessante saber se, na reação de alguns visitantes, eles veem nestes retratos primeiro (ou unicamente) a cor negra ou uma caricatura de negro. Algumas reações abrasivas sugerem que os brancos não são os únicos em questão ...

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Você sabe quem é? .... Sabíamos que esta exposição poderia incomodar. Mas a arte seria ainda arte se ela fizesse unanimidade e não causasse  debate? Uma das funções da arte não é ter um impacto na sociedade, questionando algumas regras sociais,  e quebrando os códigos atuais? Os artistas Matisse, Derain e Vlaminck foram vaiados e causaram escândalo no Salão de Outono de Paris em 1905. Depois dessa repulsa, o "Fauvismo" foi criado e se tornou um dos principais movimentos da pintura do século XX. Com o nosso titulo "Pourquoi pas?" nós obviamente não pretendemos mudar o curso da arte no século XXI. Como já dissemos, a nossa intenção é de estimular o debate e o questionamento na nossa sociedade atual. Por consequência,  respeitaremos todas as opiniões que foram ou serão formuladas, por mais duras que sejam. Algumas criticas vêm até das grandes figuras da comunidade negra por  quem temos respeito e admiração. Esses pontos de vista nutrem esse debate que consideramos indispensável e saudável. Porém, no que diz respeito ao "blackface" da exposição, não buscamos nenhum paralelo entre essa prática e os retratos dessas celebridades brancas de pele negra. Aliás, seria interessante saber se, na reação de alguns visitantes, eles veem nestes retratos primeiro (ou unicamente) a cor negra ou uma caricatura de negro. Algumas reações abrasivas sugerem que os brancos não são os únicos em questão ...

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@josoaresofficial Em sua origem, o blackface é uma técnica de maquiagem teatral adotada no século 19 por atores brancos americanos que pintavam seus rostos com carvão para representar os negros de forma estereotipada e jocosa. Em momento algum essa antiga prática norteou a concepção das obras da minha exposição, que será inaugurada no dia 2 de dezembro. Como artista negra, meu objetivo é fazer uma reflexão sobre o protagonismo do negro na sociedade brasileira sem dar qualquer conotação pejorativa aos personagens retratados, mas sim mostrar como o eurocentrismo atual é chocante e absurdo para os negros, pois não somos representados de maneira digna, respeitosa e igualitária. Ao propor um mundo “invertido”, com negros em papéis de destaque na sociedade, me pergunto se faríamos os mesmos comentários preconceituosos ou se teríamos as mesmas posturas. Meu desejo é provocar uma reflexão e não resgatar uma ferramenta considerada racista e que ridiculariza o negro

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William Waack Arte engajada Sob a curadoria do artista e grafiteiro paulistano Ėnivo, a exposição apresenta 20 retratos de personalidades brancas que tiveram seus tons pele escurecidos por meio de manipulação digital e ganharam traços afrodescendentes, entre elas Donald Trump, Rainha Elizabeth, William Waack, Marilyn Monroe, Silvio Santos, João Doria, Dilma Rousseff, Michel Temer, Geraldo Alckmin, Xuxa e Gisele Bündchen. Nesse mundo “invertido”, Alexandra Loras propõe, com uma dose de humor e ironia, uma reflexão mais profunda sobre o protagonismo do negro na história. “Será que faríamos os mesmos comentários preconceituosos? Teríamos as mesmas posturas? Tomaríamos as mesmas decisões? Trataríamos os diferentes da mesma forma?”, pergunta Enivo. A ideia da exposição teve o apoio imediato da galerista Lourdina Jean Rabieh e de Vinicius Dapper, CEO da Zeferino, depois de assistirem a ex-consulesa em uma de suas palestras usando essas imagens para refletir sobre o papel do negro na sociedade. “Meu objetivo é provocar uma experiência de empatia profunda nas pessoas mostrando celebridades e políticos brancos no país com a segunda maior população negra do planeta e onde essa maioria é tratada como minoria”, explica. “Apresento essa realidade invertida para provar o quanto estamos longe de uma democracia racial, que só existirá de fato quando tivermos os 54% da população negra do Brasil no Congresso, na mídia, nos boards executivos, ocupando cargos de liderança”. #ARTivismo #diadaconsciencianegra #coisadepreto

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A Rainha da Inglaterra Arte engajada #ARTivism Sob a curadoria do artista e grafiteiro paulistano Ėnivo, a exposição apresenta 20 retratos de personalidades brancas que tiveram seus tons pele escurecidos por meio de manipulação digital e ganharam traços afrodescendentes, entre elas Donald Trump, Rainha Elizabeth, William Waack, Marilyn Monroe, Silvio Santos, João Doria, Dilma Rousseff, Michel Temer, Geraldo Alckmin, Xuxa e Gisele Bündchen. Nesse mundo “invertido”, Alexandra Loras propõe, com uma dose de humor e ironia, uma reflexão mais profunda sobre o protagonismo do negro na história. “Será que faríamos os mesmos comentários preconceituosos? Teríamos as mesmas posturas? Tomaríamos as mesmas decisões? Trataríamos os diferentes da mesma forma?”, pergunta Enivo. A ideia da exposição teve o apoio imediato da galerista Lourdina Jean Rabieh e de Vinicius Dapper, CEO da Zeferino, depois de assistirem a ex-consulesa em uma de suas palestras usando essas imagens para refletir sobre o papel do negro na sociedade. “Meu objetivo é provocar uma experiência de empatia profunda nas pessoas mostrando celebridades e políticos brancos no país com a segunda maior população negra do planeta e onde essa maioria é tratada como minoria”, explica. “Apresento essa realidade invertida para provar o quanto estamos longe de uma democracia racial, que só existirá de fato quando tivermos os 54% da população negra do Brasil no Congresso, na mídia, nos boards executivos, ocupando cargos de liderança”. #ARTivismo #diadaconsciencianegra

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@xuxamenegheloficial Em sua origem, o blackface é uma técnica de maquiagem teatral adotada no século 19 por atores brancos americanos que pintavam seus rostos com carvão para representar os negros de forma estereotipada e jocosa. Em momento algum essa antiga prática norteou a concepção das obras da minha exposição, que será inaugurada no dia 2 de dezembro. Como artista negra, meu objetivo é fazer uma reflexão sobre o protagonismo do negro na sociedade brasileira sem dar qualquer conotação pejorativa aos personagens retratados, mas sim mostrar como o eurocentrismo atual é chocante e absurdo para os negros, pois não somos representados de maneira digna, respeitosa e igualitária. Ao propor um mundo “invertido”, com negros em papéis de destaque na sociedade, me pergunto se faríamos os mesmos comentários preconceituosos ou se teríamos as mesmas posturas. Meu desejo é provocar uma reflexão e não resgatar uma ferramenta considerada racista e que ridiculariza o negro.

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@dilmarousseff Em sua origem, o blackface é uma técnica de maquiagem teatral adotada no século 19 por atores brancos americanos que pintavam seus rostos com carvão para representar os negros de forma estereotipada e jocosa. Em momento algum essa antiga prática norteou a concepção das obras da minha exposição, que será inaugurada no dia 2 de dezembro. Como artista negra, meu objetivo é fazer uma reflexão sobre o protagonismo do negro na sociedade brasileira sem dar qualquer conotação pejorativa aos personagens retratados, mas sim mostrar como o eurocentrismo atual é chocante e absurdo para os negros, pois não somos representados de maneira digna, respeitosa e igualitária. Ao propor um mundo “invertido”, com negros em papéis de destaque na sociedade, me pergunto se faríamos os mesmos comentários preconceituosos ou se teríamos as mesmas posturas. Meu desejo é provocar uma reflexão e não resgatar uma ferramenta considerada racista e que ridiculariza o negro.

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Mesmo com a justificativa, os internautas fizeram vários comentários revoltados nas fotos. Uma comentou: “Se é pra gerar reflexão sobre o protagonismo, pq não usa figuras negras mesmo? Não, tem que usar blackface. Oportunismo barato e desserviço pra luta negra, apaga isso pq a m*rd* já tá feita”.

Com diversas personalidades que foram utilizadas nessa exposição, algumas delas estavam envolvidas em escândalos por causa do racismo, como o jornalista William Waack, da rede Globo. Na foto do jornalista, um internauta disse: “Você colocar uma pessoa racista como negra através do Black face não ajudará em nada, se sua proposta era mostrar negros em lugares de destaque na sociedade está fazendo da maneira errada, porque você não pega negros reais e os coloca nessa situação de destaque? Porque você pega brancos que já estão é utiliza do Black face?”.

Além disso, diversos seguidores comentaram: “Stop blackface” (“Pare com o blackface”), “Pare com isso”, “Que nojo” e “Vergonha”.


A exposição “Pourquoi pas?” acontece entre os dias 2 e 22 de dezembro na galeria Rabieh, em São Paulo.

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