A COP30 vive uma crise grave. Em uma reunião de emergência convocada na terça-feira pela ONU Clima -mais conhecida pela sigla UNFCCC- o governo brasileiro foi duramente questionado por representantes pela falta de acomodação em Belém e preços extorsivos da rede hoteleira e de donos de imóveis. Representantes de três regiões - África, países-ilha e América Latina - pediram formalmente para que a conferência do clima da ONU não seja realizada em Belém. O Brasil tem até o dia 11 de agosto para propor uma solução. A situação é crítica.
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Foi durante a reunião do Bureau da COP, um órgão de alto nível da UNFCCC que reúne representantes dos cinco grupos regionais (países africanos, do Leste Europeu, da América Latina e Caribe, da Ásia-Pacífico e da Europa Ocidental com Austrália, Canadá, Islândia, Nova Zelândia, Noruega, Suíça e Estados Unidos), além do grupo das nações insulares. A Secretaria Extraordinária da COP30, chefiada por Valter Correia da Silva, ouviu críticas de todos os presentes.
A pior acusação durante a reunião virtual, de três horas de duração, é que o governo brasileiro, ao insistir em fazer uma COP em uma cidade sem condições de abrigar uma conferência do gênero, está excluindo os países mais pobres, já que as delegações não têm dinheiro para pagar por acomodações a preços absurdos. Alegam que o Brasil não quer receber os países em desenvolvimento. Vários reclamaram que a sociedade civil internacional não consegue ir pela escassez de acomodações e preços abusivos e que empresários globais também estão desistindo - o que coloca em risco a conferência e toda a agenda de ação montada pela presidência da COP30. A 100 dias da COP30, trata-se de uma crise de enormes proporções causada, segundo os delegados, pela ganância da rede hoteleira e de donos de imóveis em Belém.
Há um mês a secretaria extraordinária da COP30 propôs uma solução considerada razoável, mas que não foi seguida. A ideia era oferecer 1.500 quartos entre US$ 100 e US$ 200 para as delegações de países de menor desenvolvimento e pequenas ilhas. A diária destes delegados mal bate em US$ 100. A rede hoteleira fixou a maioria dos quartos em preços acima de US$ 150, o que inviabilizou a ideia. Outros 1.000 quartos seriam oferecidos por faixas entre US$ 200 e US$ 600. A solução dos transatlânticos também esbarra em preços altos, estimados em US$ 700 a US$ 1.200 por cabine. Sem estas delegações a COP30 perde legitimidade e fracassa antes de acontecer.
A reunião de emergência foi relatada à Reuters por Richard Muyungi, presidente do grupo africano de negociadores, que pediu o encontro. “Recebemos a garantia de que o Brasil irá apresentar uma proposta no dia 11 para termos certeza de que a acomodação será adequada a todos”, disse Muyungi. “Não estamos prontos para ter que limitar a delegação”, seguiu. “Estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores em vez de nos dizer para reduzir nossa participação”.
As reclamações vieram também dos países ricos. O vice-ministro do clima da Polônia, Krzysztof Bolesta, disse à Reuters que a delegação será reduzida ao mínimo e pode não ir à COP. “Os estrangeiros estão horrorizados com a ganância que sentem em Belém”, disse a fonte.
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