Uma investigação feita a partir de documentos apreendidos no escritório de advocacia e consultoria Mossack Fonseca, com sede no Panamá, país da América Central, revelou que 107 offshores - empresas constituídas no exterior – são ligadas a empresas e políticos citados na operação Lava-Jato. Entre os políticos que aparecem na investigação está o ex-deputado-federal por Alagoas, o industrial João Lyra, do PSD.
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O escritório brasileiro da Mossack Fonseca foi alvo da 22ª fase operação da Lava-Jato, em janeiro deste ano. A força tarefa suspeita que a empresa teria ajudado a esconder os nomes dos verdadeiros donos do Triplex do edifício Solaris, na cidade de Guarujá, onde o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, e sua esposa, Marisa Letícia, estariam sendo investigado por ser proprietários do imóvel.
De acordo com as investigações, Lyra teria utilizado uma empresa offshore para abrir e manter uma conta no banco suíço Pictet Asset Management, a partir de 2009, um ano antes de ser eleito deputado federal pelo PTB de Alagoas (depois, em 2011, filiou-se ao PSD). A offshore e a conta bancária não aparecem na declaração de bens que Lyra entregou à Justiça Eleitoral, o que caracterizaria irregularidade.
Outro problema apontado pela reportagem seria o ano de abertura da offshore, o mesmo ano em que a empresas do então deputado começam a passar por dificuldade financeira. No fim de 2008, o Grupo João Lyra apresentou um pedido de recuperação judicial ao Tribunal de Justiça de Alagoas.
Em janeiro de 2009, a Mossack Fonseca abriu para ele uma companhia offshore chamada Refill Trading Corp. Pouco depois, em fevereiro, a Mossack Fonseca recebeu documentos para abrir uma conta em nome da Refill no Pictet Asset Management, um banco suíço. O nome de Lyra aparece anotado a mão, ao lado de uma assinatura, nos documentos de abertura da conta. Veja o documento abaixo:


Lyra foi senador por Alagoas de 1989 a 1991 e deputado federal por dois mandatos (2002 a 2006 e 2010 a 2014). Produtor de açúcar e álcool, ficou conhecido como o deputado mais rico do País após declarar à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 246,6 milhões.
Em 2008, uma fiscalização do Ministério Público do Trabalho encontrou 53 trabalhadores vivendo em condições análogas à de escravidão em usinas do ex-congressista. Em 20 de fevereiro de 2015, o Diário de Justiça Eletrônico do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) publicou a determinação de venda dos bens da massa falida do grupo Laginha Agroindustrial S/A, pertencente a João Lyra – empresa que teve falência decretada em 2008.
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As informações sobre as offshores foram conseguidas pelo jornal alemão Suddeutsche Zeitung, que compartilhou com um consórcio de jornalistas de vários países. O Estado de São Paulo, o UOL e a Rede TV são as empresas de comunicação do Brasil que tiveram acesso as informações de forma exclusiva.
Além de João Lyra, aparecem na lista de políticos brasieliros o presidente do congresso, Eduardo Cunha, e pelo menos mais 57 suspeitos de participar do esquema de corrupção na Petrobrás.
A imprensa nacional esclareceu que offshore é o nome dado a empresas abertas por pessoas ou empresas num país diferente daquele em que residem, para aplicações financeiras e compra de imóveis. A imprensa esclareceu ainda que, ser proprietário desse tipo de empresa não é ilegal, desde que a empresa seja declarada no Imposto de Renda.
De acordo com as informações divulgadas neste domingo (4), a Mossack Fonseca operou para pelo menos seis grandes empresas brasileiras e famílias citadas na Lava-Jato, abrindo 16 empresas offshore, das quais nove são novidade para a força-tarefa.
Essas empresas são ligadas à empreiteira Odebrecht e às famílias Mendes Júnior, Schahin, Queiroz Galvão, Feffer, do grupo de Papel e Celulose Suzano, e Walter Faria, da cervejaria Petrópolis. Deles apenas os integrantes da família Feffer não respondem a acusações da Lava-Jato.
O vazamento das informações da Mossack Fonseca repercutiu em outros países. Segundo o site da TV britânica BBC, 11 milhões de documentos mostram como a empresa ajudou clientes a evitar o pagamento de impostos e a lavar dinheiro. A estatal inglesa divulgou que os documentos mostram ligações com 72 chefes e ex-chefes de estado.
O escritório panamenho da Mossack Fonseca afirmou que trabalha há 40 anos dentro da legalidade e que jamais foi acusado de qualquer crime.
O deputado Eduardo Cunha disse que não tem relação com a offshore citada. E que não há qualquer assinatura dele. A defesa de Cerveró disse que qualquer offshore que exista em nome dele foi declarada ao Ministério Público.
O advogado de Edson Lobão afirmou que o senador nunca teve conta em offshore. O grupo Petrópolis, a Queiroz Galvão, o Grupo Suzano e o Grupo Schahin disseram que suas operações foram feitas da forma legal. A Odebrecht não quis comentar. A imprensa nacional informou que não conseguiu contato com os demais citados da investigação.
O TNH1 tentou contato com os advogados do ex-deputado federal João Lyra, mas não conseguiu contato até o momento.
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