Maceió
Covid-19: Prefeitura realiza neste fim de semana blitz em bares e restaurantes
SMTT realizará mutirão para recadastro do Cartão Bem Legal Especial
Braskem anuncia cronograma para famílias das novas áreas incluídas no Programa de Compensação
Ouro Preto ganhará creche para atender mais de 200 crianças
Educação
Rede estadual oferta mais de 17 mil vagas para novatos em Maceió; veja o calendário de matrículas
Após inquérito concluir que feto foi jogado em lixo de maternidade, família entra com processo
Alagoas
Turista de Manaus se recupera da Covid-19 no Hospital Regional do Norte
Covid-19: após apresentar piora, padre Manoel Henrique é intubado na Santa Casa
Meio Ambiente
Confira a previsão do tempo em Alagoas para o fim de semana
Com mais 460 novos registros e 9 mortes, Alagoas chega a 110.572 casos de Covid-19
Covid: Cosems vai levantar número de pessoas prioritárias para vacinação em Alagoas
MPE quer anular ato que reajustou salário de vereadores de Palmeira dos Índios durante a pandemia
Nordeste
Dos 9 Hospitais Universitários que vão socorrer Manaus, 7 são do Nordeste
Trabalhadores da Ford protestam contra fechamento de fábrica em Camaçari
Prefeitura de Salvador prevê 570 mil doses de vacina para grupos prioritários
Homem de 35 anos é morto pela companheira em apartamento de luxo de Salvador
Passageiro é picado por escorpião dentro de avião
Mercado de Trabalho
Governo do Ceará prevê concurso para 33 mil profissionais na saúde
Polícia
Jovem que estava foragido é preso por estuprar menina de 13 anos
Motorista embriagado é preso dirigindo na contramão da BR 316, em Alagoas
Condutor embriagado é preso após buzinar e gesticular para viatura da PM parada em semáforo
Jovem de 19 anos é morto com 15 tiros no Benedito Bentes, em Maceió
Em Arapiraca, mulher é estuprada após marcar encontro pelo Instagram
Pedreiro morre eletrocutado quando rebocava parede
Gente Famosa
Anitta, Iza e outros famosos protestam contra falta de oxigênio em Manaus
Música 'Bum bum tam tam' registra 284% de aumento por causa da CoronaVac
Duda Reis tem medo que Nego do Borel divulgue fotos e vídeos íntimos, diz B.O
Lady Gaga vai cantar o hino na posse de Joe Biden
Televisão
'Estamos esgrimando com loucos', desabafa William Bonner no JN sobre fake news; assista
Whindersson Nunes mobiliza famosos para mandar oxigênio para Manaus
O motorista Antônio Carlos da Silva, morador de Maranguape, descobriu aos 32 anos o paradeiro de sua família. Ele não os via desde que tinha fugido aos cinco anos de idade, do Cariri, sem saber voltar. Com apoio de amigos e das próprias lembranças de casa, ele reencontrou a família e sua história quase três décadas depois.
Após perceber que só saberia responder “quem sou” se soubesse “de onde vim”, Carlos fez um mergulho profundo em suas memórias e feridas. Por muitos anos silenciou o tamanho da saudade que sentia da mãe e dos irmãos. De casa. Mas que casa? Onde? Com cinco anos de idade, o menino correu como quem foge, entrou num ônibus de um terminal de beira de estrada onde costumava brincar e pedir dinheiro. Dormiu como quem descansa, e quando acordou já estava longe. Quando deram conta dele, levaram para ainda mais distante: Fortaleza. Se a memória não lhe falha, tudo ocorreu há 27 anos, mais ou menos, tempo em que duraram perguntas só respondidas ontem, 24 de novembro de 2020.
A criança desaparecida, o garoto perdido, cresceu por Fortaleza, de rua em rua, depois de abrigo em abrigo, até chegar à Associação Pequeno Nazareno.
— Qual seu nome?
— Antônio Carlos.
— Filho de quem?
— Geane é minha mãe.
— E tu veio de onde?
O menino não sabia, mas guardou um nome: Juazeiro. E uma imagem: segurando a mão da avó subindo o horto para conhecer a estátua de Padre Cícero, em “Juazeiro, Juazeiro”, ela dizia. E várias outras lembranças: uma irmã, ainda de colo, outra que já andava. Um irmão chamado Diego. Um tio, Nino, que fazia carrinhos de barro e lhe dava de presente - artesão, pegava palhas de coqueiro, fazia cavalos e vendia na rua; um padrasto que batia na mãe, e uma mãe que é a maior das lembranças: Geane, que deveria ser ‘da Silva’, então ele deveria ser Antônio Carlos da Silva. Geane trabalhava fazendo a limpeza de um motel ou hotel.Se não tinha com quem deixar, levava o filho para o trabalho.
A sorte do menino perdido, pensa hoje, é que não perdeu a memória. “Será que minha mãe me procura?”. Chegou a ter raiva por não saber se era procurado. Quem vê crianças e adolescentes considerados “complicados” em lares de adoção, talvez não imagina a complicação que sofrem tão precocemente na vida até ser um pedinte, como ele foi, no Centro Cultural Dragão do Mar, ou hóspede de pernoite na Praça do Ferreira, por onde já passou. Ciclos de exclusões sociais que se reproduzem por gerações, em que quanto mais idade e negra for a criança, menores as chances de adoção. Carlos conseguiu ser um ponto fora da curva.
Recompondo as memórias
Trabalhando como motorista na associação onde um dia foi acolhido, Carlos viaja levando crianças institucionalizadas para o fim de semana na casa de parentes.
Antônio Carlos fugiu de casa e se escondeu em um ônibus de um terminal rodoviário próximo de onde morava. O local permaneceu em sua memória e sonhos. Foto: Reprodução
“Em sonho, já voltei muitas vezes pra casa”, diz. E nessas voltas, ele vê um lugar com duas colunas de ferro sustentando um teto, talvez de alumínio. No meio do lugar, uma cabine de compra e venda de passagens. Atrás dela, um banheiro. Não tira o lugar da cabeça, e acha que morava ali perto. Ou melhor, de sua casa para lá eram alguns poucos passos após atravessar um matagal, à margem de um rio ou lagoa. Sabia que tinha água e pessoas pescavam. Enquanto crescia longe de casa, Carlos fazia das horas de dormir o lugar de recuperação dessas memórias. E dormia como quem voltava.
O “eu quero minha mãe”, de uma criança, pode ser dito no choro em vários contextos, no de Carlos foi o desespero (ou desesperança, não lembra) de fugir mais uma vez, agora ao encontro dela: como aos cinco anos, aos dez ele entrou novamente em um ônibus e foi parar em Juazeiro do Norte. Saiu perambulando por lá, tentando reconhecer o caminho de casa e dos sonhos. Mas nada.
Carlos cresceu. Hoje tem 32 anos - não precisamente. Casou. Tem uma filha. E mesmo ele também tendo a quem chamar de pai (foi adotado por Antonio Bernardo Rosemeyer, fundador da Associação Pequeno Nazareno), nunca se sentiu completo sem ao menos saber de sua família biológica.
“Será que minha mãe me procurou, sente falta de mim? Ainda é viva? Como estão meus irmãos?”. Por muito tempo, Carlos só falava para si próprio essas questões, mas seu pai adotivo percebia o anseio e o ajudava a registrar os sonhos nos quais voltava para casa. “Ele era muito calado. Mas chegou um momento em que conversamos sobre isso e ele mesmo decidiu que queria procurar a família biológica, resolver isso na cabeça dele”, explica Bernardo Rosemeyer, pai adotivo, um ex-frei alemão radicado no Ceará e que faz de sua missão de vida acolher crianças e adolescentes em extrema vulnerabilidade social na Associação Pequeno Nazareno, em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Quando não voltam ao poder familiar, as crianças e adolescentes podem ser adotados ou ficar lá até atingirem a maioridade.
A jornada dos outros
Natália, Fernanda, Diego e Clécio, irmãos de Antônio Carlos. Foto: Reprodução
Pai e filho sentaram em frente à TV e assistiram ao filme “Lion - uma jornada para casa”. Baseado em fatos reais, conta a história do indiano Saroo que, aos cinco anos, se perdeu do irmão em uma estação de trem de Calcutá e enfrentou várias adversidades para sobreviver sozinho, até ser adotado por uma família australiana e decidir reencontrar a família biológica. Bernardo e Carlos choraram com as semelhanças e fizeram do filme gatilho para refazer a própria jornada: redigiram uma carta que começa com “Há 27 anos não vejo a minha mãe” e termina com “a esperança me impulsiona de continuar nessa busca, independente do resultado”. E resgataram uma foto sua aos 14 anos, aproximadamente, o mais próximo que tinha das feições da criança perdida.
E como se as semelhanças não precisassem parar por aí, um amigo, homônimo e quase irmão também tomou para si a missão dessa busca. Dessa forma que Antônio Carlos, o amigo, entra na história. Viajou para o Cariri, com destino a Juazeiro, com dois mil panfletos, e saiu distribuindo por onde passava. Um dos lugares foi o hotel municipal de Araripe. Um enfermeiro que viajava, passou por lá. Pegou um panfleto e colocou no bolso. Chegando em casa, leu com atenção e se assustou. Na tarde de terça-feira, 24 de novembro, ligou para o número que estava no papel e, entre um diálogo e outro, as semelhanças só aumentavam.
— Cara, tu é meu irmão. Eu não tô acreditando!
O incrédulo era Clécio, que nasceu depois do desaparecimento de Carlos. A mãe de ambos, Geane, faleceu em 2017, vítima de câncer. Nunca se esqueceu do filho desaparecido, nem deixou de procurar. E se angustiava sempre que via os outros saindo de casa. Não queria passar de novo. “Ela sempre falou desse filho, sempre dizia que alguém tinha carregado. Poucos dias antes de morrer, ela falou que viveu com um cara que batia muito nela e acabava batendo no Carlos também. Numa briga, ele fugiu de casa. E daí ela acha que depois alguém o carregou”, lembra Clécio.
Ninguém mora mais em Antonina do Norte, cidade do Cariri onde Carlos viveu e de onde fugiu. Os outros irmãos, Diego (Mora em Goiânia), Fernanda e Natália (moram em Petrolina-PE) estão vivos e vibraram de alegria com a novidade. A avó Francisca mora em Lagoa Grande (PE). Dona mocinha, como ela é conhecida, ainda não sabe da novidade - os netos vão viajar no próximo fim de semana para dizer pessoalmente.
Até lá, Carlos conversa com Clécio por chamadas de vídeo. Em meio à alegria, ficou triste ao saber que a mãe se foi. Mas comemorou os irmãos que logo mais reencontrará. A família aumentou. “Num ano de tantas tragédias, um milagre”, pensou.