A administradora Larah Danielly Oliveira, 36 anos, de Anápolis, Goiás, usava o DIU (dispositivo intrauterino) quando descobriu que estava grávida do terceiro filho. "Coloquei em 2020, após o parto do meu segundo filho. Fiz um ultrassom após 45 dias e estava bem posicionado. Depois de 6 meses, refiz o exame e estava no local. No entanto, quando completou onze meses, descobri a gravidez de 8 semanas", lembra.
No entanto, no primeiro ultrassom após a descoberta da gravidez, Larah conta que que "o DIU não estava lá". Mas isso, na época, não foi motivo de preocupação. "A gravidez foi tranquila. Fiz todos os exames. Foram mais de oito ultrassonografias e, em nenhuma delas, apareceu o DIU", conta. "Tive o bebê por parto normal e, na época, o DIU não foi localizado. Então, os médicos disseram que, provavelmente, eu havia expelido", conta. "Então, eu acreditei que realmente tinha expelido sem ver", conta.
Três anos depois, um raio-x da bacia revelou algo inesperado. "Eu tenho escoliose e estava fazendo exames de acompanhamento. E foi nesse exame que apareceu a imagem do DIU — dos dois DIU's, na verdade, pois eu havia colocado um segundo dispositivo após ° parto do meu terceiro filho", disse. "Não tive nenhum sintoma nesses três anos, que me levasse uma desconfiança. Quando descobrimos, fizemos outros exames para saber a posição exata, e o dispositivo estava próximo ao intestino", revela.
O que era para ser um procedimento simples, se tornou em uma cirurgia complexa e demorada. "Quando o cirurgião viu com a câmera, o DIU estava perfurando meu intestino. A parte de cobre entrou toda no intestino. Então, virou uma cirurgia de risco que, em vez de trinta minutos, durou 5 horas. Teve que cortar o intestino e grampear. O médico precisou colocar um dreno para acompanhar o pós-operatório. Precisei de muito repouso e alimentação especial", descreve.
Larah decidiu fazer o vídeo para alertar outras mulheres sobre o risco. "Nunca ouvi falar que um DIU poderia sair do lugar e ir para outro órgão do corpo, causando riscos. Esse vídeo é só para alertar que isso pode acontecer. Se algum médico nunca falou sobre isso, eu sou aquele 1% a 5% de chance de engravidar com DIU e ainda correr o risco de perfurar outro órgão e te levar a uma infecção generalizada. Se cuide e analise todos os riscos", escreveu ela, na legenda do post. Em menos de um mês, o vídeo alcançou mais de 1,7 milhão de visualizações.
Hoje, um mês depois, ela conta que está bem. "Ainda estou com o segundo DIU, que coloquei após o terceiro parto. Mas pretendo tirar assim que possível, pois não consigo mais ter confiança", finalizou ela, que é mãe de três crianças — de 7, 5 e 3 anos.
O DIU é seguro?
O ginecologista Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista, médico associado à FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), explica que DIU é um termo usado para o dispositivo intrauterino. "Existem diferentes tipos de DIU. O mais simples e antigo é o de cobre — é um dispositivo de barreira, que impede o contato do espermatozoide com o óvulo. O cobre, em contato com secreções do útero, produz uma substância que ajuda a eliminar o espermatozoide, aumentando sua eficácia", diz.
"A eficácia do DIU de cobre é considerada um pouco inferior à laqueadura", revela. "No entanto, por não ter uma proteção contra a presença de bactérias, há um risco maior de infecções. Então, sabemos que esse DIU tem um pouco mais de risco em relação aos outros", explica. "Já o DIU de cobre com prata, que é uma inovação, aumenta a proteção contra infecções, já que a prata é bactericida. E, por fim, temos diferentes DIU's hormonais e, nesses casos, a progesterona cria uma espécie de barreira dificultando a ascensão de bactérias para dentro do útero", continua.
Quais as chances de ele sair do lugar? Segundo o ginecologista, em relação dos DIU's de cobre e cobre com prata, a chance é de cerca de 1%. E, se isso acontecer, o dispositivo perde a função de anticoncepção. Já os hormonais, a chance é de 0,5% e, mesmo saindo do lugar, o DIU não perde totalmente a eficácia. "Em muitos casos, o DIU acaba saindo do lugar por conta da inserção não ideal. Existe todo um protocolo, mas o procedimento é feito às cegas, sem uma visão direta, então, existe a chance de não ser posicionado corretamente", esclarece.
"Quando inserido em posição baixa, inicia-se um processo com cólicas e sangramento e o dispositivo acaba sendo expelido pelo próprio organismo. Quando inserido com muita profundidade, há o risco de perfurar a parede do útero, que vai gradualmente empurrando o DIU, num processo que chamamos de migração, podendo ser transferido para dentro do abdômen e ficando preso. Nesse cenário, não há risco imediato para a paciente, mas, em algum momento, ele precisa ser removido. Não se trata de um evento comum, mas faz parte do risco de complicação", afirma.
Como saber que o dispositivo está seguro?
Alexandre Pupo explica que, o mais indicado é fazer uma ultrassonografia prévia. "É necessário, antes da colocação, fazer uma boa avaliação das dimensões e posições do útero. Cada DIU tem um processo diferente de inserção e os médicos precisam conhecer cada um deles. Após a colocação, é necessário repetir o ultrassom transvaginal para confirmar que o DIU ficou na posição adequada. Idealmente, um mês depois, repete-se o exame e, a partir daí, o acompanhamento varia. Eu recomendo um acompanhamento a cada seis meses, mas, muitos médicos, reavaliam anualmente, o que também não está errado", finaliza.