Quando eu passava pela porta do Recanto da Feijoada, o Francisco José da Silva, o boa praça, Chico, estava sempre sentado numa cadeira como se fosse cliente, e não o dono do boteco, no bairro da Jatiúca, há mais de 40 anos. “Minha filha, quanto tempo”, dizia quando me avistava. Num dia desses, perguntei como ele estava e me respondeu que “apareceu um câncer”. Disse isso na maior tranquilidade, no mesmo de tom de quem diz que está gripado. Isso foi em outubro de 2017. De lá para cá, lutou bravamente, mas perdeu a batalha na segunda-feira, dia 25. Deixou sua amada Tereza Marina, dois filhos, Alex e Adones, cinco netinhos e uma legião de fãs.
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O Recanto da Feijoada é uma das dicas preciosas do meu blog e da segunda edição do meu livro, Guia da Gastronomia Popular Alagoana. Em homenagem ao Chico, vou relembrar a história do empreendedorismo do ex-garçom do Bar das Ostras.

Recanto da Feijoada, também conhecida como Feijoada do Chico, uma tradição da gastronomia popular alagoana
Francisco José da Silva, o Chico, com muita ousadia, numa temporada de desemprego, arrendou uma antiga casa de palha – e nela instalou cinco mesas. Ao lado da sua amada Tereza Marina Leobino, cozinheira do restaurante Gogó da Ema, começou vida nova: Recanto da Feijoada.
Tereza fazia a feijoada e Chico, o único garçom, atendia os fregueses. “Não tinha emprego, então a saída era fazer o que gosto: atender as pessoas. Na época comecei com a cara e coragem, e a feijoada”. A receita não tem segredo, diz Tereza. Mas, “pra ficar supimpa, é feita de um dia pra outro”. O empreendedorismo foi o principal ingrediente do casal Chico e Tereza, que, somados à simpatia e ao condimento caseiro, transformaram a casinha de palha num estabelecimento sólido, endereço no qual moram e trabalham, oferecendo a simples e boa culinária regional.

No ano de 2017, o chef Andre Generoso cria o prato da Boa Lembrança Chico da Feijoada
Homenagem: “Chico da Feijoada” foi o prato da Boa Lembrança do Restaurante Divina Gula. A receita do chef André Generoso, celebra a amizade entre os dois. A afeição é de longas datas, desde quando André Generoso tinha seu boteco na Praia da Jatiúca, ao lado de Chico e sua feijoada. “Ele foi meu pai quando comecei a vida de botequeiro. Adoro a carne de sol de pernil que vem de Maribondo”, relembra Generoso.
Chico, por sua vez, ficou feliz com a homenagem. Aliás, não só ele, mas também dona Marinalva, dama da gastronomia do restaurante do Duda (vizinha do Recanto da Feijoada), que me disse: “Minha filha você soube que Chico foi homenageado? Achei lindo”.
E nosso Chico partiu, mas temos que agradecer por ele fazer tanta gente feliz no Recanto da Feijoada. Um abraço fraterno à família, e vida longa ao restaurante que nasceu da garra de um garçom e uma cozinheira.
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