Ciência

Ossadas de cemitério do período colonial de Pernambuco podem ser de africanos

O cemitério do período colonial, no Grande Recife, foi encontrado pela arqueóloga Cláudia Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco

JC Online | 02/01/19 - 16h42
Crânio com características de povos africanos seria de uma pessoa jovem, com menos de 20 anos | Sérgio Bernardo/JC Imagem

Esqueletos resgatados no cemitério do período colonialdescoberto em agosto de 2018 nas terras do antigo Engenho Jaguaribe, em Abreu e Lima, município do Grande Recife, possivelmente são de origem africana. Um dente em formato de ferradura, o crânio alongado para trás, o queixo retraído e o nariz largo são fortes indícios da ancestralidade biogeográfica, de acordo com o arqueólogo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Sérgio Monteiro.

O cemitério do período colonial foi localizado numa área de 16 metros quadrados próxima das ruínas da capela do engenho, dedicada a Santo Antônio. Junto das ossadas os pesquisadores encontraram pequenas contas que, de acordo com representantes de comunidades de matriz africana consultados por Sérgio Monteiro, estariam vinculadas a Omolu, Exu ou outros orixás. A provável ancestralidade africana não significa, necessariamente, que seriam escravos. “Poderiam ser africanos libertos”, pondera o arquiteto.

Três sepultamentos completos e vários ossos isolados exumados do cemitério passam por análises no Laboratório de Arqueologia Biológica e Forense (Labifor-UFPE), coordenado por Sérgio Monteiro. “Os estudos confirmarão a origem, o perfil biológico, se é homem ou mulher, a idade, alterações nos dentes, traumas de lesões antes da morte e se tinham doenças”, declara o arqueólogo. Ele pretende enviar amostras dos materiais para laboratórios internacionais e espera ter os primeiros resultados das pesquisas até o fim de 2019.

Um dos esqueletos completos era de uma criança, possivelmente uma menina, de três a cinco anos de idade. Outro tem características de uma pessoa jovem, abaixo dos 19 anos, com cerca de 1,70 metro de altura e braços fortes. “As vértebras com ranhuras de desenvolvimento e a cabeça da ulna e do rádio (ossos do antebraço) demonstram que era alguém em processo de crescimento”, declara Sérgio Monteiro. O terceiro esqueleto inteiro teve a idade estimada em 45 ou 50 anos.