O atleta de mountain bike e empresário Júlio Giani, 30, de Bragança Paulista (SP), viveu um susto, ao realizar o sonho de fazer os primeiros passeios de bicicleta com a filha, Maya, 1 ano e 6 meses. Ele se preparou, garantiu os equipamentos de segurança, garrafinhas de água e suprimentos, planejou o trajeto... Deu tudo certo e foi divertido para ambos!
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No entanto, mais tarde, o pai notou algo estranho no comportamento da menina e decidiu tirar a dúvida com a pediatra. Foi, então, que descobriu que Maya poderia ter tido um episódio chamado Síndrome do Bebê Sacudido (SBS), e resolveu alertar outros pais.
Acostumado a pedalar longas distâncias, ele contou, em entrevista exclusiva a CRESCER, que compartilhar os primeiros passeios de bicicleta com Maya sempre foi um momento pelo qual ele ansiava muito. “Desde antes de ela nascer, eu já imaginava colocá-la nesse mundo das bikes. Queria que ela sentisse o vento no rosto, que participasse do que eu vivo todos os dias”, diz ele.
Quando a menina fez seu primeiro ano, com os equipamentos certos, ele decidiu que era hora. Como um apaixonado por bicicleta, ele costuma acompanhar vários atletas de outros países e já tinha visto pais passeando com os pequenos dessa mesma forma – embora aqui, no Brasil, não seja tão frequente, segundo ele.
A bicicleta de Júlio é elétrica e o modelo não comporta cadeirinhas de transporte comuns. Então, ele optou por improvisar com um canguru bem firme, com um apoio que funciona como assento, para que a menina ficasse confortável. De capacete e óculos, Maya estaria protegida, bem junto ao corpo do pai. Eles partiram, então, rumo ao primeiro passeio, que foi uma delícia. “Ela amou. Ficava sorrindo, pedindo mais. Parecia se divertir tanto quanto eu”, diz o pai.
No entanto, quando resolveram repetir a dose. Na segunda saída, algo não saiu como esperado. “Durante o passeio ela estava ótima, rindo, curtindo... Mas, quando chegamos em casa, notei que estava diferente. Ficou irritada, chorona, sem paciência. Achei que fosse cansaço ou estímulo demais”, lembra o pai.
No dia seguinte, Maya já tinha uma consulta de rotina agendada. Júlio aproveitou e contou o episódio à pediatra. E foi aí que veio o alerta: a trepidação da bicicleta podia ter causado sintomas da chamada síndrome do bebê sacudido — uma condição que ocorre quando o cérebro da criança se movimenta dentro do crânio devido a impactos ou balanços bruscos. “A médica explicou que o cérebro ainda é muito sensível, e qualquer sacolejo mais intenso pode provocar pequenas lesões”, diz ele. “Foi um choque, porque eu jamais associaria um passeio de bike a algo assim”, acrescenta.
Felizmente, Maia se recuperou bem e não apresentou sequelas. Depois disso, Júlio repensou os passeios: esperou um tempo, estudou mais sobre segurança infantil e fez adaptações. “Hoje, a levo nas costas, numa posição ergonômica e segura. Ela continua adorando — e eu fico mais tranquilo”, afirma.
O vídeo que o pai postou nas redes sociais repercutiu bastante. Muitos pais agradeceram o alerta; outros confessaram que também não sabiam dos riscos. “Recebi várias mensagens de pais dizendo que fariam igual, porque não sabiam desse perigo. “Muita gente acha que é óbvio, mas o óbvio é relativo — o que é óbvio para um, não é para o outro”, afirma.
Mais do que um susto, a experiência virou um alerta sobre segurança e empatia. “Não é sobre deixar de viver momentos com os filhos, mas sobre fazer isso com consciência. A gente aprende o tempo todo como pai e como pessoa”, completa.
Assista ao vídeo compartilhado por Júlio abaixo (se não conseguir visualizar, clique aqui):
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“O bebê pequeno tem a cabeça maior que o corpo, com o pescoço mole, sem a musculatura bem desenvolvida. Devido aos movimentos bruscos, de extrema aceleração e desaceleração, podem ocorrer lesões cerebrais”, diz Márcia Sanae Kodaira, pediatra do Hospital Santa Catarina (SP). Isso pode acontecer mesmo quando não há a menor intenção dos cuidadores. Um dos exemplos é de quando o bebê engasga e, no desespero, os pais o sacodem para voltar a respirar normalmente. A maneira mais indicada para ajudar a criança a soltar o leite é virá-la de lado ou colocá-la de bruços sobre o antebraço, levemente inclinada para baixo. Nunca a balance com força.
As sequelas podem ser transitórias ou definitivas. Segundo a especialista, muitas crianças podem ter retardo de desenvolvimento neuropsicomotor, surdez e até lesões oftalmológicas sem que o diagnóstico seja relacionado às sacudidas bruscas. Em 30% dos casos, o bebê pode morrer.
Mas mantenha a calma e não confunda! A síndrome do bebê sacudido não tem nada a ver com as brincadeiras que você faz com o seu filho, com o embalar nos braços, num balancinho para bebês ou as chacoalhadas que o carrinho faz ao caminhar pelas ruas. O que pode levar à síndrome é o movimento brusco.
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