
Milton Braun, criador do Passaporte Gaúcho, morreu no último dia 24 aos 84 anos, deixando o legado saboroso em Maceió. Na foto ao lado de sua filha, Cris Braun
Pão macio, carne moída (bem temperada), salsicha, verduras, queijo parmesão ralado e maionese. Este era o passaporte predileto de seu Milton Braun, gaúcho da cidade de Bom Retiro Sul, que escolheu Maceió para viver e empreender ao lado de sua amada Laci. Ele foi o criador do sanduíche “Passaporte”, que mudou o hábito dos alagoanos e dos turistas há 43 anos. Ontem (24 de abril), num dia de domingo chuvoso, aos 84 anos, seu Milton cumpriu sua missão e partiu, deixando nossa Maceió mais saborosa.
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Infelizmente não conheci seu Milton, mas a sua filha Cris Braun, cantora e compositora, me apresentou a essa história e me ajudou a contar a trajetória de seus pais para o meu blog e para a segunda edição do Guia da Gastronomia Popular. E assim como eu, milhares de alagoanos se alimentaram e se deleitaram do Passaporte Gaúcho, que nunca sairá de moda. E não apenas nós, alagoanos, mas também os amigos turistas que tínhamos orgulho em levar para conhecer o saboroso passaporte que só tem em Maceió, farto e delicioso.

Sanduíche de carne moída, verduras, linguiça e maionese caseira do Passaporte Gaúcho era o predileto do seu Milton Braun.
São 43 anos de história contada pelos funcionários, o gerente (braço direito do seu Milton) Roni Andrade, a viúva Laci que passou o saber e o fazer das receitas dos passaportes, a filha Cris, e nós fãs, que só temos agradecer ao seu Milton por escolher Maceió para viver. Que o Gaúcho seja eterno.
Vamos recordar a história do Passaporte Alagoano que foi o campeão de acessos de junho de 2015 e alguns depoimentos dos leitores:

Passaporte misto de frango com salsicha e as famosas maioneses caseira
Tudo começou em 1973
Nos anos 70 a praia da Avenida era o “point” da juventude dourada – bronzeada, melhor dizendo – e das badaladas festas do Clube Fênix. Nesse cenário maceioense, em 1973, aterrissou num ponto da calçada da Avenida da Paz um trailer identificado Passaporte Gaúcho (o termo food truck não estava na moda). Iniciava seus trabalhos ao por do sol oferecendo três opções de sanduíches: minuano, passburger, passaporte de salsicha (depois recebeu carne moída com batata) – todos abraçados por um suave pão seda.
Depois de 43 anos de saboroso trabalho, o Passaporte Gaúcho continua em voga. Atualmente oferta 25 sabores, e – segundo as pesquisas da casa – o favorito é o de carne moída com batatas, salsicha e legumes. Mas há a turma apaixonada outras opções. Eu, por exemplo, sou fã de dois: passaporte de frango desfiado com ervilha, queijo; e o passburger com bife, presunto, queijo prato, tomate, alface, queijo ralado. Ambos servidos no tradicional pão seda e regados com muita maionese, uma receita caseira de dona Laci.

O casal Milton e Lani Braun escolheu Maceió para viver e empreender
Qual razão do sucesso?
Empreendedorismo, pioneirismo, qualidade e persistência. Milton e Laci chegaram em Maceió no ano de 1971 (trazendo, a tiracolo, a pequena Cris Braun) movidos pelo sonho de montar uma fabrica de embutidos. Frente às dificuldades de viabilizar o projeto original, Seu Milton, ex-açougueiro, teve a brilhante ideia de vender sanduíches num trailer, moda que já existia no Rio Grande do Sul.
No começo não foi fácil, a salsicha não era encontrada no mercado e tinha de ser importada de outras praças. Como a tradição alagoana era do sanduíche de carne moída com batata inglesa (nas festas de rua, como da Praça da Faculdade, a mistura era servida sobre uma rodela de pão francês) a inovação principal ficou por conta do acréscimo do embutido, sem contar com a afirmação do pão seda. A receita mantém-se como celebridade até hoje e durante essas décadas inspirou muitos outros mestres-sanduicheiros.

Paixão: passburger com bife, presunto, queijo prato, tomate, alface, queijo ralado
Do trailer na calçada da Avenida da Paz para a atual casa de sanduíches na Praça do Centenário, no bairro do Farol, o Passaporte Gaúcho é lugar sagrado dos amigos, da família, dos solitários, dos turistas – é nosso, patrimônio da culinária alagoana.
Depoimentos de leitores do blog:
Reinaldo Ciqueira:
22 de julho de 2015 às 13:08
Aos 12 anos de idade, proveniente do interior alagoano, vim morar com meu tio na capital, o saudoso Gerônimo da Adefal, tudo era novidade para aquele jovem matuto, inclusive o tal Passaporte do Gaúcho, que naquela época já estava instalado no canteiro da praça na Avenida Santa Rita. Recordo-me que comer o “Gaúcho” era sinal de bonança, uma vez que o parco dinheiro da família não permitia idas constantes ao famoso trailer. Depois de 28 anos ainda guardo na memória aquele ritual de comer o tal sanduíche, momentos que não significavam apenas pecados da gula, mas de dia de fartança.
Giuseppe Gomes:
22 de julho de 2015 às 13:22
Logo no início, ficamos – como sempre são os sertanejos – desconfiados da amabilidade de “seu” Milton, que nos oferecia aquele pão enorme, recheado de guloseimas. Fomos nos aproximando e tornei-me freguês assíduo do “Gaúcho”, sendo o meu preferido até hoje – quando vou à Maceió – o Passburger. Os molhos são realmente deliciosos e na época a gente falava – enquanto devorava o preferido – que seu Milton daria um prêmio a quem conseguisse comer sem se sujar. Ele apenas ria, por trás do balcãozinho do trailler. Parabéns à família gaúcha que com perseverança e bons serviços evoluiu, para nossa alegria!
Luiz Fernandes:
25 de julho de 2015 às 10:20
Sou cliente do passaporte do Gaúcho desde que me conheço por gente, tenho um tio que mora em São Paulo e todo ano que vem a Maceió tem que ir no Gaúcho para matar a saudade. Uma sugestão, o passaporte do Gaúcho já devia ter virado patrimônio imaterial ou culinário de Alagoas.
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